Outros já
trataram deste assunto de forma mui exaustiva, resultando disso que, no presente,
é bastante abordar apenas de leve uns poucos pontos que contribuam de modo
especial à síntese de toda a matéria. Além daqueles aspectos que já
abordei, não é de pouco peso que desfruta a própria antigüidade da Escritura.
Ora, por mais que os escritores gregos falem muitas coisas a respeito da
teologia egípcia, contudo não subsiste nenhum registro de qualquer religião que
não seja muito posterior à era de Moisés.
Nem está
Moisés a inventar um novo Deus. Ao contrário, apenas menciona o que,
transmitido pelos patriarcas, como que de mão em mão, no longo decurso dos tempos,
haviam os israelitas recebido a respeito do Deus eterno. Pois, que outra coisa
faz, senão reencaminhá-los ao pacto iniciado com Abraão [Gn 17.7]? Ora, se
ele houvesse apresentado coisa inaudita, nenhuma aceitação haveria.
Entretanto, teria sido um fato a todos conhecido e corriqueiro o
livramento da servidão em que estavam sendo retidos, de sorte que, ao
ouvir-lhe a menção, de pronto levantaria o
ânimo de
todos. Ademais, não é menos provável que houvessem sido por ele instruídos
quanto ao término dos quatrocentos anos [Gn 15.13; Ex 12.40; Gl 3.17].
Ora, se
Moisés, que entretanto ele próprio supera por espaço tão grande de
tempos a todos os outros escritores, reivindica a transmissão de seu ensino
desde um começo tão remoto, é preciso considerar quanto a Sagrada Escritura
sobressai em antigüidade entre todas as demais.
As
Institutas de João Calvino