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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Os Puritanos

by William under Erroll Hulse

Em nossos dias, o termo Puritano é utilizado, em um sentido geral, para descrever aqueles que redescobriram as doutrinas bíblicas e as práticas dos Puritanos e procuram exemplificá-las na realidade do mundo contemporâneo. Embora não tenha seguido a prática Puritana de expor sistematicamente os livros da Bíblia, C. H. Spurgeon é reputado um Puritano nascido fora de tempo.

Os valores dos puritanos se tornam realidade no pastorado. O Puritanismo é uma realidade que se expressa na pregação e no cuidado pastoral realizados semanalmente. Muitos podem testemunhar a maravilhosa ajuda proporcionada pela redescoberta dos valores exemplificados pelos Puritanos. O encorajamento obtido é incalculável.
É quase impossível negar que os Puritanos (usando a palavra no sentido amplo e inclusivo) se mostraram mais fortes naquilo que os evangélicos de nossos dias são mais fracos. E os escritos dos Puritanos podem fornecer mais ajuda do que qualquer outro grupo de ensinadores cristãos, do passado e do presente, desde os dias dos apóstolos. Esta é uma afirmação categórica, mas existe base sólida para ela. Considere as características do cristianismo Puritano.

Eles eram homens de extraordinária capacidade intelectual, cujos hábitos mentais, fomentados pela elevada erudição, estavam unidos a zelo intenso para com Deus e a minuciosa familiaridade com o coração humano. Todas as obras dos Puritanos revelam esta fusão singular de dons e graça. A apreciação deles para com a soberana majestade de Deus era profunda, assim como o era a sua reverência em lidar com a Palavra de Deus. Eles entendiam os caminhos de Deus para com os homens, a glória de Cristo como Mediador e a obra do Espírito Santo no crente e na Igreja, de maneira tão rica e tão completa como ninguém mais os compreendeu desde a época deles. O conhecimento dos Puritanos não era apenas uma ortodoxia teórica. Eles procuravam “transformar em prática” (expressão deles mesmos) tudo o que Deus lhes ensinava. Sujeitavam sua consciência às Escrituras, disciplinando-se para encontrar uma justificação teológica, distinta de uma justificação apenas pragmática, para tudo o que faziam. Eles viam a família, a Igreja, o Estado, as artes e as ciências,o comércio e a indústria e o envolvimento das pessoas nestas diferentes circunstâncias como as diversas áreas nas quais o Senhor e Criador de todas as coisas poderia ser glorificado e servido.

Então, conhecendo a Deus, os Puritanos também conheciam o homem. Eles o viam como um ser essencialmente nobre, criado à imagem de Deus, para governar o mundo, mas que agora está embrutecido e corrompido pelo pecado. À luz da lei, da santidade e do senhorio de Deus, os Puritanos viam o pecado em seu caráter tríplice: a) transgressão e culpa; b) rebelião e usurpação; c) impureza, corrupção e incapacidade para o bem. Vendo essas coisas e conhecendo (conforme eles conheciam) os caminhos e os meios pelos quais o Espírito Santo traz os pecadores à fé e à nova vida em Cristo e leva os santos a se tornarem mais e mais semelhantes à imagem de seu Salvador, por decrescerem em direção à humildade e crescerem na dependência da graça, os Puritanos se tornaram pastores excelentes em seu tempo. Por isso, eles podem, mesmo depois de mortos, ainda falar conosco, para nos oferecer orientação e direção.

Nós, evangélicos, precisamos de ajuda. Enquanto os Puritanos exigiam ordem, disciplina, profundidade e inteireza, nosso temperamento é caracterizado por casualidade e impaciência inquietante. Temos um intenso desejo por novidades, coisas sensacionais e entretenimento. Temos perdido nosso prazer por estudo consistente, humilde auto-análise, meditação disciplinada e trabalho árduo e comum, em nossa vocação e nossas orações. Enquanto o Puritanismo tinha a Deus e a sua glória como o elemento que os unia, nossa maneira de pensar gira em torno de nós mesmos, como se fôssemos o centro do universo. A superficialidade de nosso biblicismo se torna aparente sempre que separamos as coisas que Deus uniu. Por conseguinte, nos preocupamos com o indivíduo, em vez de nos preocuparmos com a igreja; e nos preocupamos em falar, em vez de nos preocuparmos com a adoração. Ao evangelizarmos, pregamos o evangelho sem a Lei e a fé sem o arrependimento, enfatizando o dom da salvação e encobrindo o custo do discipulado. Não é de admirar que muitos dos que professam a conversão retornem à incredulidade.

Então, ao ensinarmos a respeito da vida cristã, nosso costume é apresentá-la como um caminho de sentimentos comoventes, em vez de a apresentarmos como um andar de fé operante, e um caminho de intervenções sobrenaturais, em vez de um caminho de santidade racional. E, ao lidarmos com a experiência cristã, nos demoramos muito em falar constantemente sobre alegria, felicidade, satisfação e descanso da alma, sem qualquer menção equilibrada sobre o descontentamento espiritual de Romanos 7, a batalha da fé, de Salmos 73, ou sobre as responsabilidades e disciplinas providenciais que constituem o quinhão de um filho de Deus. A alegria espontânea do extrovertido chega a ser equiparada com o viver cristão saudável, e os extrovertidos joviais de nossas igrejas se tornam complacentes na carnalidade, enquanto as almas piedosas de temperamento menos extrovertido são deixadas de lado como anormais, porque não podem demonstrar alegria e entusiasmo de conformidade com a maneira prescrita. Eles consultam seu pastor a respeito desse assunto, mas ele não lhes pode oferecer melhor remédio do que dizer-lhes que procurem um psicanalista! Na verdade, precisamos de ajuda, e os Puritanos nos podem dar esta ajuda.


Reconhecemos que não é o Puritanismo que encherá a terra. A verdade bíblica está destinada a encher a terra, como as águas cobrem o mar. Visto que o Puritanismo, no sentido popular e amplo, está muito próximo da verdade bíblica, não podemos falar de maneira tão pessimista a respeito de sua ruína. Spurgeon se referiu, em seus dias, àqueles que intentavam pintar mal as janelas da verdade e zombavam do Puritanismo. Mas virá o dia, afirmou Spurgeon, em que eles se envergonharão, ao contemplarem a luz do céu irrompendo uma vez mais. E isso tem acontecido!

A Pedra Removida


Sermão No. 863
pregado na manhã de Domingo de 28 de março de 1869
Por Charles Haddon Spurgeon.
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

“E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra da porta, e sentou-se sobre ela.” (Mateus 28:2)

Quando as santas mulheres de dirigiam ao sepulcro na penumbra da manhã, desejosas de embalsamar o corpo de Jesus, recordaram que havia um imensa pedra colocada na entrada da tumba que lhes impediria entrar, e se perguntavam entre elas:
Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?‖ (Marcos 16:3)
Essa pergunta encerra em si a fúnebre interrogação do universo inteiro: ―Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?‖ Existe uma imensa rocha colocada na trilha de felicidade do homem que bloqueia o caminho por completo. Quem, entre os valentes, tirará a barreira? A filosofia tentou essa tarefa, mas fracassou miseravelmente. A pedra da dúvida, da incerteza e a incredulidade, detiveram todo o progresso na subida à imortalidade. Quem poderá alçar essa terrível mola e sacar a vida e a imortalidade à luz?

Os seres humanos – uma geração trás outra – enterraram a seus semelhantes; o sepulcro que a tudo devora tragou a suas miríades de mortos. Quem poderia deter a matança diária, ou quem poderia dar uma esperança mais além da tumba?
Houve um sussurro sobre a ressurreição, mas os homens não podiam crer nela. Alguns sonharam em um estado futuro, e falaram dele em misteriosa poesia, como se só tratasse da imaginação e nada mais. Em escuridão e penumbra, com muitos temores e escassas conjecturas sobre a verdade, os homens seguiriam perguntando-se: ―Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?‖

Os seres humanos tinham o confuso sentimento de que esse mundo não pode ser tudo, que tem que existir outra vida, que nem todas as criaturas inteligentes vieram para esse mundo para perecer; se esperava, de qualquer modo, que houvesse algo do outro lado do rio fatal. Não podia ser que ninguém regressasse do Averno1: tinha que haver, em verdade, uma via de saída do sepulcro. Por difícil que fosse a trilha, os homens esperavam que seguramente devera existir algum retorno da terra da sombra da morte; e a pergunta estava sempre importunando ao coração, se é que não aos lábios: ―Onde está o homem que vem?
Onde está o libertador predestinado?
Onde está, e quem é o que nos removerá a pedra?‖

1 Averno: em linguagem poética, lugar dos condenados pela justiça divina. Na antiguidade se lhe considerava a entrada dos infernos. (nota do original em espanhol)

As mulheres se enfrentavam com três dificuldades. A pedra em si mesma era gigantesca; estava selada com o selo da lei e era custodiada pelos representantes da autoridade. Diante da humanidade se apresentavam as mesmas três dificuldades. A morte mesma era uma pedra gigantesca que não podia ser removida por nenhuma força conhecida para os mortais: a morte era evidentemente enviada por Deus como um castigo pelas ofensas contra Sua lei. Portanto, como poderia ser apartada, como poderia ser removida? O selo vermelho da vingança de Deus estava posto à entrada do sepulcro. Como o selo poderia ser anulado? Quem poderia rodar a pedra?

Ademais, as forças do demônio e os poderes do inferno guardavam o sepulcro para impedir qualquer fuga; quem poderia enfrentar-se com elas e levar as almas dos mortos, arrancadas como uma presa de entre a boca do leão? Tratava-se de uma agonizante pergunta: ―Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? Viverão esses ossos secos? Nos serão restaurados nossos seres queridos que partiram?  As multidões de nossa raça que desceram ao Hades, poderão regressar alguma vez da terra da meia noite e confusão?‖
    
Assim que, todo o paganismo perguntava: ―Quem?‖, e o eco respondia: ―Quem?‖ Nenhuma resposta foi dada a sábios nem reis, mas as mulheres que amavam ao Salvador receberam a resposta. Chegaram ao sepulcro de Cristo, mas esse estava vazio, pois Jesus havia ressuscitado. Aqui está a resposta à pergunta do mundo: há outra vida; os corpos viverão outra vez, pois Jesus vive. Oh Raquel, tu que se lamentas e recusas ser consolada, ―Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o SENHOR, pois eles voltarão da terra do inimigo.‖ (Jeremias 31:16).

Não se afligem mais os que estão de luto em torno do sepulcro, como os que estão sem esperança; pois como Jesus Cristo ressuscitou, os mortos em Cristo ressuscitarão também. Enxuguem essas lágrimas, pois a tumba do crente já não é mais um lugar para lamentações, mas sim a passagem à imortalidade; não é mais que um armário no que o espírito pendurará suas roupas, cansado depois de sua viagem terrena, para vesti-las de novo em uma manhã mais resplandecente, quando serão brancas e formosas como nenhum lavador teria podido branquear.

Essa manhã, tenho o propósito de falar um pouco em relação à ressurreição de nosso exaltado Senhor Jesus; e para que o tema seja de maior interesse para vocês, antes que nada irei pedir a essa pedra que foi removida, que pregue a vocês; e logo, lhes convidarei a que ouçam a homilia do anjo pronunciada desde seu púlpito de pedra.

I. Primeiro, DEIXEMOS QUE A PEDRA PREGUE. Não é algo incomum na Escritura pedras que receberam a ordem de falar. Imensas pedras foram removidas como testemunhas contra o povo; as pedras e as vigas que sobressaem de uma parede foram chamadas a testificar contra o pecado. Chamarei a essa pedra como testemunho em favor das valiosas verdades das que era um símbolo. A corrente de nosso pensamento se divide em seis torrentes.

1. Primeiro, a pedra rodada deve ser considerada, de maneira muito evidente, como a porta do sepulcro retirada. A morada da morte estava firmemente assegurada por uma gigantesca pedra; o anjo a retirou, e o Cristo vivente saiu. A imensa porta, vocês observarão, foi removida do sepulcro. Não foi meramente aberta, mas desencaixada, arrastada a um lado, removida, e a partir de então, a antiga prisão da morte ficou desprovida de uma porta. Os santos entram, mas não ficam presos. Ficam ali como em uma caverna aberta, porem não há nada que lhes impeça sair dela a seu devido tempo.

Como Sansão, quando dormiu em Gaza e foi rodeado pelos inimigos, se levantou de manhã e carregou sobre seus ombros as portas de Gaza – pilares, ferrolhos e tudo – e levou tudo, e deixou aberta e exposta a praça forte dos filisteus, assim nosso Senhor fez com o sepulcro, pois, tendo dormido nele três dias com suas noites, conforme o decreto divino, ressuscitou na grandeza de Seu poder, e arrancou as portas de ferro do sepulcro, arrancando cada uma de suas vigas de seu lugar.
A remoção da pedra opressora era o tipo externo que sinalava que o Senhor havia arrancado as portas do sepulcro: pilares, ferrolhos e todo; e que havia exposto essa velha fortaleza da morte e do inferno, deixando-a como uma cidade tomada por assalto e, a partir desse momento, desprovida de poder.

Lembrem que nosso Senhor foi depositado no sepulcro como um refém. “morreu por nossos pecados.‖ Lhe foram imputados como uma dívida. Ele saldou no madeiro a dívida que tínhamos pendente para com Deus; sofreu até o limite e de maneira substitutiva o que correspondia a nosso sofrimento, e logo foi confinado na tumba, como um refém, até que Sua obra fosse plenamente aceita. Essa aceitação seria notificada a Sua saída do vil cativeiro; e essa saída se converteria em nossa justificação: ―Foi ressuscitado para nossa justificação.‖ Se Ele não tivesse pagado a totalidade da dívida, teria tido que permanecer no sepulcro. Se Jesus não tivesse feito uma expiação eficaz, total e final, teria tido que continuar sendo um cativo. Porem, tinha feito tudo. O ―Está consumado,‖ que brotou de Seus próprios lábios, foi estabelecido pelo veredito do SENHOR e Jesus saiu livre.

Observem-No quando ressuscita: não escapa da prisão como um criminoso que escapa da justiça; mas sim sai com tranquilidade como alguém que cumpriu sua sentença em prisão; ressuscitou, é verdade, por Seu próprio poder, mas não deixou a tumba sem uma permissão sagrada: o oficial celeste da corte do céu é delegado para abrir-lhe a porta, removendo a pedra, e Jesus Cristo, completamente justificado, ressuscita, para demonstrar que todo Seu povo é completamente justificado Nele, e a obra de salvação é perfeita para sempre. A pedra é removida da porta do sepulcro, como para mostrar que Jesus fez tão eficazmente a obra, que nada pode nos reter no sepulcro outra vez. O sepulcro mudou seu caráter; foi completamente aniquilado, e eliminado como cárcere, de tal forma que a morte, para os santos, já não é mais um castigo pelo pecado, mas sim uma entrada para o descanso.

Vamos, irmãos, nos alegremos por isso. Na tumba vazia de Cristo vemos que o pecado foi removido para sempre: vemos, portanto, que a morte foi destruída eficientemente. Nossos pecados eram a grande pedra que fechava a boca do sepulcro, e nos retinham cativos na morte, na escuridão e na desesperação. Nossos pecados são agora tirados para sempre, e a morte já não é mais um lúgubre e funesto calabouço, a ante-sala do inferno, mas sim é agora uma perfumada alcova, um gabinete, o vestíbulo do céu. Pois, tão certamente como Jesus ressuscitou, Seu povo tem que abandonar os mortos; não existe nada que impeça a ressurreição dos santos. A pedra que podia nos reter em prisão foi removida. Quem poderia prender-nos quando a própria porta desapareceu? Quem poderia nos confinar quando toda a barricada foi suprimida? –

“Quem reconstruirá a prisão do tirano?
O cetro que caiu de suas mãos está quebrado;                                                    A pedra foi removida, o Senhor ressuscitou;
Os indefesos logo serão libertados de suas ataduras.”

2. Em segundo lugar, considerem a pedra como um troféu erigido.
Como os homens de tempos antigos erigiam pedras memoriais, e como erigimos colunas nesses dias para comemorar grandes proezas, assim essa pedra foi removida, por assim dizer, diante dos olhos de nossa fé, e foi consagrada naquele dia como um memorial da vitória eterna de Cristo sobre os poderes da morte e do inferno. Pensarão que lhe haviam vencido; consideraram que o Crucificado estava derrotado. Sorriam espantosamente, em verdade, quando viram Seu corpo inerte envolto em um lençol e depositado em um sepulcro novo de José; porem, sua alegria foi passageira; suas jactâncias não foram senão breves, pois no momento designado, Aquele, que não devia ver a corrupção, ressuscitou e saiu do domínio da morte. Seu calcanhar foi ferido pela antiga serpente, porem na manhã da ressurreição, Ele esmagou a cabaça do dragão –

“Vãs as pedras, a vigilância, o selo,
Cristo destroçou as portas do inferno;
A morte em vão impede Sua ressurreição
Cristo abriu o Paraíso
Nosso Glorioso Rei vive de novo!
Onde está, oh morte, teu aguilhão?
Ele morreu uma vez para salvar nossas almas;
Onde, ó tumba jactanciosa, tua vitória?”

Amados irmãos em Cristo, ao olhar aquela pedra, com o anjo sentado sobre ela, se levanta diante de nós como um monumento à vitória de Cristo sobre a morte e o inferno, e é conveniente que recordemos que Sua vitória foi obtida em nosso favor, e seus frutos são todos nossos. Nós temos que combater com o pecado, mas Cristo o venceu. Nós somos tentados por Satanás: Cristo propiciou a derrota de Satanás. Pronto deixaremos esse corpo; a menos que o Senhor venha muito logo, podemos esperar que haveremos de encolhe nossos pés na cama como nossos pais, e irmos nos encontrar com nosso Deus; porem, a morte é vencida em nosso nome por Cristo, e não temos nenhuma razão para ter medo.

Ânimo, soldados cristãos, vocês estão enfrentando um inimigo vencido; relembrem que a vitória do Senhor é uma garantia para vocês. Se a Cabeça vence, os membros não serão derrotados. Não permitam que a aflição ofusque seus olhos; não deixem que os temores perturbem seus espíritos;
precisam vencer, pois Cristo venceu. Coloquem todos seus poderes para o conflito, e revigorem-se com a esperança da vitória. Se houvessem visto a seu Senhor derrotado, então poderiam esperar que vocês mesmos fossem soprados como palha no vento; porem, Ele lhes proporciona o poder com o que venceu. O Espírito Santo está em vocês; o próprio Jesus prometeu estar sempre com vocês, até o fim do mundo, e o Deus poderoso é seu refúgio. Vocês vencerão certamente por meio do sangue do Cordeiro. Coloquem essa pedra diante do olho de sua fé essa manhã, e digam: ―Aqui meu Senhor venceu ao inferno e à morte, e em Seu nome e por Sua força, eu serei coroado também, quando o ultimo inimigo seja destruído.‖

3. Para um terceiro uso dessa pedra, observem que aqui existe posto um cimento. Essa pedra removida do sepulcro, que tipifica e certifica a ressurreição de Jesus Cristo, é a pedra do cimento da fé cristã. O fato da ressurreição é a pedra do cimento do cristianismo. Se desmentirmos a ressurreição de nosso Senhor, nossa santa fé se converte em uma mera fábula; não existe nada no que a fé possa se apoiar, se Aquele que morreu no madeiro não ressuscitou também da tumba; então, ―vossa fé é vã‖: o apóstolo disse: ―ainda estais em vossos pecados‖ então ―também os que dormiram em Cristo pereceram.” Todas as grandiosas doutrinas de nossa divina revelação se desmoronam como as pedras de um arco quando se tira a pedra fundamental, e são derrotadas em uma comum ruína, pois toda nossa esperança gira sobre esse grandioso ato. Se Jesus ressuscitou, então esse Evangelho é o que professa ser; se não ressuscitou dos mortos, então tudo é engano e falácia.

Porem, irmãos, a ressurreição de Jesus dos mortos é um fato melhor estabelecido que qualquer outro fato da história. Abundaram as testemunhas: os havia de todas as classes e condições. Nenhuma delas jamais confessou que estava enganada ou equivocada. Estavam tão persuadidas desse fato, que a maioria delas sofreu a morte por testemunhá-lo. Não tinham nada que ganhar por dar esse testemunho; não ganharam maior poder, nem honra, ou riquezas; eram homens verazes e de mente simples, que testificavam do que tinham visto, e davam testemunho do que haviam contemplado.

A ressurreição é um feito melhor atestado que qualquer outro evento registrado na história, antiga ou moderna. Aqui está a confiança dos santos: nosso Senhor Jesus Cristo, que deu testemunho da boa profissão diante de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, ressuscitou outra vez dos mortos, e depois de quarenta dias ascendeu ao trono de Deus. Nós confiamos Nele; cremos Nele. Se não houvesse ressuscitado, seriamos os mais dignos de comiseração de todos os homens por termos sido Seus
seguidores. Se não houvesse ressuscitado, Seu sangue não haveria resultado ser eficaz para nós para tirar o pecado; porem como Ele ressuscitou, edificamos sobre essa verdade; toda nossa confiança se apóia nisso, e estamos persuadidos que –

“Ressuscitado dentre os mortos, Ele vai adiante;
Ele abre a porta eterna do céu;
Para dar a Seus santos uma mansão bem aventurada
Próxima de seu Redentor e seu Deus.”

Meus queridos ouvintes, estão baseando suas esperanças eternas na ressurreição de Jesus Cristo dos mortos? Confiam Nele, crendo que morreu e ressuscitou outra vez por vocês? Colocam toda sua dependência sobre o mérito de Seu sangue, certificado pelo fato de Sua ressurreição: Se é assim, possuem um fundamento de fato e de verdade, um fundamento contra o qual as portas do inferno não prevalecerão; porem, se vocês estão edificando sobre qualquer coisa que tivessem feito, ou sobre qualquer coisas que as mãos sacerdotais poderia fazer por vocês, estariam construindo sobre as areias que serão levadas pela corrente que tudo o devora e, tanto vocês como suas esperanças, descenderão ao poço do abismo, envoltos nas trevas do desespero. Oh, edifiquem sobre a pedra viva de Cristo Jesus! Oh, confiem Nele, que é a principal pedra de esquina, escolhida, preciosa! Isso é edificar de maneira segura, eterna e bem-aventurada.

4. Uma quarta voz da pedra é essa: aqui existe provisão de descanso. O anjo parece que nos ensina isso quando se sentou sobre a pedra. Quão sossegadamente foi efetuada toda a ressurreição! Quão silenciosamente, também! Que ausência de pompa e de ostentação! O anjo descendeu e tirou a pedra, Cristo ressuscitou, e então o anjo se sentou sobre a pedra. Sentou-se ali silenciosa e airosamente, com ar de desafio aos judeus e ao selo que tinham posto, e aos legionários romanos e suas lanças, à morte, à terra e ao inferno. Foi como se dissera: ―Venham, e voltem a colocar essa pedra, inimigos do Ressuscitado. Todos vocês, poderes infernais, que pretenderam prevalecer contra nosso Príncipe eterno, coloquem outra vez essa pedra, se atreveram ou se podem!‖ O anjo não disse isso com palavras, porem sua posição, sentado majestosa e tranquilamente sobre a pedra, queria dizer tudo isso e mais. A obra do Senhor está consumada, e consumada para sempre, e essa pedra, que não havia de ser usada mais, está porta desencaixada, que não haveria de ser empregada mais para tapar o ossário, é a figura do ―está consumado‖, consumado de tal maneira que não pode se reverter, consumado para durar eternamente. Aquele anjo que descansa sobre a pedra nos sussurra suavemente: ―Venham aqui, e descansem também.‖

Não há descanso mais pleno, certo e seguro para a alma, que no fato de que o Salvador, em quem confiamos, ressuscitou dos mortos.
Vocês hoje guardam luto por amigos que partiram? Oh, vem e sente-se sobre essa pedra, que lhe diz que eles ressuscitarão outra vez. Esperam morrer logo? O verme está na raiz do arbusto? Tem o vermelho da tuberculose em suas faces? Oh, vem e sente-se sobre essa pedra, e considera que a morte perdeu agora seu terror, pois Jesus ressuscitou do sepulcro.
Venham vocês também, vocês, pessoas frágeis e trêmulas, e desafiem à morte e o inferno. O anjo deixará livre seu assento para que se sentem diante do olhar do inimigo. Ainda que seja só uma humilde mulher, ou um homem quebrantado, pálido e abatido, oprimido pelos largos anos de persistente enfermidade, você bem pode desafiar todas as hostes do inferno, enquanto descansa sobre essa preciosa verdade: ―Não está aqui, mas sim ressuscitou: deixou os mortos, para não morrer mais.”

Enquanto refletia sobre essa passagem de meu discurso, me lembrei daquele tempo quando Jacó se dirigia a casa de Labão. Diz-se que chegou a um lugar onde havia um poço, e uma grande pedra estava posta sobre o abertura, e os rebanhos e os gados eram reunidos em torno a ele, mas não tinham água até que alguém chegasse e removia a grande pedra da boca do poço, e então davam água ao gado.

De igual maneira, o sepulcro de Jesus é como um grande poço que mana com o refrigério mais puro e divino, mas enquanto essa pedra não fora rodada, ninguém pertencente aos rebanhos redimidos com sangue podia tomar águas ali; mas agora, cada dia de domingo, o primeiro da semana, nos reunimos em torno do sepulcro aberto de nosso Senhor, e extraímos águas vivas desse poço sagrado. Oh, vocês, abatidas ovelhas do rebanho, oh, vocês, que estão desfalecidas e a ponto de morrer, venham aqui; aqui existe um doce refrigério; Jesus Cristo ressuscitou: que seus consolos se vejam multiplicados –

“Cada nota ressoa com poderes:
O pecado é vencido, cativo é o inferno;
Onde está o que foi o rei temido do inferno?
Onde está, oh morte, teu aguilhão mortal?
Aleluia

5. Em quinto lugar, a pedra é um limite estabelecido. Não o vêem? Contemple-o então, ali está, e o anjo está sobre ele. O que vêem daquele lado? Os guardas estão aterrorizados, rígidos de medo, e estão como mortos. Desse lado, o que vêem? As tímidas e trêmulas mulheres, as quais o anjo fala com doçura: ―Vós não temais; porque eu sei que buscam a Jesus.‖

Podem ver, então, que essa pedra se converteu na fronteira entre os vivos e os mortos, entre os buscadores e os aborrecedores, entre os amigos e os inimigos de Cristo. Para Seus inimigos, Sua ressurreição é ―Pedra de tropeço, e rocha que faz cair‖: como outrora, na Colina de Marte2, quando os sábios escutaram sobre a ressurreição, zombaram. Porem para Seu próprio povo, a ressurreição é a pedra angular. A ressurreição de nosso Senhor é nosso triunfo e deleite. A ressurreição atua de maneira muito parecida com a coluna de fogo que o SENHOR colocou entre Israel e Egito: era trevas para Egito, mas dava luz a Israel. Tudo estava escuro em meio das hostes do Egito, mas tudo era brilho e consolo entre as tribos de Israel.

2 Colina de Marte: Colinja localizada em Atenas a noroeste e abaixo da Acrópole, conhecida como Areópago, onde se reuniaam os concílios e o tribunal. Paulo pregou ali uma mensagem registrada em Atos 17 (nota do original em espanhol)

Assim, a ressurreição é uma doutrina cheia de horror para os que não conhecem a Cristo, e não confiam Nele. Quem eles têm que ganhar com a ressurreição? Felizes eram os que podiam dormir na aniquilação eterna. Que ganharam com a ressurreição de Cristo? Virá Aquele que depreciaram? Vive Aquele a quem odiaram e aborreceram?

Ordenará-lhes que se levantem e terão que se encontrar com Ele como um Juiz sentado no trono? O simples pensamento disso basta para ferir os lombos dos reis hoje; mas, quão será o caso quando o som da trombeta sobressalte e levante de seus leitos do pó a todos os filhos de Adão! Oh, os horrores dessa tremenda manhã, quando cada pecador se levante, e o Salvador ressuscitado venha nas nuvens do céu, e todos os santos anjos com Ele! Em verdade, não há senão consternação para os que estão do lado do mal dessa pedra da ressurreição. Porem, quão grande é o gozo que a ressurreição traz aos que estão no lado do bem dessa pedra! Como esperam Sua aparição com um êxtase crescente a cada dia! Como edificam sobre a doce verdade de que ressuscitarão e verão com esses olhos a seu Salvador!

Eu queria que se perguntassem, essa manhã, de que lado estão dessa pedra fronteiriça agora. Possuem vida em Cristo? Ressuscitam com Cristo? Confiam unicamente Naquele que ressuscitou dos mortos? Se for assim, não tenham temor: o anjo lhes consola, e Jesus lhes dá ânimos; porem, oh, se não possuem vida em Cristo, se estão mortos enquanto vivem, o mesmo pensamento de que Jesus ressuscitou há de sobrecarregá-los de medo, e fará vocês tremerem, pois bem haveriam em tremer diante daquilo que lhes espera.

6. Em sexto lugar, eu concebo que essa pedra pode ser usada, e muito adequadamente, como prefiguração de ruína. Nosso Senhor veio a esse mundo para destruir todas as obras do demônio. Contemplem diante de vocês as obras do demônio, elaboradas como um cruel e horrível castelo sólido e terrível, coberto de musgo dos séculos, colossal, estupendo, cimentado com o sangue de homens, amuralhado com a maldade e a astúcia, rodeado de profundos fossos, e guarnecido com demônios. Uma estrutura o suficientemente terrível para causar desesperação aos que a rodeiam para contar suas torres e observar seus baluartes. No cumprimento do tempo, nosso Paladino veio ao mundo para destruir as obras do demônio. Durante Sua vida soou o alarme no grande castelo, e tirou uma pedra daqui e outra dali, pois os enfermos foram sarados, os mortos foram ressuscitados, e o Evangelho foi pregado aos pobres.

Porem, na manhã da ressurreição, a gigantesca fortaleza tremeu de cima abaixo; enormes rachaduras sulcavam suas paredes; e todos seus baluartes trambaleavam. Alguém mais forte que o Senhor dessa cidadela havia entrado evidentemente, e estava começando a destruir, e destruir, e destruir, desde o pináculo até os sótãos. Uma pedra gigantesca da que o prédio dependia substancialmente, uma pedra angular que tecia toda a estrutura, foi alçada corporalmente de seu leito e lançada em terra. Jesus arrancou a gigantesca pedra de granito da morte de sua posição, e assim deu um sinal seguro de que todas as demais incorreriam na mesma sorte. Quando essa pedra foi removida do sepulcro de Jesus, foi uma profecia de que cada pedra do edifício de Satanás viria ao chão, e nem uma só de todas as pedras que os poderes das trevas haviam empilhado descansaria sobre outra pedra, desde os dias de sua primeira apostasia até o fim.

Irmãos, essa pedra removida da porta do sepulcro me dá uma gloriosa esperança. O mal é ainda poderoso, mas o mal será demolido. A perversidade espiritual reina nos lugares altos; a multidão clama ainda atrás do mal; as nações estão imersas ainda em densa escuridão; muitos adoram a mulher de Babilônia vestida de escarlate, outros se inclinam diante da meia lua de Maomé, e milhões se prostram diante de blocos de madeira e pedra; os lugares escuros e as habitações da terra estão ainda cheios de crueldade; porem, Cristo provocou tal abalo ao conjunto inteiro do mal que, podem estar seguros disso, cada pedra cairá com certeza. Só temos que continuar trabalhando, usando o aríete do Evangelho, guardando cada um de nossos seu lugar, e como os exércitos ao redor de Jericó, temos que soar ainda a trombeta, e virá o dia em que todo mal, toda superstição colossal, serão abatidos e nivelados ao solo, e se cumprirá a profecia:

Ao revés, ao revés, ao revés porei aquela coroa, e ela não mais será, até que venha aquele a quem pertence de direito; a ele a darei (Ezequiel 21:27)‖

 Essa pedra separada sobre a que se senta o anjo, é o prognóstico seguro da condenação vindoura de tudo que é vil e ruim. Alegrem-se vocês, filhos de Deus, pois a queda da Babilônia se aproxima. Cantem, oh céus, e alegra-se, o terra, pois nenhum mal será passado por alto. Em verdade lhes digo que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada.
Assim a pedra pregou para nós. Faremos uma momentânea pausa e ouviremos o que o anjo tem a nos dizer.

II. O ANJO PREGOU de duas maneiras: pregou em símbolos, e pregou em palavras.
Pregar em símbolos é muito popular em certos grupos em nossos dias. O evangelho deve ser visto pelo olho, e as pessoas devem aprender em diversas estações por meio da mudança de cores, tal como o azul, e o verde, o violeta, mostrados nas vestimentas dos sacerdotes e sobre o altar, e por meio de cintos e candelabros, por pendões, por jarras, e conchas cheias de água; as pessoas devem ser, inclusive, ensinadas e guiadas pelo nariz, pelo que é regalada com fumaça e incenso; e é atraída por meio dos ouvidos, já que devem escutar as odiosas entoações dos refinados cânticos.

Agora, observem que o anjo era um pregador simbólico, com seu semblante de relâmpago e suas vestes de neve; porem, por favor, notem para quem estavam reservados os símbolos. Ele não disse nem uma só palavra aos guardas: nem uma palavra. Ele lhes deu um evangelho simbólico, quer dizer, os olhou, e seu olhar era um raio; ele se revelou a eles em suas roupas brancas como a neve, e nada mais. Observem como estremeciam e tremiam! Esse é o evangelho de símbolos; e onde quer que chega, condena. Não pode fazer outra coisa. Vamos, a antiga lei mosaica de símbolos, onde terminou? Quão poucos alcançaram jamais sua significação íntima! A grande massa de Israel caiu na idolatria, e o sistema simbólico se voltou algo morto para eles.

Vocês que se deleitam em símbolos, vocês que pensam que é cristão converte a todo o ano em um tipo de farsa prática sobre a vida de Cristo, vocês que pensam que todo o cristianismo há de ser ensinado mediante dramas, como aqueles que os homens atuam nos teatros e nos espetáculos de marionetes, sigam seu caminho, pois não encontrarão nenhum céu nesse caminho, nenhum Cristo, nenhuma vida. Encontrar-se-ão com os
sacerdotes, e os formalistas, e os hipócritas, e nos densos bosques e entre as negras montanhas da destruição, tropeçarão até sua completa ruína.

A mensagem evangélica é ―Ouvi e viverás‖; ―Inclina teus ouvidos, e vem e Mim.‖ Essa é a mensagem doadora de vida: ―Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo‖. Porem, oh geração perversa, se buscam símbolos e sinais, serão enganados com o evangelho do demônio, e cairão presas do destruidor.
Agora escutemos o sermão do anjo em palavras. Unicamente assim o verdadeiro Evangelho é pregado. Cristo é a Palavra, e o Evangelho é um evangelho de palavras e pensamentos. Não se dirige ao olho; se dirige ao ouvido, ao intelecto e ao coração. É algo espiritual, e só pode ser captado por aqueles cujos espíritos são despertados para compreenderem uma verdade espiritual.

O primeiro que o anjo disse foi: ―Não vos assusteis‖ Oh, esse é o próprio espírito do Evangelho de nosso Senhor ressuscitado: ―Não temais.‖ Vocês, que querem ser salvos, vocês, que querem seguir a Cristo, não devem temer. Tremeu a terra? Vocês, não tremam: Deus pode preservá-los ainda que a terra arda com fogo. O anjo desceu em terrores? Não temais: não há terrores no céu para o filho de Deus que se aproxima à cruz de Jesus, e confia sua alma Àquele que ali sangrou.

Temerosas mulheres, acaso a escuridão é o que as alarma? Não temais: Deus enxerga no escuro e as ama lá, e não existe nada na escuridão ou na luz que esteja mais além de Seu controle. Têm medo de ir a uma tumba? O sepulcro as alarma? Não temais: vocês não podem morrer. Posto que Cristo ressuscitou, ainda que houvessem estado mortas, viverão. Oh, o consolo do Evangelho! Permitam-me dizer-lhes que não há nada na Bíblia que um homem que coloca sua confiança em Jesus temer. Eu disse que não existe nada na Bíblia? Digo que não existe nada no céu, nada na terra, e nada no inferno, que conduza a fazer temer aos que confiam em Jesus. ―Não vos assusteis‖. Não devem temer o passado, pois lhes é perdoado; não temerão o presente, pois está devidamente providenciado; o futuro também está assegurado pelo poder vivente de Jesus.

―Porque que vivo‖ –Ele diz – ―vós também vivereis.‖ Temer! Vamos, isso teria sido apropriado quando Cristo estava morto, mas agora que vive, não resta espaço para isso. Temes a seus pecados? Todos seus pecados foram apagados, pois Cristo não teria ressuscitado se não o tivesse quitado todos. Qual é seu medo? Se o anjo o ordena: ―Não se assuste‖ porque haveria de temer? Se cada ferida do Salvador ressuscitado, e cada ato de seu Senhor reinante o consolam, por que desfalece ainda? Duvidar, temer e tremer agora que Jesus ressuscitou, é algo inconsistente em qualquer crente. Jesus pode socorrer-lhe em todas suas tentações; vendo que Ele vive para sempre para intercedem por você, Ele pode também salvar-lhe perpetuamente: portanto, não se assuste.

Notem as palavras que seguem: ―Não tenham medo, pois eu sei que .. (Mateus 28:5) Que? Um anjo conhece os corações das mulheres? O anjo conhecia quais eram as preocupações de Madalena? Por acaso os espíritos lêem nossos espíritos? Está bem. Porem, oh, é melhor lembrar que nosso Pai celestial conhece nosso coração. Não temam, pois Deus sabe o que há em seu coração. Nunca confessou sua ansiedade sobre sua alma, pois é muito tímido para isso; nem sequer chegou tão longe para atrever-se a dizer que espera amar a Jesus; porem, Deus conhece seus desejos.

Pobre coração, você sente como se não pudesse confiar, como se não pudesse fazer nada que seja bom; porem, ao menos o deseja, ao menos o busca. Tudo isso Deus o sabe; com prazer espia seus desejos. Por acaso isso não lhe consola: esse fato grandioso do conhecimento de Deus? Eu não poderia ler o que existe em seu espírito e, talvez, nem você mesmo poderia dizer-me o que existe ai. Se fosse tentado, dir-se-ia depois de tê-lo feito: ―bem, não lhe disse exatamente o que sentia, perdi o consolo que pude ter recebido, pois não pude explicar meu caso.‖

Porem, existe Alguém que trata contigo, e sabe exatamente onde radica sua dificuldade, e qual é a causa de sua presente aflição. ―Não tenha medo‖, pois seu Pai celestial conhece sua dificuldade. Fique tranquilo, pobre paciente, pois o cirurgião sabe onde está a ferida, e o que o está afetando. Silêncio, meu filho, fique quieto apoiado sobre o peito do grandioso Pai, pois Ele sabe tudo; e, acaso isso não deveria lhe contentar, já que Seu cuidado é tão infinito como Seus conhecimentos?

Logo, o anjo seguiu dizendo: ―Não tenham medo, pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado;‖ Existia espaço aqui para o consolo. Estavam buscando a Jesus, ainda que o mundo havia lhe crucificado. Ainda que muitos tivessem lhe deixado de lado e o abandonado, as mulheres estavam se apegando a Ele com amorosa lealdade.

Agora, queria saber se existe alguém aqui que poderia dizer: ―ainda que sou indigno de ser um seguidor de Cristo, com frequência penso que Ele me rejeitaria, existe algo do que estou certo: não teria medo do temor do homem por Sua causa. Meus pecados me fazem temer, porem nenhum homem poderia me fazer temer. Eu estaria a Seu lado ainda que todo o mundo estivesse contra Dele. Consideraria minha maior honra que o Crucificado pelo mundo fosse o Adorado de meu coração. Não importa que todo o mundo o lance fora, se Ele me recebera, ainda que sou um pobre verme indigno, jamais estaria envergonhado de reconhecer Seu nome bendito e cheio de graça.‖ Ah, então, não tenha medo, pois se é assim como sente a respeito de Cristo, Ele te reconhecerá no ultimo grande dia. Se está disposto a reconhecê-lo agora, ―não tenha medo‖.

Eu estou seguro de que às vezes sinto, quando olho a meu próprio coração, como se não tivesse parte nem porção no assunto, e como se não pudera reclamar interesse algum no Amado, em absoluto; porem, então, sei efetivamente isso: que não me envergonho de ser exposto a vergonha por Ele; e se fosse acusado de ser um fanático e um entusiasta de Sua causa, consideraria a mais elevada honra reconhecer-me culpado de uma imputação tão bem aventurada por Sua amada causa. Se esse fora, em verdade, a linguagem de nossos corações, podemos recobrar ânimo.

Não tenham medo, pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado
Logo acrescenta: ―Ele não está aqui, porque já ressuscitou‖ (Mateus 28:6).

Essa é a instrução que o anjo dá. Depois de dar consolo, dá a instrução. A firme base e a razão de consolação que lhe proporciona, buscador, é que não buscas a um Cristo morto, e não pedes a um Salvador enterrado; Ele está realmente vivo. Ele é tão capaz de lhe aliviar hoje, se vai a seu aposento e o pedes em oração, como o era para ajudar ao pobre cego quando Ele estava na terra. Ele está tão disposto hoje a aceitar-lhe e receber-lhe, como o estava para abençoar o leproso, ou sara o paralítico. Acuda a Ele de imediato, pobre buscador; acusa a Ele com santa confiança, pois Ele não está aqui; estaria morto se estivesse: Ele ressuscitou, e vive e reina para responder sua petição.
O anjo pediu as santas mulheres que revisaram a tumba vazia, porem, quase imediatamente depois, lhes deu uma comissão para que a cumprissem em nome do Senhor. Agora, se algum buscador foi consolado pelo pensamento de que Cristo vive para salvar, que faça como o anjo disse, que vá e conte a outros as boas novas que você escutou. Esse é o grandioso meio de propagar nossa santa fé: que todos aqueles que se inteiraram dela, a ensinem. Nós não temos alguns ministros que foram apartados, para os quais está reservado o único direito de ensinar na igreja cristã; nós não cremos em um clero e um laicato.

Crentes, todos vocês são clero de Deus: todos vocês. Todos os que crêem em Cristo são o clero de Deus, e estão obrigados a servir-lhe de acordo com suas habilidades. No corpo existem muitos membros, porem cada membro tem seu oficio; e não existe nenhum membro no corpo de Cristo que deve de estar ocioso, porque, em verdade, não pode fazer o que a Cabeça pode fazer. O pé tem seu lugar, e a mão tem seu dever, assim como também a língua e o olho. Oh, vocês, que se inteiraram sobre Jesus, não guardem o bendito segredo para vocês mesmos.

Hoje, de uma maneira ou outra, lhes rogo que dêem a conhecer que Jesus ressuscitou. Passem o slogan a seu redor, como os antigos cristãos faziam. No primeiro dia da semana diziam uns aos outros:

O Senhor há ressuscitado verdadeiramente.‖

Se alguém lhes perguntasse o que queriam dizer com isso, seriam então capazes de dizer-lhes todo o Evangelho, pois essa é a essência do Evangelho, que Jesus Cristo morreu por nossos pecados, e ressuscitou outra vez no terceiro dia, de acordo as Escrituras; morreu como substituto nosso, criminosos, e ressuscitou como representante nosso, pecadores perdoados; morreu para que nossos pecados pudessem morrer, e vive de novo para que nossas almas possam viver. Invitem diligentemente a outros a virem a Jesus e a confiar Nele.

Digam-lhes que há vida para os mortos em um olhar a Jesus crucificado; digam-lhes que esse olhar é um assunto da alma, é uma confiança simples; digam-lhes que ninguém jamais confiou em Cristo porem foi rejeitado; digam-lhes o que sentiram como resultado de sua confiança em Jesus, e que sabemos, muitos discípulos poderiam ser agregados a Sua igreja, um Salvador ressuscitado será glorificado, e vocês serão consolados pelo que terão visto! Que o Senhor reparta Sua própria benção a essas débeis palavras, por Seu Filho Jesus Cristo. Amém.

Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon863.html

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público 

sábado, 7 de novembro de 2015

Lascívia


Os três estágios do engano do pecado


OS DECRETOS DE DEUS


Pregadores "ateus", povo idólatra


A Solidão de Deus


A SOLIDÃO DE DEUS II


Salvos antes de Sermos Chamados


Todo Homem é cego


Todo homem nasce Mau


A Meia-Noite da Adversidade


Vencendo a Carne


Jamais oculte Cristo em você


Barrabás


domingo, 1 de novembro de 2015

Quem Crê em Tudo, não Crê em Nada!



C. H. Spurgeon

"Sem fé é impossível agradar a Deus." Se agradamos a Deus, não é por nosso talento, e sim por nossa fé.

Atualmente necessitamos de muita fé na forma de crença fixa. Devemos saber mais do que antes; procuramos desenvolver, mas não como alguns, pois não pertencemos à escola liberal daqueles que creem pouco ou nada com convicção, porque desejam crer em tudo. Alguns não têm credo, ou se o possuem, o alteram tão frequentemente que não lhes serve para nada. Variadas são as crenças e as incredulidades de alguns, um aglomerado de conceitos filosóficos, teorias científicas, resíduos teológicos e invenções heréticas.

Quando tais "eruditos" se referem a nós, manifestam grande desprezo e demonstram crer que somos estúpidos por natureza. Pode ocorrer que alguém esteja se mirando num espelho quando julga estar contemplando o vizinho pela janela. Atrevo-me a dizer que não devemos temer ante a perspectiva de medir forças com os seguidores do "pensamento moderno". Seja assim ou não, a nós nos compete crer. Cremos que quando o nosso Deus fez uma revelação, sabia o que queria e pensava, e Se expressou da maneira melhor e mais sábia, em linguagem que pode ser entendida pelos que são sinceros e desejosos de aprender. Portanto cremos que não necessitamos de nova revelação, e que a idéia que há de surgir outra luz é praticamente incredulidade segundo a luz que já recebemos, visto que a luz da verdade é una. Embora a Bíblia tenha sido distorcida e posta à ridículo por mãos sacrílegas, continua sendo a revelação infalível de Deus. O aspecto mais importante da nossa religião é aceitar humildemente o que Ele tem revelado. Talvez a forma mais elevada possível de adoração é a submissão de todo o nosso ser mental e espiritual ante o pensamento revelado de Deus, o entendimento prostrado, ante aquela sagrada presença, cuja glória faz com que os anjos cubram os rostos. Aqueles que desejarem, adorem a ciência, a razão ou seus próprios raciocínios; contudo nosso deleite é prostrar-nos ante o Senhor Deus e dizer: "Este Deus é o nosso Deus para sempre; Ele será nosso guia até à morte.

Reúnam-se em torno do antigo estandarte. Lutem até à morte pelo evangelho imutável, pois é a sua vida. Que a cruz de Cristo esteja sempre em proeminência, e que todas as benditas verdades que a cercam sejam mantidas com todo o coração.

Precisamos ter fé — não só na forma de credo fixo — mas também na forma de constante dependência de Deus. Se me perguntasse qual a mais agradável disposição de ânimo dentro de toda a gama dos sentimentos humanos, não falaria do poder da oração, ou da abundância de revelação, ou de gozos arrebatados ou vitória sobre os espíritos maus; mencionaria como o mais estranho deleite do meu ser, o estado em que se experimenta uma consciente dependência de Deus. Frequentemente esta experiência tem vindo acompanhada de enormes dores físicas e profundas humilhações do espírito, mas é inexplicavelmente agradável cair passivamente nas mãos do amor e morrer absorvido na vida de Cristo. É um deleite chegar à compreensão de que você não sabe, mas seu Pai celestial sabe; você não pode falar, mas "temos um advogado"; quase não pode levantar a mão, porém Ele opera todas as coisas em você. A absoluta submissão das nossas almas ao Senhor, o pleno contentamento do coração ante a vontade e os caminhos de Deus, a segura confiança do espírito quanto à presença e ao poder do Senhor; isto é o mais próximo ao céu que pode ocorrer conosco. É melhor que o êxtase, pois qualquer um pode permanecer nessa experiência sem esforço ou reação.

"Ah, não ser nada, nada; apenas permanecer aos Seus pés." Não é uma sensação tão sublime como voar em asas de águia; quanto à doçura no entanto, ela é profunda, misteriosa, indescritível e insuperável. É uma bem-aventurança na qual se pode pensar, um gozo que nunca parece ser roubado; pois não resta dúvida de que um pobre e frágil filho de Deus tem direito indiscutível a depender do Pai, direito a não ser nada na presença dAquele que o sustém. Gratifica-me pregar nesse estado de ânimo, como se não fora pregar, mas esperar que o Espírito Santo fale por mim. Presidir dessa maneira as reuniões de oração e da igreja, e toda a espécie de atividades, redundará em sabedoria e gozo para nós. Geralmente cometemos nossos maiores erros nos assuntos mais fáceis, achando tudo tão simples que não pedimos a Deus que nos guie e julgando que nossa própria capacidade será suficiente. Todavia, as graves dificuldades, essas nós levamos a Deus. Bondosamente Ele dá aos jovens prudência e aos simples conhecimento e discrição por meio delas. A dependência de Deus é a fonte inesgotável da eficácia. Aquele verdadeiro santo de Deus, George Muller, me surpreende sempre, por ser uma pessoa que depende tão simples e puerilmente de Deus; mas, lamentavelmente, a maioria de nós se julga demasiadamente grande para que Deus nos use. Sabemos pregar tão bem que fazemos um sermão de qualquer coisa... e fracassamos. Cuidado, irmãos, pois se julgamos que podemos fazer algo por nós mesmos, tudo que obteremos de Deus será a oportunidade de prová-lo. Deste modo, Ele nos examinará, e nos permitirá ver nossa incapacidade. Certo alquimista, que servia ao papa Leão X, declarou que havia descoberto como transformar os metais vis em ouro. Esperava receber grande soma de dinheiro por seu invento, mas Leão não era tão bobo; deu-lhe tão somente uma enorme bolsa para que guardasse o ouro que fizesse. Nesta resposta havia tanto sabedoria como sarcasmo. Isto é precisamente o que Deus faz com os orgulhosos; permite-lhes ter a oportunidade de fazer o que se jactavam de poder fazer. Jamais soube de alguma moeda de ouro que tenha chegado a cair na bolsa de Leão; estou certo de que vocês jamais serão espiritualmente ricos pelo que podem fazer com as próprias forças. Despojem-se das suas próprias vestimentas, e então Deus poderá comprazer-Se em revestir-lhes de honra, mas nunca antes.

É essencial que demonstremos fé em forma de confiança em Deus. Seria grande calamidade que alguém afirmasse de vocês: "Tem um excelente caráter moral e dons notáveis, mas não confia em Deus." Necessidade importante é a fé. O apostolo recomenda: "Tomando sobretudo o escudo da fé." Pena é que alguns vão à luta deixando o escudo em casa. Terrível é pensar num sermão que tivesse todas as qualidades que um sermão precisa possuir e, no entanto, constatar que o pregador não confiasse no Espírito Santo para abençoá-lo de modo a converter almas. Tal mensagem seria vã. Nenhum sermão será o que deveria ser se lhe faltar a fé; equivale a dizer que um corpo está sadio quando a vida já se extinguiu. É admirável ver alguém humildemente consciente da sua própria fraqueza e ao mesmo tempo bastante confiante no poder divino para atuar por meio das suas limitações. Se intentamos fazer grandes coisas, não nos excederemos na tentativa; esperando notáveis feitos, não cairemos desenganados em nossas esperanças. Alguém interrogou a Nelson se não eram perigosos determinados movimentos de seus navios, e a resposta foi: "Pode ser perigoso, mas em assuntos navais nada há impossível ou improvável." Atrevo-me a asseverar que, no serviço de Deus, nada é impossível e nada é improvável. Empreendam grandes coisas em nome de Deus; arrisquem tudo, confiados em Sua promessa, e conforme a sua fé lhes será feito.

Oxalá tivéssemos mais coragem, mais ânimo, mais "garra". Intentemos grandes coisas, porque os que confiam no Senhor vencem acima de todas as esperanças. Este é o tipo de fé da qual necessitamos cada vez mais; confiar em Deus de tal maneira, que em Seu nome ponhamos a mão no arado. É ocioso passar o tempo fazendo planos e modificando-os, sem nada fazer; o melhor plano para executar a obra de Deus é realizá-la. Irmãos, se não creem em mais ninguém, confiem em Deus sem reservas. Creiam plenamente. Crer na Palavra de Deus é o mais razoável que temos a fazer; é seguir o caminho mais simples que devemos tomar; é a norma menos perigosa que podemos adotar, inclusive quanto ao cuidado de nós mesmos, pois Jesus declara: "Qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder sua vida por minha causa, a achará." Exponhamo-nos a tudo, confiados na fidelidade absoluta de Deus, e jamais seremos envergonhados ou confundidos.