Total de visualizações de página

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Os Decretos de Deus




O decreto de Deus é Seu propósito ou determinação com respeito às
coisas futuras. Usamos o singular, como o fazem as Escrituras (Romanos 8:28;
Efésios 3:11), porque houve somente um ato de Sua mente infinita acerca das
coisas futuras. Entretanto, nós falamos como se houvesse muitos, porque as
nossas mentes só conseguem pensar em ciclos sucessivos, conforme surgem os
pensamentos e as ocasiões, ou com referência a vários objetos do Seu decreto,
os quais, sendo muitos, parecem-nos requerer um propósito diferente para cada
um deles. O entendimento infinito de Deus não avança passo a passo, ou de
etapa a etapa. "Conhecidas por Deus são todas as Suas obras desde a
eternidade" (Atos 15:18 versão autorizada KJ, 1611).
As Escrituras fazem menção dos decretos de Deus em muitas passagens,
empregando vários termos. A palavra "decreto" acha-se no Salmo 2:7, etc. Em
Efésios 3:11 lemos a respeito do Seu "eterno propósito". Em Atos 2:23, do "...
determinado conselho e presciência de Deus... ". Em Efésios 1:9, do "... mistério
da sua vontade... ". Em Romanos 8:29 lemos que Ele também "predestinou".
Em Efésios 1:9, sobre "o seu beneplácito". Os decretos de Deus são
denominados Seu "conselho" para significar que são consumadamente sábios.
São chamados Sua "vontade" para mostrar que Ele não estava sob nenhum
outro domínio, mas agiu de acordo com o Seu beneplácito. Quando a norma de
conduta de uma pessoa é a sua vontade, geralmente é caprichosa e irrazoável.
Mas nos procedimentos divinos a sabedoria está sempre associada com a
"vontade" e, por conseguinte, os decretos de Deus são descritos como
sendo "o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11).
Os decretos de Deus se relacionam com todas as coisas futuras, sem
exceção: o que quer que seja feito no tempo, foi pré-ordenado antes de iniciar-se
o tempo. O propósito de Deus dizia respeito a todas as coisas, grandes e
pequenas, boas e más, conquanto, com referência a estas, devemos ter o
cuidado de afirmar que, se bem que Deus é o Ordenador e Controlador do
pecado, não é o seu Autor do mesmo modo como é o Autor do bem. O pecado
não poderia proceder de um Deus santo por criação direta e positiva, mas
somente por permissão decretatória e ação negativa. O decreto de Deus é tão
abrangente como o Seu governo, estendendo-se a todas as criaturas e a todos
os eventos.
Relaciona-se com a nossa vida e com a nossa morte, com o nosso estado
no tempo, bem como na eternidade. Como Deus faz todas as coisas segundo o
conselho da Sua vontade, ficamos sabendo por Suas obras em que consiste (ou
consistiu) o Seu conselho, assim como julgamos a planta de um arquiteto
inspecionando o edifício que foi construído sob sua direção.
Deus não decretou meramente criar o homem, colocá-lo na terra, e depois
deixá-lo entregue à sua própria direção descontrolada; antes, fixou todas as
circunstâncias do destino dos indivíduos, e todas as particularidades que a
história da raça humana compreende, desde o seu início até o seu fim. Ele não
decretou simplesmente o estabelecimento de leis gerais para o governo do
mundo, mas dispôs a aplicação dessas leis a todos os casos particulares. Os
nossos dias estão contados, como contados estão os cabelos das nossas
cabeças. Podemos entender a extensão dos decretos divinos pelas distribuições
providenciais, mediante as quais eles são executados. Os cuidados de Deus
alcançam as criaturas, mais insignificantes e os mais diminutos eventos, como
a morte de um pardal e a queda de um fio de cabelo.
Consideremos agora algumas das propriedades dos decretos divinos. Em
primeiro lugar, são eternos. Supor que sequer um deles foi ditado dentro do
tempo, é supor que ocorreu algum novo acontecimento, surgiu algum evento
imprevisto ou alguma combinação imprevista de circunstâncias, que induziu o
Altíssimo a idealizar uma nova resolução. Isto favoreceria a idéia de que o
conhecimento de Deus é limitado e que Ele vai ficando mais sábio conforme o
tempo avança — o que seria uma horrível blasfêmia. Ninguém que creia que o
entendimento divino, é infinito, abrangendo o passado, o presente e o futuro,
jamais admitirá a errônea doutrina de decretos temporais. Deus não ignora os
eventos futuros que serão executados por volições humanos; Ele os predisse em
inúmeros casos, e a profecia não é nada menos do que a manifestação da Sua
presciência eterna. As Escrituras afirmam que os crentes foram escolhidos em
Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4), sim, que foi então que a
“graça” lhes foi dada (2 Timóteo 1:9).
Em segundo lugar, os decretos de Deus são sábios? A sabedoria é
evidenciada na seleção dos melhores fins possíveis e dos meios mais
apropriados para cumpri-los. Pelo que conhecemos dos decretos de Deus, é
evidente que lhes pertence esta característica. Eles se nos revelam por sua
execução, e toda evidência de sabedoria nas obras de Deus é prova da sabedoria
do plano segundo o qual eles são realizados. Como declara o salmista, "O
Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as cousas fizeste com
sabedoria..." (Salmo 104:24), Na verdade, só podemos observar uma
pequeníssima parte delas, mas devemos proceder aqui como fazemos noutros
casos, e julgar o todo pela amostra, o desconhecido pelo conhecido. Aquele que
percebe o funcionamento admiravelmente engenhoso das partes de uma
máquina que teve oportunidade de examinar, será naturalmente levado a crer
que as outras partes são de igual modo admiráveis. Da mesma maneira,
devemos persuadir nossas mentes quanto às obras de Deus quando nos
invadem dúvidas, e repelir as objeções acaso sugeridas por alguma coisa que
não podemos conciliar com as nossas noções do que é bom e sábio. Quando
alcançarmos os limites do finito e contemplarmos os misteriosos domínios do
infinito, exclamemos: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como
da ciência de Deus..." (Romanos 11:33).
Em terceiro lugar, são livres. "Quem guiou o Espírito do Senhor? E que
conselheiro o ensinou? Com quem tomou conselho, para que lhe desse
entendimento, e lhe mostrasse as veredas do juízo e lhe ensinasse sabedoria, e
lhe fizesse notório o caminho — da ciência?" (Isaías 40:13-14). Deus estava
sozinho quando elaborou os Seus decretos, e as Suas determinações não foram
influenciadas por nenhuma causa externa. Ele era livre para decretar ou não, e
para decretar uma coisa e não outra. É preciso atribuir esta liberdade Àquele
que é supremo, independente e soberano em tudo que faz.
Em quarto lugar, são absolutos e incondicionais. Sua execução não
depende de qualquer condição que se pode ou não cumprir. Em cada caso em
que Deus tenha decretado um fim, decretou também todos os meios para esse
fim. Aquele que decretou a salvação dos Seus eleitos, também decretou
produzir fé neles, (2 Tessalonicenses 2:13). "...O meu conselho será firme, e
farei toda a minha vontade" (Isaías 46:10); mas não poderia ser assim, se o Seu
conselho dependesse de uma condição que não pudesse ser cumprida. No
entanto Deus "...faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade"
(Efésios 1:11).
Lado a lado com a imutabilidade e invencibilidade dos decretos de Deus,
as Escrituras ensinam claramente que o homem é uma criatura responsável e
que tem que responder por suas ações E se as nossas idéias se formam com
base na Palavra de Deus a defesa de um daqueles ensinos não levará à
negação do r outro (Reconhecemos sem reserva que há real dificuldade
em definir onde um termina e o outro começa) Sempre acontece isto quando há
uma conjunção do divino e do humano. A verdadeira-, oração é ditada pelo
Espírito e, não obstante, é também o clamor do coração humano. As Escrituras
são a Palavra de Deus inspirada mas foram escritas por homens que eram
algo mais que máquinas nas mãos do Espírito. Cristo é Deus e homem. Ele e
onisciente, mas crescia em sabedoria (Lucas 2:52). É todo-poderoso porém "...
foi crucificado por fraqueza..." (2 Coríntios 13:4). É o Príncipe da vida e,
contudo, morreu. Mistérios profundos são estes, mas a fé os recebe sem
contestação.
Tem-se assinalado muitas vezes no passado que toda objeção contra os
decretos eternos de Deus aplica-se com igual intensidade contra a Sua eterna
presciência. "Se Deus decretou ou não todas as coisas que acontecem, aqueles
que admitem a existência de Deus reconhecem que Ele sabe de antemão todas
as coisas. Pois bem é evidente que se Ele conhece de antemão todas as coisas,
Ele as aprova ou não as aprova, isto é, ou quer que se realizem, ou não quer.
Mas querer que se realizem é decretá-las (Jonathan Edwards).
Finalmente, procure-se supor e depois contemplar o oposto. Negar os
decretos divinos seria proclamar um mundo, e tudo que se relaciona com ele,
regulado somente por acaso ou por destino cego. Então, que paz, que
segurança, que consolo haveria para os nossos pobres corações e mentes? Que
refúgio haveria para onde fugir na hora da necessidade e da provação? Nada
disso haveria. Não haveria nada menos que as densas trevas e o abjeto horror
do ateísmo. Oh meu leitor, quão agradecidos devemos estar porque tudo está
determinado pela infinita sabedoria e bondade de Deus! Quanto louvor e
gratidão devemos a Ele por Seus decretos! Graças a estes "... sabemos que
todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados por seu decreto" (Romanos 8.28). Podemos
muito bem exclamar: "...glória pois a ele eternamente. Amém" (Romanos

11:36).
Fonte: ARTHUR W. PINK - Os Atributos de Deus