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terça-feira, 4 de março de 2014

BELEZA ESTILÍSTICA DE CERTAS PORÇÕES DA BÍBLIA

Com efeito confesso que alguns profetas têm um modo de dizer elegante e polido, até mesmo esplendoroso, de modo que sua eloqüência não é inferior à dos escritores profanos. E, com tais exemplos, o Espírito Santo quis mostrar que não lhe faltava eloqüência, enquanto em outros lugares fez uso de um estilo não burilado, nem pomposo. Entretanto, quer leias Davi, Isaías e outros, a quem a palavra flui suave e aprazível; quer Amós, um vaqueiro, Jeremias e Zacarias, cuja linguagem, mais áspera, tem o sabor da rusticidade, por toda parte se evidenciará essa majestade do Espírito a que me referi.

Nem me passa despercebido que Satanás é em muitos aspectos um imitador de Deus, a fim de, mediante enganosa similaridade, melhor insinuar-se à mente dos simplórios. Daí, com um linguajar desataviado e quase bárbaro, semeou ele habilidosamente
erros ímpios, com os quais enganava míseras criaturas humanas, e não raro fez uso até de formas obsoletas de discurso, para, sob esta máscara, encobrir suas imposturas. Todavia, todos quantos são dotados mesmo de discernimento mediato percebem quão vazia e repulsiva afetação é essa.

Quanto, porém, respeita à Sagrada Escritura, ainda que, muitas vezes, indivíduos petulantes a tentem corroer, entretanto se faz claro que ela está repleta de ideias que não poderiam ser concebidas em bases estritamente humanas. Tenha-se em vista a cada um dos profetas: não se achará sequer um que não haja excedido em muito
à capacidade humana, de forma que, todos os que não acham sua doutrina saborosa, são homens que perderam o paladar e são totalmente néscios.

As Institutas de João Calvino