Total de visualizações de página

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Deus, o Pai, agente de nossa salvação


De que maneira foi Deus, o Pai, o agente de nossa salvação? Minha resposta para essa pergunta é a seguinte: por duas maneiras, isto é, foi Deus, o Pai, que enviou o Filho para morrer, e foi o Pai que puniu Cristo por causa dos nossos pecados. Podemos examinar estas duas coisas em maiores detalhes.

1.       É claro, a partir de muitos versículos bíblicos, que o Pai enviou o Filho ao mundo. Por exemplo: "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, afim de recebermos a adoção de filhos." (Gálatas 4:4-5). O fato de enviar o Filho envolveu Deus, o Pai, em três coisas:
a)       houve o propósito original que sempre estivera em Sua mente (I Pedro 1:20);
b)      houve o Seu ato de dar ao Filho todas as habilidades que Ele necessitava, a fim de fazer a obra para a qual fora enviado (João 3:34-35)
c)       houve o Seu ato de prometer a Seu Filho toda a ajuda necessária quanto ao sucesso na obra (Atos 4: 10-11).

2.  É claro, a partir de muitos versículos bíblicos, que o Pai puniu Jesus Cristo por causa dos nossos pecados. Por exemplo: "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." (II Coríntios 5:21). Pode-se dizer que Cristo sofreu e morreu em nosso lugar. Sendo assim, não seria estranha a idéia de que Cristo deveria sofrer em lugar daqueles que também irão sofrer por causa dos seus próprios pecados?
Colocamos o assunto da seguinte maneira: Cristo sofreu... ...
... pelos pecados de todos os homens, ou... ...
... pelos pecados de alguns homens, ou... ...
... por alguns dos pecados de todos os homens.
Se a última afirmativa é verdadeira, então todos os homens ainda têm alguns pecados, e, portanto, ninguém pode ser redimido.

Se a primeira afirmativa é verdadeira, então porque não estão todos os homens livres do pecado? Você poderá dizer: "Por causa da incredulidade deles. "Mas eu pergunto: "A incredulidade é um pecado?" Se não é, por que todos os homens são punidos por causa dela? Se é um pecado, então deve estar incluída entre os pecados pelos quais Cristo morreu. Portanto, a primeira afirmativa não pode ser verdadeira!
Assim, é claro que a única possibilidade restante é que Cristo levou sobre Si todos os pecados de alguns homens, os eleitos, somente. Creio que este é o ensino da Bíblia.
(A Quarta Parte deste livro trata das passagens das Escrituras que empregam as palavras "mundo" e "todos").

Deus, o Filho, agente de nossa salvação

Devido ao fato de Deus, o Filho, haver voluntariamente concordado em fazer o que o Pai tinha planejado, podemos dizer que Ele também era um agente de nossa salvação. Jesus disse: "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra." (João 4:34). Há três maneiras pelas quais Cristo mostrou Sua prontidão para ser um agente:

1. Ele se dispôs a deixar de lado a glória de Sua natureza divina e fazer-Se homem. "E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas... ". (Hebreus 2: 14). Note que é afirmado que Ele fez isto não porque toda a raça humana era composta de carne e sangue, mas porque os filhos que Deus lhe dera eram humanos. (Hebreus 2: 13). Sua prontidão estava relacionada àqueles filhos, não a toda a raça humana.

2. Ele Se dispôs a dar-Se a Si mesmo como oferta. É verdade que Ele sofreu muitas coisas passivamente. Contudo, é verdade que Ele deu-Se a Si mesmo para aqueles sofrimentos, ativa e prontamente. Sem tal consentimento voluntário, os sofrimentos não teriam qualquer valor. Assim Ele pode verdadeiramente dizer: "Por isto o Pai me ama, porque dou minha vida... Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou". (João 10: 17-18).

3. Suas orações no presente em favor de Seus filhos mostram Sua prontidão em ser um agente em nossa salvação. Agora Cristo entrou no santuário. (Hebreus 9: 11-12). Sua obra ali é a intercessão (oração). Veja que Ele não ora pelo mundo (João 17:9), mas por aqueles pelos quais Ele morreu (Romanos 8:34). Ele pede que aqueles que Lhe foram dados possam ir para onde Ele está, para ver a Sua glória (João 17 :24). Portanto, é claro que Ele não poderia ter morri do por todos os homens!

 Deus, o Espírito, agente de nossa salvação

A Bíblia fala de três coisas nas quais o Espírito Santo opera com o Pai e o Filho para nos redimir. E estas atividades mostram que Ele também é um agente de nossa salvação.

1. O corpo humano que o Filho tomou, quando Se tornou homem, foi criado pelo Espírito Santo, em Maria. " ... achou-se ter concebido do Espírito Santo." (Mateus 1: 18).

 2. A Bíblia diz que quando o Filho Se ofereceu a Si mesmo como sacrifício, Ele o fez pelo Espírito. " ... que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus ... " (Hebreus 9: 14). Disso fica claro que o Espírito Santo foi, de certa forma, o instrumento que tornou possível o oferecimento.

3. Há declarações claras na Bíblia mostrando que a obra de levantar Cristo dentre os mortos, foi operação do Espírito Santo. “....mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito." (I Pedro 3:18).

Sem dúvida alguma, o Espírito Santo teve importantes coisas para fazer, unindo-Se ao Pai e ao Filho no propósito de nos redimir.


 Temos visto que cada pessoa da Trindade pode ser chamada de agente de nossa salvação. 

Mas é importante lembrar que, embora para o propósito de nosso estudo, tenhamos feito uma distinção quanto à operação de cada uma das pessoas divinas, não há, de fato, três agentes de nossa salvação, mas apenas um, pois Deus é Um. Portanto, podemos dizer que toda a Trindade é um agente para a nossa redenção.

  John Owen (1616-1683)


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Culto ou Show por Spurgeon


Os  homens parecem nos dizer: “Não há qualquer utilidade em seguirmos o velho método, arrebatando um aqui e outro ali da grande multidão. Queremos um método mais eficaz.  Esperar até que as pessoas sejam nascidas de novo e se tornem seguidores de Cristo é um processo demorado. Vamos abolir a separação que existe entre os regenerados e os não regenerados. Venham à igreja, todos vocês, convertidos ou não-convertidos. Vocês têm bons desejos e boas resoluções: isto é suficiente; não se preocupem com mais nada. É verdade que vocês não creem no evangelho, mas nós também não cremos nele. Se vocês creem em alguma coisa, venham. Se vocês não creem em nada, não se preocupem; a (duvida sincera) de vocês é muito melhor do que a fé”.

Talvez o leitor diga: “ Mas ninguém fala desta maneira”.

É provável que eles não usem esta linguagem, porem este é o verdadeiro significado do cristianismo de nossos  dias. Esta é a tendência de nossa época. Posso justificar a afirmação abrangente que acabei de fazer, utilizando a atitude de certos pastores que estão traindo astuciosamente nosso sagrado evangelho sob o pretexto de adaptá-lo a esta época progressista. O novo método consiste em incorporar o mundo à igreja e, deste modo, incluir grandes áreas em seus limites. Por meio de apresentações dramatizadas, os pastores fazem com que as casas de oração se assemelhem a  teatros: transformam o culto em shows musicais e os sermões, em arengas politicas ou ensaios filosóficos. Na verdade eles transformam o templo em teatro e os servos de Deus, em atores cujo objetivo é entreter os homens.

Não é verdade que o Dia do Senhor está se tornando, cada vez mais, um dia de recreação e de ociosidade; e a Casa do Senhor, um templo pagão cheio de ídolos ou um clube social onde existe mais entusiasmo por divertimento do que o zelo de Deus?  Ai de mim.

Os limites estão destruídos, e as paredes, arrasadas: e para muitas pessoas não existe igreja nenhuma, exceto aquela que é uma parte do mundo; e nenhum Deus, exceto aquela força desconhecida por meio da qual operam as forças da natureza.
Não me demorarei mais falando a respeito desta proposta tão deplorável.

Por: Charles Haddon Spurgeon  1834 – 1892.


sábado, 12 de novembro de 2016

Soldado em Combate

Um enfraquecimento habitual do mau desejo




Toda lascívia (desejo mau) é um hábito depravado, que continuamente inclina o coração para o mal. Em Gênesis 6:5, temos uma descrição de um coração no qual o pecado não foi mortificado: "era continuamente mau todo desígnio do seu coração". Em todo homem não convertido, há um coração que não foi mortificado e que está cheio de uma variedade de desejos ímpios, e cada um desses desejos está continuamente clamando por satisfação.

Concentrar-nos-emos apenas na mortificação de um desses desejos. Este desejo (pense no pecado que mais lhe atrai) é uma disposição forte, habitual, e profundamente enraizada, que inclina a vontade e os sentimentos para certo pecado em particular. Uma das grandes evidências de tal desejo mau é a tendência para se pensar nas diversas maneiras de gratificá-lo (veja Rom. 13:14). Este hábito pecaminoso (ou seja, a lascívia ou desejo mau) opera violentamente. "Fazem guerra contra a alma" (1 Ped. 2:11) e buscam tornar a pessoa um "prisioneiro da lei do pecado" (Rom. 7:23). Ora, a primeira coisa que a mortificação efetua é o enfraquecimento deste desejo mau, de modo que se torna cada vez menos violento nos seus esforços para provocar e seduzir a pecar (veja Tiago 1:14,15).

A esta altura, é preciso que se faça uma advertência. Todos os desejos maus têm o poder de seduzir e provocar alguém a pecar, porém parece que não têm, todos eles, o mesmo poder. Há pelo menos duas razões pelas quais alguns desejos maus parecem ser muito mais fortes do que outros:

a)      Um desejo mau pode ser mais forte do que outros na mesma pessoa e também mais forte do que o desejo numa outra pessoa. Há muitas maneiras pelas quais este poder e vida extras são dados, mas especialmente isso ocorre por meio da tentação.

b)      A ação violenta de alguns desejos maus é mais óbvia do que a de outros. Paulo sublinha uma diferença entre impureza e todos os outros pecados. "Fugi da impureza! Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo" (1 Cor. 6:18). Isso significa que pecados dessa natureza são mais facilmente discerníveis do que outros. Contudo, uma pessoa com um amor desordenado pelo mundo pode estar debaixo do poder desse desejo mau (embora esse poder não seja tão óbvio) tanto quanto outro homem que é cativado por um desejo mau ou por uma imoralidade sexual.

A primeira coisa, então, que a mortificação efetua é um enfraquecimento gradual dos atos violentos do desejo mau, de modo que seu poder para impelir, despertar, perturbar e deixar a alma perplexa seja diminuído. Isso é chamado de crucificar "a carne, com as suas paixões e concupiscências" (Gál. 5:24). Esta linguagem é muito gráfica, como se pode ver na seguinte ilustração:

Pense num homem pregado numa cruz. A princípio o homem se esforçará, lutará e clamará com grande intensidade e poder. Depois de certo tempo, à medida em que vai perdendo sangue, seus esforços se tornam fracos e seus gritos baixos e roucos. Da mesma maneira, quando um homem se propõe a cumprir seu dever de mortificar o pecado, há uma luta violenta; todavia à medida em que a força e a energia do desejo mau se esvai, seus esforços e gritos diminuem. A mortificação radical e inicial do pecado é descrita em Romanos, capítulo 6, e especialmente no versículo 6:

"Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem" - para qual propósito? ~ "para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos ao pecado como escravos".

Sem esta mortificação inicial e radical, realizada mediante união com Jesus Cristo, como descrita em Romanos, capítulo 6 (no próximo capítulo diremos mais sobre isto), uma pessoa não pode fazer progresso na mortificação de um único desejo mau. Uma pessoa pode dar pauladas no mau fruto de uma árvore má até ficar esgotada, porém enquanto a raiz permanecer forte e vigorosa nenhum grau de espancamento impedirá que a raiz produza mais frutos maus. Esta é a tolice que muitas pessoas praticam quando se dispõem com todo fervor a quebrar o poder de qualquer pecado em particular, sem realmente atacar e ferir a raiz do pecado (como acontece quando um cristão é unido a Jesus Cristo).

2. Uma contenda e uma luta constante contra o pecado

Quando o pecado é forte e vigoroso, a alma não consegue fazer grande progresso espiritual. A não ser que constante-mente lutemos contra o pecado, ele crescerá forte e vigorosa-mente, e nosso progresso espiritual será constantemente impedido. Há três coisas importantes no contendermos com o pecado. São as seguintes:

a)      Precisamos conhecer nosso inimigo e estar determinados a destruí-lo por todos os meios possíveis. Temos que lembrar que estamos num conflito acirrado e árduo, um conflito que tem sérias consequências. Precisamos estar alertas "conhecendo cada um a chaga do seu coração" (1 Reis 8:38). Precisamos guardar-nos de pensar levianamente nessa chaga. E de se lamentar que muitos tenham tão pouco conhecimento do grande inimigo que levam com eles nos seus corações. Isso os torna dispostos a se justificarem e a ficarem impacientes com qualquer reprovação ou admoestação, não se apercebendo de que estão correndo perigo (veja 2 Cron. 16:10).

b)      Precisamos nos esforçar para aprender os modos de agir de nosso inimigo, suas estratégias e os métodos de combate que ele emprega, as vantagens que ele procura obter e, até mesmo, detectar as ocasiões quando o seu ataque é mais bem sucedido. Quanto mais soubermos estas coisas, melhor estaremos preparados para lutar e contender com o pecado. Por exemplo: se observarmos que o inimigo repetidamente se aproveita de nós, e leva vantagem, em determinada situação, então procuraremos evitar essa situação. Precisamos buscar a sabedoria do Espírito contra as ciladas do pecado que habita em nós, para que possamos rapidamente discernir as sutilezas do nosso inimigo e frustrar seus planos maus contra nós.

c) Precisamos empenhar-nos diariamente para utilizar todos os meios que Deus ordenou para ferir e destruir o nosso inimigo (alguns desses serão mencionados mais adiante). Jamais devemos permitir que sejamos conduzidos a uma falsa segurança, pensando que nossos desejos pecaminosos já estão mortos devido estarem quietos. Em vez disso precisamos aplicar-lhes novos golpes e surras todos os dias (vejaCol. 3:5).

3. Sucesso na nossa oposição e no nosso conflito com o pecado que habita em nós. Quando há frequente sucesso contra qualquer desejo mau, isso é uma outra evidência da mortificação do pecado. Por sucesso queremos significar uma vitória sobre ele, acompanhada da intenção de dar sequência a essa vitória e atacar novamente. Por exemplo: quando o coração detecta as ações do pecado que habita em nós (procurando nos seduzir, nos atiçar, influenciar nossa imaginação, etc) ele imediatamente ataca o pecado, o expõe à lei de Deus e ao amor de Cristo; ele o condena e o executa.

Quando uma pessoa experimenta tal sucesso e sabe que a raiz do desejo mau foi, na verdade, enfraquecida, e que sua atividade foi contida de modo que não pode mais impedi-lo de cumprir o seu dever ou interromper sua paz como acontecia antes, então o pecado foi, em considerável medida, mortificado.

John Owen (1616-1683)


O Desejo Mau


Um enfraquecimento habitual do mau desejo

Toda lascívia (desejo mau) é um hábito depravado, que continuamente inclina o coração para o mal. Em Gênesis 6:5, temos uma descrição de um coração no qual o pecado não foi mortificado: "era continuamente mau todo desígnio do seu coração". Em todo homem não convertido, há um coração que não foi mortificado e que está cheio de uma variedade de desejos ímpios, e cada um desses desejos está continuamente clamando por satisfação.

Concentrar-nos-emos apenas na mortificação de um desses desejos. Este desejo (pense no pecado que mais lhe atrai) é uma disposição forte, habitual, e profundamente enraizada, que inclina a vontade e os sentimentos para certo pecado em particular. Uma das grandes evidências de tal desejo mau é a tendência para se pensar nas diversas maneiras de gratificá-lo (veja Rom. 13:14). Este hábito pecaminoso (ou seja, a lascívia ou desejo mau) opera violentamente. "Fazem guerra contra a alma" (1 Ped. 2:11) e buscam tornar a pessoa um "prisioneiro da lei do pecado" (Rom. 7:23). Ora, a primeira coisa que a mortificação efetua é o enfraquecimento deste desejo mau, de modo que se torna cada vez menos violento nos seus esforços para provocar e seduzir a pecar (veja Tiago 1:14,15).

A esta altura, é preciso que se faça uma advertência. Todos os desejos maus têm o poder de seduzir e provocar alguém a pecar, porém parece que não têm, todos eles, o mesmo poder. Há pelo menos duas razões pelas quais alguns desejos maus parecem ser muito mais fortes do que outros:

a)      Um desejo mau pode ser mais forte do que outros na mesma pessoa e também mais forte do que o desejo numa outra pessoa. Há muitas maneiras pelas quais este poder e vida extras são dados, mas especialmente isso ocorre por meio da tentação.

b)      A ação violenta de alguns desejos maus é mais óbvia do que a de outros. Paulo sublinha uma diferença entre impureza e todos os outros pecados. "Fugi da impureza! Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo" (1 Cor. 6:18). Isso significa que pecados dessa natureza são mais facilmente discerníveis do que outros. Contudo, uma pessoa com um amor desordenado pelo mundo pode estar debaixo do poder desse desejo mau (embora esse poder não seja tão óbvio) tanto quanto outro homem que é cativado por um desejo mau ou por uma imoralidade sexual.

A primeira coisa, então, que a mortificação efetua é um enfraquecimento gradual dos atos violentos do desejo mau, de modo que seu poder para impelir, despertar, perturbar e deixar a alma perplexa seja diminuído. Isso é chamado de crucificar "a carne, com as suas paixões e concupiscências" (Gál. 5:24). Esta linguagem é muito gráfica, como se pode ver na seguinte ilustração:

Pense num homem pregado numa cruz. A princípio o homem se esforçará, lutará e clamará com grande intensidade e poder. Depois de certo tempo, à medida em que vai perdendo sangue, seus esforços se tornam fracos e seus gritos baixos e roucos. Da mesma maneira, quando um homem se propõe a cumprir seu dever de mortificar o pecado, há uma luta violenta; todavia à medida em que a força e a energia do desejo mau se esvai, seus esforços e gritos diminuem. A mortificação radical e inicial do pecado é descrita em Romanos, capítulo 6, e especialmente no versículo 6:

"Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem" - para qual propósito? ~ "para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos ao pecado como escravos".

Sem esta mortificação inicial e radical, realizada mediante união com Jesus Cristo, como descrita em Romanos, capítulo 6 (no próximo capítulo diremos mais sobre isto), uma pessoa não pode fazer progresso na mortificação de um único desejo mau. Uma pessoa pode dar pauladas no mau fruto de uma árvore má até ficar esgotada, porém enquanto a raiz permanecer forte e vigorosa nenhum grau de espancamento impedirá que a raiz produza mais frutos maus. Esta é a tolice que muitas pessoas praticam quando se dispõem com todo fervor a quebrar o poder de qualquer pecado em particular, sem realmente atacar e ferir a raiz do pecado (como acontece quando um cristão é unido a Jesus Cristo).

2. Uma contenda e uma luta constante contra o pecado

Quando o pecado é forte e vigoroso, a alma não consegue fazer grande progresso espiritual. A não ser que constante-mente lutemos contra o pecado, ele crescerá forte e vigorosa-mente, e nosso progresso espiritual será constantemente impedido. Há três coisas importantes no contendermos com o pecado. São as seguintes:

a)      Precisamos conhecer nosso inimigo e estar determinados a destruí-lo por todos os meios possíveis. Temos que lembrar que estamos num conflito acirrado e árduo, um conflito que tem sérias consequências. Precisamos estar alertas "conhecendo cada um a chaga do seu coração" (1 Reis 8:38). Precisamos guardar-nos de pensar levianamente nessa chaga. E de se lamentar que muitos tenham tão pouco conhecimento do grande inimigo que levam com eles nos seus corações. Isso os torna dispostos a se justificarem e a ficarem impacientes com qualquer reprovação ou admoestação, não se apercebendo de que estão correndo perigo (veja 2 Cron. 16:10).

b)      Precisamos nos esforçar para aprender os modos de agir de nosso inimigo, suas estratégias e os métodos de combate que ele emprega, as vantagens que ele procura obter e, até mesmo, detectar as ocasiões quando o seu ataque é mais bem sucedido. Quanto mais soubermos estas coisas, melhor estaremos preparados para lutar e contender com o pecado. Por exemplo: se observarmos que o inimigo repetidamente se aproveita de nós, e leva vantagem, em determinada situação, então procuraremos evitar essa situação. Precisamos buscar a sabedoria do Espírito contra as ciladas do pecado que habita em nós, para que possamos rapidamente discernir as sutilezas do nosso inimigo e frustrar seus planos maus contra nós.

c) Precisamos empenhar-nos diariamente para utilizar todos os meios que Deus ordenou para ferir e destruir o nosso inimigo (alguns desses serão mencionados mais adiante). Jamais devemos permitir que sejamos conduzidos a uma falsa segurança, pensando que nossos desejos pecaminosos já estão mortos devido estarem quietos. Em vez disso precisamos aplicar-lhes novos golpes e surras todos os dias (vejaCol. 3:5).

3. Sucesso na nossa oposição e no nosso conflito com o pecado que habita em nós. Quando há frequente sucesso contra qualquer desejo mau, isso é uma outra evidência da mortificação do pecado. Por sucesso queremos significar uma vitória sobre ele, acompanhada da intenção de dar sequência a essa vitória e atacar novamente. Por exemplo: quando o coração detecta as ações do pecado que habita em nós (procurando nos seduzir, nos atiçar, influenciar nossa imaginação, etc) ele imediatamente ataca o pecado, o expõe à lei de Deus e ao amor de Cristo; ele o condena e o executa.

Quando uma pessoa experimenta tal sucesso e sabe que a raiz do desejo mau foi, na verdade, enfraquecida, e que sua atividade foi contida de modo que não pode mais impedi-lo de cumprir o seu dever ou interromper sua paz como acontecia antes, então o pecado foi, em considerável medida, mortificado.

John Owen (1616-1683)


sábado, 24 de setembro de 2016

Como ser Salvo



 “Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão”. (Lucas 13:24)

 Uma vez um homem fez ao nosso Senhor Jesus Cristo uma pergunta muito séria. Perguntou-lhe: “Senhor, apenas algumas pessoas serão salvas?”.

Não sabemos quem foi esse homem. Desconhecemos quais foram os motivos para que ele fizesse essa pergunta. Talvez quisesse satisfazer uma curiosidade qualquer, talvez quisesse apenas uma desculpa para não procurar por si mesmo a salvação. O Espírito Santo omitiu tudo isso de nós: o nome e o motivo do homem que procurava essas informações foram ambos vetados.

Mas a importância da resposta do Senhor a essa pergunta é muito clara. Jesus aproveitou a oportunidade para direcionar as mentes de todos que estavam ao Seu redor ao claro dever que cada um tinha. Ele sabia dos inúmeros questionamentos que a pergunta daquele homem havia provocado naqueles corações, Ele viu o que havia dentro deles. "Porfiai”, Ele disse, “por entrar pela porta estreita”. Quer tenham muitos salvos ou poucos, a sua ordem é clara: faça todo esforço para entrar. Agora é o tempo. O dia salvação é agora. Chegará o dia em que muitos procurarão entrar, mas já será tarde e não conseguirão. “Porfiai por entrar pela porta estreita”.

Quero chamar sua atenção para as sérias lições que essas palavras do Senhor Jesus desejam ensinar para nós, e as quais merecem nossa  total recordação nos dias de hoje. Tais palavras nos ensinam claramente a poderosa verdade de que é de nossa inteira responsabilidade a salvação de nossas almas, mostram o grande perigo em deixar de lado a necessidade de nos tornarmos verdadeiros cristãos, como muitos tem feito, infelizmente. Em ambos os pontos, o testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo no texto é bem claro. Ele, que é o Deus eterno e sempre proferiu sábias palavras, disse-nos a todos nós “Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão” (Lucas 13:24).

I. Eis aqui uma "descrição” para se chegar à salvação. Jesus a chama de “porta estreita”.

II. Eis aqui uma “ordem” clara. Jesus diz, “Porfiai por entrar".

III. Eis aqui uma "profecia” assustadora. Jesus diz “Muitos procurarão entrar, e não poderão”.

 Que o Espírito Santo floresça o tópico dessa mensagem nos corações de todos os ouvintes hoje presentes! Que todos os que me escutam, experimentem a verdadeira salvação, obedecendo a ordenança do Senhor a fim de serem salvos no grande dia da segunda vinda de Cristo!

I. Eis aqui uma "descrição” para se chegar à salvação. Jesus a chama de “porta estreita”.

Existe uma porta que nos leva ao perdão, à paz com Deus e ao céu. Quem entrar por essa porta será salvo.
Com grande certeza, essa porta nunca foi tão necessária quanto hoje.

O pecado é uma montanha enorme entre o homem e Deus. Como a escalará o homem?

O pecado é uma parede altíssima entre o homem e Deus. Como passará o homem por ela?

O pecado é um grande abismo entre o homem e Deus. Como poderá o homem atravessá-lo?

Deus está no céu, santo, puro, espiritual, imaculado, iluminado, sem sinal algum de escuridão. Ele não tolera o que é maligno e nem olhar para o pecado. O homem é como um verme, rastejando-se na terra por alguns anos – pecaminoso, corrupto, errado, defeituoso – uma criatura cuja imaginação é dominada pelo mal e cujo coração é, acima de tudo, enganoso e desesperadamente mau. Como poderão Deus e o homem ficarem juntos? Como poderá o homem aproximar-se de seu Criador sem sentir medo ou vergonha? Bendito seja Deus, pois há uma forma! Há um caminho. Há uma trajetória. Há uma porta. É a porta falada nas palavras de Cristo, “a porta estreita”.

Essa porta foi “feita para os pecadores pelo Senhor Jesus Cristo”. Por toda a eternidade, Ele prometeu que a faria. Na plenitude do tempo, Ele veio ao mundo e a criou, por meio de Sua própria morte reconciliadora na cruz. Através dessa morte, Ele deu uma penitência para o pecado humano, pagou a dívida humana para com Deus e enterrou todos os castigos do homem. Ele construiu uma porta à custa de Seus próprios sangue e corpo. Ele ergueu uma escada na terra, cujo topo alcançava o céu. Ele fez uma porta pela qual os piores dos pecadores pudessem entrar na santa presença de Deus sem temer. Ele abriu um caminho pelo qual o mais vil dos homens, acreditando Nele, poderia se aproximar de Deus e ter paz. Ele nos afirma “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim, salvar-se-á" (João 10:9). "Eu sou o caminho, ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). “No qual”, diz Paulo, “temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé Nele" (Efésios 3:12). Deste modo foi criada a porta para a salvação.

Essa porta é chamada de “a porta estreita” e tem um motivo para isso. Para algumas pessoas, ela é estreita, comprimida e difícil de passar; e assim continuará sendo, enquanto o mundo existir da forma como é. É estreita para todos que amam o pecado e estão determinados a não partir sem ele. É estreita para todos aqueles que depositaram suas alegrias nesse mundo e buscam primeiro os prazeres e recompensas mundanos. 

É estreita para todos que tem aversão a dificuldades e não estão dispostos a tomar suas dores e fazer sacrifícios pelas suas almas. É estreita para todos os que gostam de companhia e querem manter-se com a multidão. É estreita para todos os que são farisaicos e pensam que são boas pessoas e merecem ser salvas. Para todos, a maravilhosa porta feita por Cristo é estreita e comprimida. Em vão eles tentam passar por ela. A porta não os tolera. Deus não está relutante em recebê-los e seus pecados não são tantos assim para não serem perdoados, mas eles não querem ser salvos da maneira de Deus. Milhares, por muitos e muitos séculos, tentaram fazer do caminho à porta mais largo, milhares trabalharam e labutaram pesadamente a fim de chegarem ao céu de sua própria maneira. Mas a porta nunca muda. 

Ela não se expande, ela não vai se esticar para acomodar um homem em detrimento de outro. Ela ainda é a porta estreita. Tão estreita quanto essa porta possa ser, continua sendo “a única pela qual homens e mulheres podem entrar no céu”. Não há porta dos fundos, não há uma segunda estrada, não há uma brecha ou uma parte mais baixa na parede. Todos os que são salvos, assim o serão apenas por meio de Cristo e pela fé Nele. Ninguém se salvará apenas por arrepender-se. A tristeza de hoje não apaga nossas falhas de ontem. Ninguém será salvo pelas suas boas obras. 

As melhores obras que alguém pode fazer é um pouco melhor do que pecados impressivos. Ninguém será salvo apenas por ir à igreja, ler a Bíblia, orar, participar da Ceia do Senhor e honrar o seu dia. Quando fazemos tudo isso, continuamos sendo nada, apenas pobres servos descartáveis. É perca de tempo buscar qualquer outro caminho para a vida eterna. Homens e mulheres podem olhar para a direita ou esquerda e viverem conforme seus próprios métodos, mas eles nunca encontrarão outra porta. Homens e mulheres orgulhosos, se quiserem, podem não gostar da porta. Homens e mulheres depravados podem escarnecer dela e fazer piadas dos que a utilizam. 

Homens e mulheres preguiçosos podem reclamar que o caminho é árduo. Mas homens e mulheres não descobrirão outro meio para a salvação, a não ser a fé no sangue e na retidão do Redentor crucificado. Uma porta se posiciona entre nós e o céu, ela pode ser estreita, mas é a única. Devemos ou entrar para o céu através dessa porta estreita ou não entrar de forma alguma. Tão estreita quando essa porta possa ser, continua sendo “uma porta sempre disposta a abrir”. Nenhum pecador, de qualquer tipo, está proibido de se aproximar, quem quiser, poderá entrar e ser salvo. 

Há apenas uma condição para ser aceito: que você realmente sinta e odeie seus pecados, desejando ser salvo por Cristo à Sua maneira. Você está realmente ciente de sua culpa e maldade? Você verdadeiramente tem quebrantado e contristado seu coração? Olhe para a porta da salvação e entre. Ele, que a ergueu, declara “e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37). 

A questão a ser considerada não é se você é um grande ou pequeno pecador, se você é eleito ou não, se você é convertido ou não. A questão é simplesmente essa: “Você sente e odeia seus pecados?”. Você se sente pesado e oprimido? Você está disposto a colocar sua vida nas mãos de Deus? Se esse é o caso, então a porta se abrirá para você. Venha hoje. Por que você permanece aí fora? Tão estreita quanto essa porta possa ser, ela continua sendo “a única pela qual milhares e milhares já passaram e foram salvos”. 

Nenhum pecador jamais voltou atrás e disse que era muito ruim para ser aceito, quando vinha enojado por seus pecados. Pessoas de todos os tipos foram recebidas, limpas, lavadas, perdoadas, vestidas e feitas herdeiras da vida eterna. Algumas delas não pareciam que seriam admitidas, você e eu talvez tenhamos pensado que elas eram muito pecadoras para serem salvas. Mas Ele, que ergueu a porta, não as recusou. Assim que bateram, Ele deu ordens para que elas pudessem entrar. 8 Manassés, rei de Judá, foi a essa porta. Ninguém era pior do que ele naquele tempo. 

Ele havia desprezado o exemplo e os conselhos de seu pai Ezequias. Ele ajoelhou-se para ídolos. Ele encheu Jerusalém de carnificina e crueldades. Ele assassinou seus próprios filhos. Mas assim que seus olhos se abriram para seus pecados e ele correu até a porta, buscando por perdão, ela abriu-se e ele foi salvo. Saulo, o fariseu, foi até essa porta. Ele blasfemou contra Cristo e perseguiu Seus seguidores. Ele trabalhou incessantemente a fim de impedir o progresso do evangelho. Mas assim que seu coração foi tocado e ele viu sua culpa, correndo para a porta e buscando por perdão, imediatamente ela se abriu e ele foi salvo. Muitos dos judeus que crucificaram nosso Senhor, foram até a porta. 

Eles foram, verdadeiramente, pecadores atrozes. Eles recusaram e rejeitaram seu próprio Messias. Eles O entregaram a Pilatos e rogaram para que Ele fosse crucificado. Eles preferiram liberar Barrabás e deixar que o Filho de Deus fosse morto. Mas no dia em que seus corações se convenceram da verdade, através da pregação de Pedro, eles foram direto à porta, buscar por perdão, e imediatamente ela se abriu e eles foram salvos. O carcereiro em Filipos buscou essa porta. Ele era um homem ímpio, cruel e duro. Ele fez tudo o que estava a seu alcance para tratar Paulo e seu companheiro asperamente. Ele os trancou numa prisão e prendeu seus pés num tronco, mas quando sua consciência se ergueu, por causa do terremoto, e sua mente logo se iluminou devido aos ensinamentos de Paulo sobre a Palavra de Deus, ele correu para a porta, buscando por perdão, e ela imediatamente se abriu, o salvando. 

Mas por que precisaria eu dar apenas exemplos bíblicos? Por que não contaria sobre a multidão que já foi à “porta estreita”, desde os tempos dos Apóstolos, e passaram por ela e foram salvos? Milhares de pessoas de todos os tipos, classes, idades – educados ou não, ricos 9 ou pobres, jovens ou velhos - foram até a porta e a encontraram aberta, passaram por ela e ganharam paz de espírito. Sim, milhares e milhares de pessoas ainda vivas provaram a efetividade dessa porta e encontraram nela o caminho para a verdadeira felicidade. Nobres e plebeus, comerciantes e banqueiros, soldados e marinheiros, fazendeiros e operários, trabalhadores qualificados ou não, ainda estão na terra e encontraram a porta estreita como sendo um caminho para a alegria e estrada para a paz. Eles não deram um relatório ruim sobre o que viram através da porta. Eles virão que o jugo de Cristo era suave e Seu fardo, leve. 

A única tristeza deles era porque poucos entravam e seu arrependimento era por não haverem entrado antes. Essa é a porta pela qual quero que todos vocês entrem. Não quero que você simplesmente vá à igreja, mas que vá com todo o coração e alma para a porta da vida. Não quero que você apenas creia que existe essa porta e que pense bem dela, mas que entre por ela através da fé e seja salvo. Pense que privilégio é ter uma porta como essa! Os anjos que não permaneceram fiéis a Deus, caíram e nunca mais se levantaram. Para eles, não havia nenhuma porta de escape aberta. 

Milhões de pagãos nunca sequer ouviram sobre o caminho para a vida eterna. O que eles teriam dado, se pudessem ter ao menos ouvido um sermão sobre Cristo? Os judeus no Velho Testamento viram a porta vagamente e de longe. “Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro santuário” (Hebreus 10:8). Você tem a porta aberta claramente perante seus olhos, você tem Cristo e a salvação eterna oferecidos a você e nunca mais ficará perdido, sem saber para onde ir. 

Considere quão misericordioso isso é! Atente-se para que você não despreze a porta e pereça na descrença. Infinitamente melhor seria se você não tivesse tomado ciência dessa porta do que, tendo ouvido falar nela, permanecer do lado de fora. Como você escapará se negligenciar tamanha salvação? 

Pense na pessoa cheia de gratidão que você seria, caso tivesse entrado por essa porta estreita. Ser uma alma justificada, perdoada e absolvida, estar pronto para doenças, morte, julgamento e eternidade, sempre ser provido por ambos os mundos. Certamente isso seria um motivo para adoração diária. Verdadeiros cristãos devem ser mais agradecidos do que o que são. Acredito que poucos se lembram do que realmente eram por natureza e quão devedores são à graça. Um pagão observou que cantar hinos de adoração era uma marca especial dos cristãos antigos. Seria bom para os cristãos dos dias atuais saberem mais sobre essa disposição mental. Não há evidência alguma de um estado de mente sadia, quando há muita reclamação e pouca adoração. 

É uma misericórdia maravilhosa haver uma porta para a salvação, mas é uma misericórdia ainda maior quando somos ensinados a entrar por ela e sermos salvos. II. Em segundo lugar, eis aqui uma ordem clara. Jesus nos diz: “Porfiai por entrar pela porta estreita”. Sempre há muito a ser aprendido numa única palavra da Escritura. As palavras do nosso Senhor Jesus em particular, são sempre motivos para pensarmos. Eis aqui uma palavra que exemplifica muito bem o que estou falando. Vejamos o que o grande Mestre pode nos ensinar através da palavra “Porfiai”. “Porfiai” nos ensina que devemos usar de meios diligentemente, se queremos que nossas almas sejam salvas. 

Existem meios apontados por Deus para nos ajudar em nossos esforços em nos aproximarmos Dele. Existem maneiras pelas quais devemos andar, se queremos ser encontrados por Cristo. Adoração pública, leitura da Palavra, ouvir a pregação do evangelho, é isso a que me refiro. Eles permanecem, como sempre, no meio entre nós e Deus. Sem dúvida alguma, ninguém pode mudar seu próprio coração ou apagar seus pecados ou fazer-se aceitável a Deus, mas digo-lhes uma coisa, se não pudéssemos fazer nada, a não ser ficarmos parados, Cristo não nos haveria dito “Porfiai". 

 “Porfiai” nos ensina que homens e mulheres são livres e prestarão contas com Deus como adultos responsáveis. O Senhor Jesus não nos diz para esperarmos e apenas sentir, aguardar e desejar. Ele nos diz "Porfiai”. Eu chamo de religião inútil aquela que nos ensina a nos contentarmos com os dizeres “não podemos fazer nada por nós mesmos", fazendo com que as pessoas continuem em pecado. Isso é tão ruim quanto ensinar as pessoas que não é culpa delas se não são convertidas e que a culpa é inteiramente divina, caso não sejam salvas. Não encontro tal teologia no Novo Testamento. Escuto Jesus dizer aos pecadores “Venha, arrependa-se, creia, trabalhe, pergunte, bata”. 

Vejo claramente que nossa salvação, do início ao fim, é inteiramente “de Deus”, mas não vejo com menos clareza que nossa ruína, se perdido, seja inteiramente nossa. Acredito que pecadores são sempre vistos como responsáveis, e não vejo prova maior disso do que o significado expresso em "Porfiai". “Porfiai” nos ensina que homens e mulheres devem esperar muitas adversidades e batalhas difíceis, caso tenham suas almas salvas. E isso, falo por experiência própria, é verdade. Não há “ganho sem perda” nos assuntos espirituais e terrenos. Esse leão que ruge, o diabo, nunca deixará nenhuma alma escapar-se dele sem uma luta. O coração, que é naturalmente carnal e deseja coisas terrenas, nunca se converterá para a vida espiritual sem que haja luta diária. O mundo, com todas as suas oposições e tentações, nunca será superado sem conflitos. 

Mas por que isso nos surpreenderia? Quantos acontecimentos maravilhosos já foram realizados sem problema algum? O crescimento não ocorre sem arar e semear; riqueza não é obtida sem cuidado e atenção, sucesso na vida não é alcançado sem privação e trabalho; e céu, acima de tudo, não é conseguido sem a cruz nem a batalha. “Se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele” (Mateus 11:12). Homens e mulheres devem “porfiar”. “Porfiai” nos ensina que vale a pena buscar a salvação. Se há algo nesse mundo que merece nossa luta, esse algo é a prosperidade de nossa alma. Os motivos pelos quais a grande maioria dos humanos  "porfiam” são comparativamente pobres e triviais. Riqueza, grandeza, classe e educação são “coroas corruptíveis”. 

As coisas incorruptíveis estão todas além da porta estreita. A paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, a esperança de um futuro bom no porvir, a sensação de que o Espírito Santo habita em nós, a consciência de que somos perdoados e estamos salvos, preparados, seguros, providos por toda a eternidade, não importa o que aconteça. Essas sim são riquezas verdadeiras e eternas. É bom e vantajoso que o Senhor Jesus nos alerte a “porfiar”. “Porfiai” nos ensina que a preguiça para com o cristianismo é um grande pecado. Não é apenas um infortúnio, como muitos acreditam, algo pelo qual as pessoas devem ter dó e arrependimento. É algo que vai muito além disso. É a quebra de um mandamento muito claro. O que será dito do homem ou da mulher que violar a lei de Deus e fizer algo que Deus ordena claramente a não fazer? Para isso, há apenas uma resposta: eles são pecadores. “Qualquer que comete pecado, também comete iniquidade” (I João 3:4). 

E o que será dito do homem ou da mulher que negligenciar sua alma e não fizer esforço algum para entrar pela porta estreita? Para isso, há apenas uma resposta. Eles estariam omitindo um dever explícito. Cristo diz “Porfiai”, mas, olhem, eles continuam parados! “Porfiai” nos ensina que todos aqueles do lado de fora da porta estreita estão em grande perigo. Eles perigam perderem-se e se atormentarem para sempre. Existe apenas um passo entre eles e a morte. Se a morte os encontrar em sua condição presente, eles perecerão sem esperança alguma. O Senhor Jesus viu isso claramente. Ele sabia da incerteza da vida e da brevidade do tempo; Ele se alegra em ver pecadores se apressarem e não se atrasarem, para que se livrem de sua alma pecaminosa antes que seja tarde demais. Ele fala como aquele que viu o diabo aproximar-se deles diariamente e os dias de suas vidas decaírem gradualmente. Ele zelaria para que tivessem o cuidado de não esperar demasiado, por isso, Ele grita, “porfiai”. 

Essa palavra, "porfiai", levanta pensamentos sérios na minha mente. Ela é cheia de condenação para milhares de pessoas batizadas. Ela condena os meios e as práticas de multidões que se auto-professam cristãos. Existem muitos que não juram, nem assassinam, nem cometem adultério, nem roubam ou mentem, mas há algo que, infelizmente, não pode ser dito sobre eles, não se pode dizer que porfiam a fim de serem salvos. O espírito da “inatividade” domina seus corações em tudo quando o assunto é cristianismo. Eles estão muito ocupados com as coisas do mundo, levantam-se cedo, dormem tarde, trabalham, labutam, ocupam-se, são cuidadosos, mas a única coisa que eles precisam realmente executar, não o fazem: eles nunca "porfiam" pelas coisas de Deus. 

1. O que direi sobre aqueles que são irregulares sobre a adoração pública de Deus aos domingos? Existem milhares que se adéquam a essa descrição. Algumas vezes, quando se sentem inclinados, vão à igreja e atendem ao serviço religioso; em outras, ficam em casa e lêem um livro, deitam-se, revêem suas contas ou buscam por alguma diversão. Isso é estar porfiando? Eu falo a homens e mulheres de senso comum. Deixe-os julgar o que digo. 

2. O que direi daqueles que vem regularmente adorar a Deus aos domingos, mas apenas pró-forma? São muitas as pessoas do nosso país que se encontram nessa condição. Seus pais a ensinaram a vir; o costume sempre foi vir, não seria respeitoso deixá-lo de lado. Quando eles comparecem à igreja, nem sequer se importam em adorar a Deus. Se escutam sobre lei ou evangelho, verdade ou mentira, isso dá no mesmo para eles, até porque não se lembram de nada depois. Tendo em vista que tiram seus moldes religiosos, assim como suas roupas de domingo, e voltam ao velho mundo. Isso é estar porfiando? Eu falo a homens e mulheres de senso comum. Deixe-os julgar o que digo.  

3. O que direi daqueles que raramente – ou nunca – lêem a Bíblia? Existem milhares que se adaptam a essa descrição. Eles conhecem a Bíblia por nome, eles sabem que é o único Livro que nos ensina como viver e morrer, mas nunca encontram tempo para lê-lo. Jornais, reportagens, livros, romances, tudo isso eles podem ler, menos a Bíblia. E você chama isso de porfiar? De entrar pela porta estreita? Eu falo a homens e mulheres de senso comum. Deixe-os julgar o que digo. 

4. O que direi daqueles que nunca oram? Existem muitos, afirmo veementemente, nessa condição. Sem Deus eles acordam e novamente sem Ele, eles se deitam à noite. Eles não pedem por nada, não confessam nada, não agradecem por nada e nem buscam nada. São todas criaturas entregues à morte e, mesmo assim, deixaram de falar com seu Criador e Juiz! Isso é estar porfiando? Eu falo a homens e mulheres de senso comum. Deixe-os julgar o que digo. É muito sério ser ministro do Evangelho. É doloroso observar o homem e perceber a forma com que atuam em relação a assuntos espirituais. Nós seguramos firmes em nossas mãos o grande Livro de Deus, o qual declara que sem arrependimento, conversão, fé em Cristo e santidade, nenhum ser humano pode ser salvo. 

Como um cumprimento de nosso ofício, nós ansiamos para que homens e mulheres se arrependam, acreditem e sejam salvos, mas, para nossa aflição, muitas vezes lamentamos, porque nosso trabalho parece ser vão. Homens e mulheres vão à igreja, escutam, concordam, mas não "porfiam" para serem salvos. Nós mostramos a pecaminosidade do pecado, nós expomos a amabilidade de Cristo, mostramos a vaidade do mundo, levantamos o regozijo que é o serviço de Cristo, oferecemos a água da vida aos cansados e sobrecarregados, mas, para nossa tristeza, muitas vezes parece que falamos aos ventos. Nossas palavras são ouvidas pacientemente aos domingos, nossos argumentos não são refutados, mas vemos claramente durante a semana que homens e mulheres não porfiam para serem salvos. Então, eis que vem o diabo na manhã de segunda-feira, armando incontáveis ciladas; eis que vem o mundo e apresenta seus prêmios enganosos. Nossos ouvintes sofregamente o seguem. 

Eles trabalham duro para receber benesses do mundo, trabalham pesado para as licitações do diabo, mas a única coisa que precisam fazer, não fazem: não porfiam por hipótese alguma. Isso que escrevo não é por ouvir falar. Eu falo porque tenho visto. Escrevo o resultado de trinta e sete anos de experiência no ministério. Durante esse período, aprendi lições sobre a natureza humana que nunca soube antes. Agora vejo quão verdadeiras são as palavras do Senhor sobre o caminho estreito. Tenho visto quão poucos são os que verdadeiramente porfiam para serem salvos. Seriedade em problemas passageiros é comum. Esforço para tornarse rico e próspero nesse mundo não é algo raro. Afligir-se por dinheiro, negócios, política, trocas, ciência, finas artes, entretenimento, aluguel, salário, trabalho, terras, esse tipo de aflição vejo abundantemente tanto na cidade quanto no interior. Entretanto vejo poucos que se afligem por suas almas, vejo poucos que porfiam para entrar pela porta estreita. Não estou, contudo, de modo algum surpreso por isso. 

Na Bíblia vi que isso é a única coisa pela qual devo esperar. A parábola da grande ceia é uma imagem exata das coisas que tenho visto com meus próprios olhos, desde que me tornei ministro (Lucas 14:16). Como meu Senhor e Salvador diz, acredito que homens e mulheres dão desculpas. Um tem um pedaço de terra para ver, outro tem seus bois para provar, um terceiro sofre com problemas familiares. Mas nada disso previne meus sentimentos de profunda tristeza pelas almas desses homens e mulheres. Entristeço-me em ver que eles têm a vida eterna tão próxima deles e, mesmo assim, estão perdidos, porque não porfiam para entrar pela porta e serem salvos. 

 Não sei em qual estado de mente muitos de vocês estão. Mas avisoos para que tenham cuidado, para que não pereçam eternamente, porque não porfiaram. Não pensem que é necessário um pecado encarnado para trazê-lo à cova da destruição. Você deve apenas sentar e não fazer nada e, assim, mais cedo ou mais tarde, você se encontrará na beira do inferno. Sim, o diabo não o pede para que ande nos mesmos passos de Caim, Faraó, Acabe, Beltesazar e Judas Iscariotes. Existe outra estrada que o leva ao inferno, o cominho da lentidão, da preguiça e da indolência espiritual. O diabo não tem objeção alguma a você sendo um membro respeitável da Igreja Cristã. Ele o deixará dar suas ofertas, permitirá que se sente confortavelmente na igreja todo domingo enquanto viver. Ele sabe muito bem que se você não porfiar, mais cedo ou tarde você virá ao lugar onde o verme destruidor nunca morre e o fogo nunca se apaga. Cuide para que não chegue a este fim. 

Repito, “basta que você não faça nada, para que se perca”. Se você tem sido duro e não porfia pelo bem de sua alma, suplico-lhe para que nunca pense que irá muito longe. Nunca dê lugar à ideia de que você está preocupado demais com sua condição espiritual e que não há motivos para tamanho cuidado. Coloque no seu coração que em todo trabalho há lucro, mas que não há trabalho mais lucrativo do que aquele relacionado à alma. Entre os fazendeiros há a máxima de que quanto mais fazem pela terra, mais a terra faz por eles. Deveria haver também uma máxima entre os cristãos, a de que quando mais eles fazem pela sua cristandade, mais ela fará por eles. Tome cuidado com qualquer inclinação para o descuido para com a leitura bíblica, a ida à igreja, o orar e o participar da Ceia do Senhor. 

Tome cuidado ao diminuir suas orações, leituras bíblicas e sua comunhão particular com Deus. Tome cuidado para que você não se entregue à imprudência, à preguiça de participar de serviços semanais na Igreja. Lute contra qualquer tendência a ser sossegado, crítico, julgador, enquanto escuta a pregação do Evangelho. Tudo o que você fizer para Deus, faça-o com todo o coração, mente e força. Em outras coisas sejam moderados e temerosos com ir para extremos. Quanto à alma, temam a moderação tanto quanto você temeria uma praga. Não se preocupe com o que homens e mulheres possam pensar sobre você. Que, para você, baste simplesmente que o Mestre diga “porfiai”. 

III. Minha última consideração hoje é a profecia terrível feita pelo Senhor Jesus. Jesus diz “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. Quando será isso? Em qual período a porta para a salvação se fechará para sempre? Quando porfiar já não adiantará mais nada? Essas perguntas são muito sérias. A porta, agora, está disposta a abrir-se para o pior dos pecadores, mas virá o dia em que ela já não mais abrirá. O tempo dito pelo nosso Senhor será o tempo em que Ele julgará o mundo. A paciência de Deus finalmente chegará ao fim. O trono da graça será tomado e, em seu lugar, será colocado o trono do julgamento. A fonte da água viva será fechada. A porta estreita será finalmente fechada e separada. O dia de graça acabará. O dia do julgamento final chegará ao mundo, que jaz no pecado. 

E então virá o que foi profetizado pelo Senhor Jesus: "muitos procurarão entrar, e não poderão". Todas as profecias da Escritura já cumpridas até hoje, foram cumpridas ao pé da letra. Para muitos elas pareciam improváveis, impossíveis, até que se cumpriram. Nenhuma profecia jamais falhou. As promessas de “boas novas” se cumpriram, apesar de parecem feitos dificílimos: 

1. Sara deu à luz um filho, quando já havia passado da idade de engravidar. 

2. Os filhos de Israel foram tirados do Egito e viveram na terra prometida. 

3. Os judeus foram redimidos do cativeiro da Babilônia depois de 70 anos e puderam, mais uma vez, construir o templo. 

4. O Senhor Jesus, nascido de uma virgem, viveu, ministrou, foi traído e crucificado, assim como as Escrituras previram precisamente. A Palavra de Deus profetizou em todos esses casos. E eles foram concretizados. As predições sobre julgamentos em cidades e nações foram realizadas, apesar de naquela época, quando foram primeiramente profetizadas, pareciam inacreditáveis. Edom é um deserto; Tiro é uma rocha para secar redes; Nínive, que era a melhor das cidades, foi destruída e tornou-se uma desolação; Babilônia é uma terra seca e um deserto, suas paredes extensas estão completamente derrubadas. A Palavra de Deus previu todos esses casos. E assim aconteceram. A predição feita pelo Senhor Jesus Cristo, pronunciada aqui hoje, também será concretizada. Nenhuma palavra dessa sentença falhará, quando chegar o tempo para que sua realização seja executada. Jesus disse: “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. 

Chegará o dia em que buscar a Deus será inútil. Homens e mulheres, lembrem-se disso! Muitos parecem acreditar que nunca chegará a hora em que buscarão, mas não acharão. Eles estão seriamente enganados. Um dia eles descobrirão seus erros e perceberão que perderam, a não ser que se arrependam. Quando Jesus diz “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. Chegara o dia em que muitos serão expulsos do paraíso para sempre. Não será apenas uma minoria, mas uma grande multidão. Isso não ocorrerá apenas com um ou dois aqui e mais um ou dois 19 acolá, será o miserável fim de uma vasta multidão. “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. Muitos cairão em si já tarde demais. 

Eles finalmente verão o valor de uma alma imortal e a felicidade de ser salvo, finalmente entenderão seus próprios pecados, a santidade de Deus e a conveniência gloriosa do Evangelho de Cristo, finalmente compreenderão porque ministros pareciam são ansiosos e pregavam por tanto tempo, implorando tão severamente para que seus ouvintes se convertessem. Entretanto, para a aflição dessas pessoas, eles saberão disso tudo tarde demais! Arrependimento virá a muitos quando for tarde demais. Eles descobrirão suas próprias maldades e se envergonharão completamente de seus passados. Eles se arrependerão amargamente e se encherão de vãos remidos, de convicções vivas e de dores penetrantes; chorarão, gemerão e lamentarão, quando se derem conta de seus pecados. 

A recordação de suas vidas será penosa para eles, o fardo de sua culpa será intolerável, mas, para sua angústia, assim como Judas Iscariotes, eles se arrependerão tarde demais. Fé virá a muitos tarde demais. Eles já não serão capazes de negar a existência de Deus e do diabo, do céu e do inferno. Falsas religiões, ceticismo e infidelidade serão abandonados para sempre. Zombarias, piadas e liberdade de pensamento cessarão. Eles verão com seus próprios olhos e sentirão com seus próprios corpos, que as coisas sobre as quais os ministros pregaram, não eram apenas contos de fadas narrados engenhosamente, mas grandes verdades. Eles verão que a religião evangélica não era um serviço insolente, extravagante, fanático e sensacionalista. Eles descobrirão que Ele era a única coisa de que precisavam e que a falta de vontade causou-lhes a perdição eterna. Como o diabo, eles finalmente acreditarão e temerão, mas será tarde demais! 

O desejo de salvação virá a muitos tarde demais. Eles ansiarão por perdão, paz e favor de Deus, quando já não poderão mais tê-los. Eles desejarão ter mais um domingo, mais uma oferta de perdão, mais uma chamada à oração. Entretanto, já não mais importará o que eles pensam, sentem ou desejam, o dia da graça terá acabado e a porta da salvação será fechada. Será tarde demais! Muitas vezes penso na grande mudança que ocorrerá um dia no preço e na estima com a qual tantas coisas são vistas. Observo esse mundo no qual minha sorte foi lançada, percebo o preço corrente de tudo o que ele oferece, olho para a vinda de Cristo e o grande dia de Deus. Penso na nova ordem das coisas que esse dia trará; leio as palavras de nosso Senhor Jesus, quando Ele descreve o homem da casa levantando-se e fechando a porta. E, enquanto leio, digo a mim mesmo, "haverá uma grande mudança em breve”. 

O que são as coisas importantes agora? Ouro, prata, pedras preciosas, dinheiro, minas, navios, terras, casas, cavalos, carros, móveis, comida, bebida, roupas e assim vai. Existem as coisas que acreditamos serem valiosas; existem coisas que exigem um mercado pronto; existem coisas que você não consegue obter por menos de certo preço. Aquele que tem muitas dessas coisas, é considerado um homem rico. Assim é o mundo! O que seriam as coisas baratas, então? O conhecimento de Deus, a salvação do Evangelho, a generosidade de Cristo, a graça do Espírito Santo, o privilégio de ser filho de Deus, a vida eterna, o direito à árvore da vida, a promessa de uma morada na casa do Pai, no céu, as promessas de uma herança incorruptível, a oferta de uma coroa de glória que não se desfalece. 

Essas são coisas pelas quais nem homem nem mulher realmente se importam. Eles são oferecidos a homens e mulheres sem preço algum, podem ser adquiridos sem nada em troca, é de graça. Quem quiser, pode pegar. Mas, infelizmente, não há demanda para essas  coisas! Eles imploram para serem vistos, mas quase não são percebidos. São oferecidos em vão. Assim é o mundo! Mas está chegando o dia em que o valor de tudo será alterado. Chegará o dia em que o dinheiro será tão inútil quanto trapos e ouro será tão desprezível quanto a poeira. Chegará o dia em que milhares de pessoas não se importarão mais com as coisas pelas quais antes viviam e desejarão tudo o que antes desprezaram. 

As mansões e os palácios serão esquecidos e casa que não é feita por mãos será desejada. Os favores dos ricos já não serão mais lembrados, mas sim os favores do Rei dos reis. Sedas, cetins, veludos e laços se perderão de vista ante a ânsia pelo manto da retidão de Cristo. Tudo será alterado, tudo será mudado no grande dia da segunda vinda do Senhor. “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. Um homem sábio disso algo muito importante, que "o inferno é a verdade descoberta tarde demais”. Temo que muitos dos cristãos professos descobrirão essa verdade por experiência própria. Eles descobrirão o valor de suas almas quando for tarde demais para conseguir misericórdia e verão a beleza do evangelho quando não puderem tirar beneficio algum dele. 

Esses homens e mulheres deveriam ter sido mais sábios em vida! Constantemente penso sobre as passagens das Escrituras e vejo que existem poucas mais tremendas que aquela do primeiro capítulo de Provérbios: Mas porque clamei e vós recusastes; porque estendi a mão e não houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei, em vindo o vosso terror como a tempestade, em vindo a vossa perdição como o redemoinho, quando vos chegar o aperto e a angústia. 

Então, me invocarão, mas eu não responderei; porcurar-me-ão, porém não me hão de achar. Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão. Porquanto comerão do fruto do seu procedimento e dos próprios conselhos se fartarão. Provérbios 1:24-31 Alguns de vocês talvez sejam daqueles que não gostam da fé e nem de praticar aquilo que o evangelho de Cristo nos ordena. Você pensa que é extremismo quando lhe imploramos para que se arrependa e se converta. Você pensa que pedimos muito quando rogamos para que saia desse mundo e carregue a cruz, seguindo a Cristo. Um dia, entretanto, saiba que você confessará que estávamos certos. Mais cedo ou mais tarde, nesse mundo ou no próximo, você verá que estava errado. Sim! É uma consideração triste para um ministro fiel ao evangelho, de que todos os que o escutam um dia confessarão que seus conselhos eram bons. 

Mesmo que seu testemunho seja alvo de zombaria, desdém, escárnio e negligência nessa terra, o dia no qual será provado que toda a verdade estava do nosso lado chegará. O homem rico que nos escuta e, mesmo assim, faz do seu mundo um deus, o homem de negócios que nos escuta e, ainda assim, faz de seus livros contábeis sua Bíblia, o fazendeiro que nos escuta, mas permanece frio como o barro em sua terra, o trabalhador que nos escuta e continua com sua alma dura como pedra: todos, no tempo devido, confessarão diante do mundo que estavam errados. Todos, no tempo devido, desejarão aquela misericórdia que agora lhes é vã. “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. Alguns de vocês talvez sejam aqueles que amam o Senhor Jesus Cristo com sinceridade. Você pode, então, se confortar quando olhar para a eternidade. Você constantemente sofre perseguições agora, por causa de Cristo. Você tem que suportar palavras duras e 23 insinuações indelicadas. Seus motivos são frequentemente deturpados e sua conduta é difamada. 

A censura à cruz ainda não acabou, mas você pode se encorajar quando olhar adiante e pensar na segunda vinda de Cristo. Esse dia trará correções a todos. Você verá aqueles que agora zombam de você, porque lê a Bíblia, ora e ama a Cristo, num estado de mente completamente diferente. Eles virão a vocês como as virgens néscias foram às sabias, dizendo “Dainos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam” (Mateus 25:8). Você verá aqueles que agora o odeiam e o chamam de tolo por trazer um bom testemunho do serviço de Cristo, assim como Calebe e Josué também trazia. Um dia eles dirão: “Ah, se o tivéssemos escutado! Você tem sido o verdadeiro sábio e nós, os tolos”. Entretanto, irmãos e irmãs, não temam a censura dos homens. Confessem Cristo corajosamente perante o mundo. Mostrem suas cores e não se envergonhem do vosso Mestre. O tempo é curto, a eternidade se apressa. Temos a cruz apenas por pouco tempo, mas a coroa é para sempre. “Muitos procurarão entrar, e não poderão”. 

Agora, deixe-me oferecer a todos vocês algumas palavras de despedida, para que possam aplicar às suas almas tudo o que foi tratado aqui. Vocês escutaram as palavras do Senhor de forma esclarecida e explanada. Vocês viram a ilustração de como chegar à salvação, a porta estreita, ouviram o mandamento do Rei: "Porfiai por entrar pela porta estreita”, vocês têm sido alertados de seu aviso solene, "muitos procurarão entrar, e não poderão”. Tenham ainda um pouco mais de paciência comigo, enquanto tento gravar essas questões no seu subconsciente. Ainda tenho algo a dizer a favor de Deus. Primeiro, farei uma pergunta simples. Você entrou pela porta estreita ou não? Novo ou velho, rico ou pobre, religioso ou ateísta, repito a questão, você entrou pela porta estreita ou não?  

Não pergunto se você já ouviu falar nela e acredita que a porta realmente existe. Não pergunto se você já a observou e admirou-a, se espera um dia passar por ela. Pergunto se você foi até essa porta, bateu, foi aceito e agora passou por ela. Se não passou, que benefício ganhou da sua religião? Você não está perdoado. Você não está reconciliado com Deus. Você não é nascido de novo, nem santificado e nem adequado para o céu. Se você morrer como está, você viverá no mesmo lugar de tormenta que o diabo e sua alma será para sempre miserável. Pense que situação será morar num lugar assim! Pense, acima de todas as coisas, o estado que é morrer assim! Sua vida não passa de vapor. Apenas mais alguns anos e você estará morto, seu lugar no mundo será em breve substituído, sua casa será ocupada por outros. O sol continuará a brilhar, a grama e as flores crescerão sobre sua cova, seu corpo servirá de comida para vermes e sua alma estará perdida por toda a eternidade. E por todo esse tempo permaneceu aberta para você a porta da salvação. Deus o convida. Jesus Cristo se oferece para salvá-lo. Todas as coisas estão prontas para a sua libertação. 

Só falta isso, que você queira ser salvo. Pense sobre tudo isso e seja sábio! Segundo, darei um conselho claro a todos os que ainda não passaram pela porta estreita. Esse conselho é simples: Entre e não deixe para amanhã. Diga-me, se puder, o nome de alguém que conseguiu chegar ao céu sem passar pela porta estreita. Não conheço nenhum. De Abel, o primeiro homem a morrer, até o último nome da lista bíblica, não vejo ninguém sendo salvo, se não pela fé em Cristo. Diga-me, se puder, o nome de alguém que já entrou pela porta estreita sem porfiar. Não conheço nenhum, a não ser aqueles que morreram ainda criança. 

Aquele que quer ganhar o céu deve lutar por ele. Diga-me, se puder, o nome de alguém que lutou duramente para entrar e não obteve sucesso. Não conheço nenhum. Não importa quão ignorante ou fraco um homem ou uma mulher possam ser, eles nunca ficarão sem uma resposta de paz, caso procurem pela vida eterna de forma consciente. Diga-me, se puder, o nome de alguém que entrou pela porta estreita e arrependeu-se depois. Não conheço nenhum. Acredito que as passadas na soleira da porta foram todas em uma única direção. Elas viram que era bom servir a Cristo e não se arrependeram de tomar consigo Sua cruz. Se tudo isso é verdade, busque a Cristo sem demora e entre pela porta da vida enquanto há tempo! Tenha um recomeço hoje mesmo. Vá em oração ao Salvador, que é misericordioso e todo-poderoso, e desabafe. 

Confesse-Lhe sua culpa, sua maldade e seu pecado. Abra seu coração livremente a Ele, não esconda nada. Diga-Lhe que você deposita em Suas mãos a sua vida e todos os seus negócios; peça para salvá-lo conforme Sua promessa e deixe entrar em você o Santo Espírito de Cristo. Eis aí o suficiente para encorajá-lo a fazê-lo. Milhares de pessoas tão maldosas quanto você buscaram a Cristo e nenhuma delas foi posta de lado e recusada. Eles encontraram uma paz de espírito que nunca antes haviam sentido e agora andavam mais alegres. Eles encontraram força para lidar com as batalhas da vida e Deus não permitiu que nenhum deles perecesse no deserto. Por que não deveria você buscar a Cristo? Eis aqui vários motivos que o encorajam a buscá-lo imediatamente. Não vejo motivo algum para que seu arrependimento e sua conversão não ocorram agora, como ocorreu a outros antes de você.  

A mulher samaritana, quando foi ao poço, era uma pecadora ignorante, mas retornou à sua casa como nova criatura. O carcereiro de Filipos saiu das trevas para a luz e tornou-se um discípulo professo de Cristo no mesmo dia. Por que não deveriam outros fazer o mesmo? Por que você não deveria abrir mão de seus pecados e confiar em Cristo hoje mesmo? O conselho que estou dando a vocês é bom. A grande pergunta é: você o acatará? A última coisa que tenho a fazer é uma solicitação a todos os que já entraram pela porta estreita. Meu pedido é que vocês contem aos outros a bênção que encontraram através da porta. 

Quero que todos os convertidos sejam missionários. Não peço para que partam para terras estrangeiras e preguem aos pagãos, mas gostaria que todos tivessem um espírito missionário e se esforçassem para dar um bom exemplo em casa. Quero que testifiquem a todos que a porta estreita é o caminho para a felicidade, persuadindo-os a entrar por ela. Quando André se converteu, ele encontrou seu irmão Pedro e o disse: “Encontramos o Messias” (isto é, o Cristo). E ele o trouxe a Jesus (João 1:41,42). 

Quando Felipe se converteu, encontrou Natanael e disse-lhe “ „Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José‟. Disse-lhe Natanael: „Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? ‟ 'Vem e vê‟, disse Felipe” (João 1:45,46). Quando a mulher samaritana se converteu, “Deixou, pois, o seu cântaro, e foi à cidade, e disse aqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tinha feito. Porventura não é este o Cristo?” (João 4: 28,29). Quando Saulo, o fariseu, converteu-se, “E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” (Atos 9:20). Eu anseio por esse tipo de espírito entre os cristãos de hoje. Anseio por mais zelo ao pregar sobre a porta estreita a todos os que por ela ainda não passaram e por mais desejo de persuadi-los a passar por ela e serem salvos. Bem-aventurada é aquela igreja cujos membros não apenas desejam alcançar o céus, mas também fazer com que outros o alcancem. 

A grande porta para a salvação ainda está aberta, mas é chegada a hora em que ela se fechará para sempre. Trabalhemos enquanto é dia, pois “a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (João 9:4). Digamos a nossos parentes e amigos que encontramos o caminho para a vida e ele é agradável, que provamos o pão da vida e o achamos bom. Foi calculado que se todo cristão no mundo trouxesse uma alma a Cristo cada ano, toda a humanidade se converteria em menos de vinte anos. Não comento tal cálculo. Se ele é real ou não, uma coisa é clara: que “muitas almas teriam provavelmente se convertido a Deus, se cristãos fossem mais zelosos em praticar o bem”. 

Isso, ao menos, podemos nos lembrar, que Deus não quer que “alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pedro 3:9). Aquele que se esforça em mostrar ao seu vizinho a porta estreita está fazendo um trabalho aprovado por Deus. Ele faz um trabalho que os anjos observam com interesse e no qual nem mesmo a construção de uma pirâmide se igualará em importância. O que a Escritura diz? “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados” (Tiago 5:20). 

Despertemo-nos para um senso mais profundo de nossa liberdade nessa questão. Olhemos para a vida daqueles com quem convivemos e considere o estado de cada um perante Deus. Não há ainda muitos fora da porta, sem perdão, sem santificação e sem condições de morrer? Procuremos oportunidades de falar a eles. Falemos sobre a porta estreita e roguemos para que porfiem. 

Quem pode saber o que “uma palavra falada no tempo certo” é capaz de fazer? Quem pode saber o que ela é capaz de causar quando falada em fé e oração? Ela pode ser o ponto crucial na história de uma pessoa. Talvez seja o início do pensamento, da oração e da vida eterna. Que tenhamos mais amor e ousadia entre os cristãos! Pense na bênção que é poder pronunciar palavras de conversão! Não sei quais são seus sentimentos quanto a isso. O desejo do meu coração e minha oração é para que você possa lembrar diariamente das duras palavras de Cristo, “porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão”. Mantenham essas palavras em mente. Amém. 


ORE PARA QUE O ESPIRITIO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES. FONTE Traduzido de http://www.biblebb.com/files/ryle/JC-HowtobeSaved.htm © Copyright 2006 by Tony Capoccia Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público Original em inglês: How to be Saved Tradução: Sara de Cerqueira Revisão: Armando Marcos Pinto Capa: Victor Silva Projeto Ryle