A cabeça de Paulo já está mesmo prestes a rolar. E daí?
Então diante de Agripa esse destemido discípulo não tem medo, nem
usa de meias medidas. Na verdade ele não consegue ser falso em nenhuma situação, nem em lugar algum. A coragem física é uma forma pela qual um homem pode se distinguir. Mas a coragem
moral, que não treme ante as opiniões dos outros, sejam eles quem
forem, é outra coisa. Paulo possuía esses dois tipos de coragem que fizeram dele um Daniel cristão, numa “cova de leões” romana.
Os homens poderão destruir o corpo de um profeta, mas nunca destruirão o profeta.
Mas, como eu ia dizendo, quando Paulo se apresentou perante
o rei Agripa, já estava com a cabeça prestes a rolar. Ciente
de que já estavam bem perto os pés daqueles que o sepultariam, ele
prega com maior fervor, a ponto de aquele rei imoral gaguejar: “Por
pouco me persuades a me fazer cristão”. E também Festo, que era um
dos convidados, esquece as regras da boa educação, e
interrompe-o: “Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar”. Ao
que o apóstolo responde: “Não estou louco, ó excelentíssimo Festo”.
(Acho que o tom de voz que ele empregou aqui dava a entender que
os ouvintes é que estavam loucos.)
Mas diga-me: quando pregamos o evangelho hoje, alguém acha que estamos loucos? Pelo contrário, não podemos fazer
pregações muito taxativas, não é mesmo? Afinal, temos que pensar em
nossa reputação, nas multidões que vêm ouvir-nos, nas ofertas que
temos de levantar, e nos tantos anos que já temos de ministério.
Faz alguns anos, os metodistas realizaram uma convenção
anual em Newcastle, na Inglaterra. E a conclusão a que chegaram é
que, a despeito dos grandes esforços empreendidos nas campanhas de evangelismo em massa e da preservação dos conversos pelo trabalho de discipulado, a “vela do evangelismo” está quase
apagada.
Mas entre eles existem homens de grande coração, de visão
ampla e de grandeza de mente. Um deles é Edwin Sangster, teólogo,
escritor e agora também presidente da junta de missões nacionais. Ele
não refuta a acusação de que o metodismo está enfermo, quase à
morte.
Mostra-se comovido, e comove outros. Ouça o que ele diz: “Estamos lutando contra uma doença entranhada nas profundezas da alma da nação. E para ela temos que empregar uma profunda terapia de raios-X que ainda não conseguimos definir com clareza”.
E depois acrescenta: “Acredito, com tristeza, que o agnosticismo está-se desenvolvendo na Inglaterra, em vez do avivamento que os metodistas tanto desejavam. E creio que, mesmo que o número dos presentes fosse menor, poderíamos ter a conversão de todos eles. Mas o que acontece é que até os que estão nos púlpitos têm problemas de incredulidade”.
E enquanto a igreja vai-se tornando fria e ineficiente, as
cadeias e as varas de família onde se julgam os divórcios estão cada
vez mais superlotadas.
Deve ser este o clamor dos mártires: “Não julgas nem vingas
o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” E o dos vivos,
quero dizer, dos que realmente estão vivos, que têm a vida de
Deus, será: “Julga a minha causa contra o meu adversário... Não fará
Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite?”
Não há dúvida de que se aproxima o momento em que Deus não poderá mais aplicar a sua graça, e então o castigo será inevitável.
A quem muito foi dado, muito será cobrado. Há milhões e
milhões de indivíduos em trevas por não terem luz. Contudo as
grandes democracias são os maiores culpados, pois possuem luz, mas abafam-na, escondem-na debaixo de um alqueire chamado
comércio, ou de uma cama chamada “ociosidade”. Certamente um pecado
como esse, tão semelhante ao de Sodoma, merece um castigo igual
ao
dado a Sodoma. “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua
irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e
suas filhas; mas nunca amparou o pobre e necessitado”. (Ez
16.49.) E nestes dias em que vivemos, dias de iminente destruição,
precisamos de profetas, de homens santos que falem da parte de Deus “movidos pelo Espírito Santo”. E se Deus não estiver operando através
dos pregadores, acho melhor pararmos de vez. Mas a verdade é que
ele opera, sim, por meio deles.
Nem Gideão nem ninguém sofre perseguições por causa de suas visões; são as suas ações que provocam a ira daqueles que
foram ofendidos. Basta que Gideão saia à meia-noite e derrube o
posteídolo de Baal, para o inferno descarregar sobre ele toda a sua
fúria. Basta que João Batista chame os sacerdotes de “raça de
víboras” e censure a conduta adúltera de Herodes, para assinar sua
própria sentença de morte. Não há dúvida de que precisamos de
profetas nestes dias de apostasia, em que os cultos e seitas divulgam
suas
crenças distorcidas e suas meias verdades.
Será que a terra ainda vai ter de suportar por muito tempo
esse sistema bem organizado, mas paralisado, que se chama
cristianismo? Estará Sangster com a razão, quando afirma que ainda não encontramos o remédio para a grave enfermidade que assola a nação? (Talvez seja mais correto dizer que estamos desprezando
o velho método de proclamar o arrependimento, regeneração e santificação). Mas bem no fundo de meu coração guardo comigo
um consolo e quero partilhá-lo com os leitores agora. Quando
vier aquele avivamento enviado por Deus, direto dos céus, em poucas
semanas desfará os males que o pernicioso modernismo levou anos elaborando. E quando soprar essa ventania do Espírito, os enganosos doutores em divindades verão derrubar-se a casa
que edificaram sobre a areia: as interpretações humanas da
Bíblia. A mente da humanidade está doente, e seu coração fraco. Pelo esquema montado pelos homens, estamos no fim da linha. Já
está tudo pronto para a maior detonação de todas as épocas, que esmigalhará a terra, com a destruição atômica. E o inferno
se acha de boca escancarada para engolir os despojos que os iníquos modernistas ajuntaram quando venderam o sangue de Cristo por
um prato de cozinhado vermelho (a chamada “Alta Crítica”).
Desperta, braço do Senhor! Reveste-te de força! Chegou a
hora do avivamento. Vivemos a era da condenação. Onde estão os
homens de Deus? Um profeta pode operar milagres, mas precisa ter
uma
mensagem. O homem do mundo está confuso, indagando: “Deus
tem alguma mensagem para nós?”
É que ele sabe que ninguém mais tem uma mensagem coerente. Mas como Deus não pode mentir, as profecias de Joel 2 e
Malaquias 3 se cumprirão: “De repente virá ao seu templo o Senhor”.
Que
maravilhoso consolo para nós! Num momento, a sequidão; no seguinte, a libertação. Dez minutos antes de João Batista
chegar ninguém sabia que ele estava por ali. E o que aconteceu naquela época, irá acontecer também no futuro, tenho certeza. Deus
terá o controle total dos ouvidos, coração e vontade de um homem.
E alguns que, no momento, estão passando despercebidos,
surgirão proclamando, no poder do Espírito, as verdades candentes que
esta geração precisa escutar. Suas palavras serão ardentes como
metal líquido. E Deus espera, com grande paciência. Mas, quando ele se erguer, “quem pode suportar o dia da sua
vinda?” E quando o Espírito operar, pessoas que agora estão entregues ao pecado, irão quebrantar-se e se arrepender. O
Kremlin estremecerá quando souber da operação sobrenatural de Deus
que
estará ocorrendo na China. Que Deus suscite logo um
avivamento na China, Rússia, Alemanha e outras nações que estão sendo queimadas com o fogo do comunismo. Primeiro porque esses
povos precisam demais dele; depois para que as nações livres se
sintam enciumadas, como Jonas quando viu a população de Nínive se arrependendo.
Para que o faraó capitulasse foram necessárias dez pragas.
Depois disso, os israelitas foram conduzidos à vitória por Moisés,
o profeta. Hoje estamos vendo outras dez pragas — mais sinistras,
eficazes e poderosas do que aquelas, pois afetam o mundo todo, e não se acham confinadas apenas ao Egito. E, no entanto essas dez
pragas não lograram tocar o coração do homem moderno, mas o
tornaram ainda mais ímpio.
Será que não haverá aí um Moisés contemporâneo nosso? Vamos permitir que esta geração pereça escravizada a um cativeiro
moral, e continuar aqui sentados, de braços cruzados, sem fazer nada?
Será
que vamos continuar sendo apenas espectadores, que
contemplam tudo como que hipnotizados, enquanto Lúcifer, que já está
com milhões de almas acorrentadas em sua carruagem infernal, vai levando muitas outras pelo caminho largo, para as trevas
eternas? Precisamos redescobrir o segredo daqueles homens benditos de
que fala a Palavra de Deus: “Os quais, por meio da fé,
subjugaram reinos... fecharam bocas de leões” (daquele leão que anda em derredor “procurando alguém para devorar”). Numa época como
a nossa, de destruição iminente, este cristianismo sem vida,
fraco, imobilizado, está precisando de homens cheios de Deus, de
profetas movidos por ele. Precisa-se: profetas de Deus.
“A necessidade mais premente de nossos dias é de um batismo
de santidade, uma demonstração de um viver santo”.
Fonte: Leonard Ravenhill