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sexta-feira, 17 de maio de 2019

Um Mal Infinito - Samuel Bolton - (1606-1654).



Se o pecado é o maior mal, então isso deve conduzir-nos para:
1. a maior tristeza
2. o maior ódio
3. o maior cuidado em evitá-lo
4. o maior empenho em livrar-nos dele.
Se o pecado é o maior mal, então precisa haver a maior tristeza por sua causa. Nenhuma aflição, nenhum problema, nenhum mal deve ser tão amargo para nós como o pecado, porque o pecado é o maior mal. É uma coisa triste ver nossos coraçõessuscetíveis e sensivelmente afetados com males menores e problemas, e ainda permanecerem duros e insensíveis ao pecado, o qual é o maior dos males.
Seria sábio de nossa parte, portanto, quando nenhum outro mal estiver sobre nós, voltarmos todos os nossos lamentos, lágrimas e tristezas para o pecado.
É um aforismo na medicina que, se um homem sangrar copiosa­mente num lugar, os médicos o farão sangrar em outro lugar, a fim de fazer o fluxo de sangue mudar de direção. Seria sábio de nossa parte, quando nossas almas sangrarem e nossos corações lamentarem por outros males, direcionar todos os lamentos angustiosos para o pecado. Deixem que eles corram pelo canal certo.
Lágrimas derramadas deveriam ser derramadas novamente se não foram derramadas pelo pecado. A tristeza é como a influência de Mercúrio: boa, se unida a outro planeta bom, má, se ligada a um planeta mau. Não é tanto a tristeza em si como o é a base e a fonte da tristeza. O motivo dela é que deve chamar a atenção. A tristeza era nula em Judas, sincera em Pedro, foi nula em Saul, sincera em Davi. Mundana em um, divina em outro - "A tristeza do mundo opera a morte ". E tal é toda tristeza que não tem o pecado como seu fundamento, graça como seu princípio e Deus como seu fim.


Onde o pecado é entendido como sendo o ma ior mal, será objeto da maior tristeza, tristeza para exceder todas as outras tristezas.
1. Embora nem sempre em quantidade c tamanho, mas em qual ida de e equivalência: um pouco de ouro vale tanto quanto unia grande quantidade de terra e entulho.
2. Embora não em força - porém em extensão e continuidade -outras tristezas são como terra inundada, ocasionada pela tempestade a qual quando se vai, a inundação desaparece. Esta tristeza divina vem de um manancial, e tendo uma fonte para alimentá-la, é permanente mesmo quando a outra se vai. Esta é a diferença entre a tristeza divina e a outra.
As tristezas do povo de Deus, que são espirituais, vêm de um manancial. A tristeza mundana surge da tempestade, da comoção. As tristezas do ímpio surgem de suas tristezas emocionais, surgem de uma tempestade, de peso na consciência, de temor da ira, portanto suas tristezas mundanas surgem de uma fonte.
Onde o pecado é compreendido como sendo o maior mal, haverá a maior tristeza, (1) a tristeza é proporcional à medida e gravidade do pecado e (2) a tristeza é proporcional ao merecimento e valia do pecado.
Como o merecimento do pecado é infinito, então a tristeza por ele deve ser uma tristeza infinita. Infinito, digo, não em ação e expressão, porém no desejo e afeição da alma. Aquele cujo coração e olhos secam ao mesmo tempo, cuja expressão em lágrimas e inclinação à tristeza terminam ao mesmo tempo, embora tenha chorado um mar de lágri­mas, não tem ainda verdadeiramente chorado pelo pecado. Se a tristeza vem de Deus, há uma disposição ao lamento mesmo quando cessam as expressões de lamento, porque cada gota de lágrima vem de uma fonte interior de lágrimas.
Como cada ato de fé surge de uma disposição de crer, um hábito de fé interior, todo ato de amor surge de um princípio de amor interior, assim toda expressão de tristeza surge de uma disposição à tristeza no espírito. Por isso lemos em I Sam. 7:6 que as tristezas dos filhos de Israel são expressas por esta metáfora:"... e tiraram água(vinda de um poço) e a derramaram perante o Senhor ". Seus olhos não davam vazão à medida que seus corações se enchiam. Seus olhos não podiam extravasar tão rápido quanto seus corações produziam. Todas as suas expressões de lamento, estavam aquém da disposição ao lamento que havia em seus corações.
Esta é a tristeza pelo pecado: uma tristeza proporcional à medida, ao demérito do pecado; uma tristeza que excede todas as outras tristezas, embora não em quantidade, mas em qualidade; embora não em força, porém, em extensão e continuidade.
O pecado é o supremo mal? Então exige que seja manifestada uma aversão ainda maior. Nada é propriamente o objeto de aversão a não ser o mal, no entanto, nem todos os tipos de males, e sim o mal do pecado. Males puníveis são mais objetos de medo do que de aversão, porque eles são males impróprios. Nada realmente é mal a não ser o que nos torna maus, e esse pode ser um meio de nos tornarmos bons e, por isso, não é propriamente mal e sim um objeto de aversão.
O mal pecaminoso é objeto de inimizade por que é mal e, sendo o maior dos males, deveria então ter o máximo de nossa aversão." Vocês que amam o Senhor,odeiem o pecado. (Sal. 97:10). Não é suficiente ficar irritado e descontente com ele, pois é assim que o homem age com alguém que seja seu amigo, alguém a quem ele ame, no caso de alguma descortesia. Nem é suficiente desferir golpes contra o pecado, pois assim muitos o fazem hoje e o abraçam amanhã. Entretanto, vocês precisam se esforçar para matar o pecado. O ódio procura anular aquilo que ele odeia. Nada a não ser a destruição dele irá satisfazer a alma que realmente odeia o pecado.
Há muitos erros nos homens com relação à este ponto. Em resumo, eu mostrarei a vocês os enganos secretos do espírito em relação a isso e quão longe estão de odiar o pecado.
1. Um homem pode desavir-se com um pecador pelo qual ele foi persuadido a pecar, e ainda assim não odiar o pecado; pode matar o traidor e ainda gostar da traição.
2. O homem pode desavir-se consigo mesmo pelo pecado e ainda assim não odiá-lo quando este o incomoda, pois ele gosta de pecar.
3. O homem pode indispor-se com o pecado e ainda assim não odiá-lo; atira fora o carvão em brasa quando ele o queima, e ainda assim não se contraria com onegrume ou a sujeira que vem dele.
Se o pecado é o maior mal, então isso requer o maior cuidado para evitá-lo. Os homens naturalmente têm medo de cair no mal. Que estudos, que cuidados, que esforços há para prevenir o mal? Se vocês entendem que o pecado é o maior mal, devem então não medir esforços em evitá-lo. Vocês precisam se esforçar para andarem o mais próximo e corretamente com Deus, a fim de estarem atentos a todas as ocasiões, tentações e seduções que poderiam atraí-los para o pecado. Ninguém está totalmente seguro; pode cair em pecado aquele que negligenciar a vigilância cristã.
Assim, onde o pecado é entendido como sendo o maior mal existirá maior cuidado e seriedade contra o pecado. Tal homem é familiarizado com as falhas dos outros, as quais para ele não são limites da terra para orientá-lo, e sim limites da maré e rochas a evitar. Ele é familiarizado com a fraqueza e a iniqüidade de seu próprio coração e espírito, e por conseguinte vigia. Ele sabe que não pode confiarem nenhum dos seus membros sem que esse esteja debaixo de vigilância.
Os olhos estão cheios de pecado: adultério, orgulho, inveja, concu­piscência dos olhos (I João 2:16) e ele não pode confiar em seus olhos sem o pacto de Jó: "Fiz um concerto com meus olhos, como eu os colocaria sobre uma virgem ? (Jó 31:1).
A língua está cheia de pecado: de maldição, murmurações, injúrias, palavras vãs e não há confiança nela sem o freio de Davi: Eu disse: guardarei os meus caminhos para não delinqüir com a minha língua" (Sal. 39). Ele conhecia sua própria fraqueza e iniqüidade, e por isso não ousava confiar em nenhum membro sem ser vigiado.
Tal homem está familiarizado com o poder e estratégia de satanás, que é, comoLutero o chamou, um inimigo sutil, cujas tentações são chamadas de "as profundezas de satanás". Apoc. 2:24; seus ardis, II Cor. 2:11, seus métodos Ef. 4:14. Ele também adapta espertamente suas tentações.
Tal pessoa está familiarizada com os perigos e as estratégias do pecado, e como ele é (1) enganoso em seu objetivo; (2) enganoso em seus argumentos; (3) enganoso em suas pretensões e artimanhas; (4) enganoso em suas intrusões e (5) enganoso em suas promessas. E assim tal pessoa manterá uma santa sobriedade, um temor humilde, grande e cuidadoso sobre seu próprio espírito de modo a não cair em pecado. Ele vê o pecado como seu mal sem par, emprega seu maior esforço e cuidado para evitá-lo.
Se o pecado é o maior mal, então devemos principalmente nos empenhar em nos livrar do pecado. Todo homem deveria se esforçar para livrar-se do mal, e quanto maior o mal, tanto maior deveria ser o desejo dele de se livrar desse mal. Ora, o pecado é o maior dos males. Quanto mais então deveríamos labutar e esforçarmo-nos para sermos libertos do maior dos males?
Ai, ai de mim! O que são os outros males comparados ao mal do pecado - o qual torna nosso bem em mal? E ainda para se ver a vileza do íntimo dos homens, ficam felizes em se livrar de todos os outros males, senão o do pecado. Assim disse Faraó: "Retire esta morte, esta praga." Eles reclamam do resultado do mal, porém não do mal em si, da punição do mal, no entanto não do mal punido. Eles uivam sob os castigos e aflições presentes, mas nunca lamentam o pecado. Eles ficariam felizes em se livrar da dor, todavia ainda prefeririam manter os dentes. Infelizmente, até que o pecado seja removido, não seremos tratados em misericórdia, e sim em julgamento; uma temporária libertação somente nos reservaria o mais severo golpe. Pelo contrário, onde o pecado é removido, a aflição será removida. Eles são como o corpo e a sombra: remova o corpo e a sombra será removida. O pecado é o corpo e as aflições são sua sombra.
Se, por outro lado, as aflições continuam, ainda que Deus tenha levado embora o pecado, a vileza do mal terá sido retirada. O pecado é a lança de toda aflição. O pecado é aquilo que amarga toda cruz, e o pecado sendo retirado, aquilo que é malévolo é retirado e aquilo que é terapêutico e para a salvação, permanece. Trata-sede resultados mais do que da punição em si. Tudo acaba na misericórdia quando pela misericórdia o pecado é retirado.
Se o pecado é o maior mal, então vamos escolher cair em qualquer grande mal do mundo, exceto no menor mal do pecado. Todos os outros males têm algum bem neles e são objetos de escolha, no caso de não podermos evitá-los, mas no caso do pecado é questão de admissão e não de escolha. Desse modo, vejamos o que Moisés fez, como se lê em Hebreus, capítulo onze. Ele preferiu ser maltratado com o povo de Deus do que gozar os prazeres do pecado por um pouco de tempo. Todavia o pecado é totalmente mau, sem nenhum bem nele, e não existe nada no mundo que deveria nos obrigar a escolher o pecado.
Seria o pecado o maior mal? Deixemos que isso nos leve a sentir compaixão e a orarmos por aqueles que estão sob o domínio do pecado. Vocês se compadecem de amigos doentes, de amigos pobres, amigos arruinados. Contudo, o que são todos esses males comparados com o mal do pecado? O que é a pobreza? O que é a doença? O que é qualquer coisa comparada com o mal do pecado? Todos eles são males exteri­ores, o pecado é um mal interior. Tudo isso tem uma natureza temporal, a morte é o fim de tudo, entretanto este mal é de natureza eterna. Todos os outros males não tornarão ninguém em objeto da inimizade e ira de Deus. Portanto, gastem algumas lágrimas e orações por aqueles que estão dominados pelo pecado. "Oh!", disse Abraão: "Quelsmaelviva diante de ti". Mencionem então os amigos, um irmão, um pai, etc., que estão debaixo do domínio do pecado, que estão sob a tirania do pecado. Oh, que vocês possam compadecer-se de suas almas! Oh, que vocês possam arrebatá-las do domínio do pecado!
Se o pecado é um mal tão grande, então prostremo-nos e admire­mos a grandiosidade da paciência de Deus em suportar os pecadores e a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Admire­mos a grandeza da paciência de Deus em suportar os pecadores. É possível que você, amigo, tenha sido um pecador depravado, um beberrão,umblasfemomiserável nesses vinte, trinta, quarenta, talvez sessenta anos ou mais. Deus desistiu de você? Oh, veja nisso a maravilha da paciência de Deus.
Se não fosse por Deus ser Todo-poderoso na extensão da Sua paciência, teria sido impossível para Ele suportá-lo por tanto tempo. Assim Ele nos fala em Os. 11:9:"Eu sou Deus e não homem — eu entrareina cidade para destruí-la ". EmMal. 3:6-."EusouJeováe não mudo; por isso vós, ofilhos de Jacó não sois consumidos ",significan­do que se Ele não fosse Deus, se não fosse Todo-poderoso na extensão de Sua paciência, eles teriam sido certamente eliminados muitos antes.
Se o homem é provocado diariamente e irritado com ofensas e não revida, atribuímos isso à sua pusilanimidade ou à sua impotência; ou à sua falta de coragem ou à sua falta de poder. Mas não é assim com Deus. Sua paciência é o Seu poder (Num. 14:17-18). Quando Deus tinha ameaçado destruí-los Moisés orou a Deus para perdoá-los, e chamou este ato de Sua paciência nada menos que Seu poder: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: o Senhor é longânimo... " Vejam, Ele faz Sua paciên­cia ser Seu poder. E é isso realmente, se vocês considerarem o que é o pecado. Eu não direi nada mais sobre o assunto além do que Deus diz em Lev. 26:21 - pecar é contrariar Deus.
1. Pecar é contrário às obras de Deus. Tão logo que Deus revelou e aperfeiçoou o sistema do mundo, o pecado deu um golpe na tentativa de abalar esse sistema, e ele gostaria de ter feito tudo em pedaços. Se não fosse pela promessa de Cristo, tudo teria se desintegrado.
Se um homem viesse ao atelier de um artesão e com um golpe quebrasse em pedaços a peça de arte que custou muitos anos de estudo e dores para idealizá-la, como o artesão suportaria isso? Assim fez o pecado, e será que Deus deveria suportá-lo? Oh, onipotente paciência!
2. E ainda mais, tudo isso é contrário à natureza de Deus. Ele é santo, o pecado é obsceno; Deus é puro; o pecado é impuro e, por isso, é comparado ainda à coisa mais impura do mundo: o veneno de áspides, úlceras, feridas, etc. Se toda a contaminação nociva do mundo se concentrasse em um antro comum, não seria igual à contaminação do pecado.
Deus é bom, perfeitamente bom; o pecado é mau, universalmente mau. Existe o bem em todas as outras coisas, pragas, doenças. O inferno em si tem um tipo de bem nele. Mas no pecado não. Pecado é a blasfêmia prática do nome de Deus. É o desafio à Sua justiça, a violência à Sua misericórdia, o zombar de Sua paciência, o desrespeito ao Seu poder, o desacato ao Seu amor. É totalmente contrário a Deus.
3. O pecado é contrário à vontade de Deus. Deus nos ordena a fazer algo. O pecado diz: "Eu não vou fazer isso". "Santificado seja meu sábado", diz Deus. "Eu não o santificarei", diz o pecado. Aqui há contradição, e quem pode suportar a contradição?
Isso é considerado como parte importante dos sofrimentos de Cristo (Heb. 12:3). Ele suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Certamente esse foi um grande sofrimento. Como pode um homem sábio suportar a contradição de um tolo? É aqui que Cristo -a sabedoria do Pai - suportou tal contradição dos tolos, a qual Lhe causou grande sofrimento.
O pecado contradiz Deus. Ele põe a vontade contra a sabedoria e o inferno de uma vontade corrupta contra o céu da infinita sabedoria. Imaginem! Deus suportando pecadores. Eis a maravilha!
Vocês sabem que em todas as criaturas a oposição opera toda a combustão. Ela faz toda a guerra na natureza, ela provoca um elemento para brigar contra outro. Fogo contra água, água contra fogo. Ela faz as muitas pedras suarem e partir em pedaços.
Percorram toda a criação e não encontrarão nenhuma criatura que possa suportar ser contrariada. Como pode o pecador viver num mundo onde Deus e o pecado estão em oposição? Eis aí a maravilha: uma extraordinária paciência!
O pecado seria um mal tão grande? Então prostremo-nos, e admi­remos a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Vejam como o profeta clama e o admira: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade, e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança?... " (Miq. 7:18).
Esta é uma das maiores obras que Deus faz no mundo: perdoar o pecado. É uma obra na qual Ele revela todos os Seus gloriosos atributos: Sua sabedoria, Seu poder, Sua justiça, Sua misericórdia, Sua santidade e assim por diante, ao perdoar o pecado.
Os homens que pensam que a misericórdia perdoadora de Deus é simples e sem importância, dão dessa forma um sinal evidente de que nunca receberam perdão, nunca souberam o que era realmente receber o perdão.
Seja houve alguma obra no mundo que pôs Deus à prova, o perdão foi essa obra. E se algum dia Deus intentou algo de bom para você, Ele o instruirá e o orientará quanto ao perdão do pecado. Entretanto, Deus humilha os homens em sua prestação de contas para elevar o conceito deles sobre o perdão, para promover a grandeza de sua própria misericórdia em perdoar o pecado. E realmente não precisaríamos de tão grandes preparações e humilhações ao virmos para Cristo se tivéssemos pensamentos mais elevados sobre o perdão do pecado. Os homens consideram perdão aquilo que não passa de um lamento: "Deus, tenha misericórdia!" Cometem uma blasfêmia e então dizem: "Deus, me perdoe!" ou dizem: "Senhor tenha misericórdia de mim quando eu morrer!"
Dizem que Luiz II, rei da França, usava um crucif i xo em seu chapéu e quando ele pecava, beijava o crucifixo e então tudo estava resolvido. Os papistas fizeram o mesmo com o crucifixo e a confissão. Ah, meus irmãos, se Deus destinou o bem para vocês, Ele os fará saber o que é perdão. Em Is. 55:8, quando Deus atraiu os homens para mostrar-lhes o perdão, Ele os chamou para um lugar alto acima do mundo "...meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos cami­nhos os meus caminhos ", diz o Senhor. "Se eles fossem, então Eu não poderia multiplicar o perdão, mas como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus pensamentos mais altos do que seus pensamentos, e Meus caminhos mais altos do que seus caminhos. Eu sou infinito".
Se a misericórdia criadora de Deus é tão grande, como Davi com dupla admiração declarou no Sal. 8:1 e no último versículo: "O Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus " o que dizer então de Sua misericórdia perdoadora?
Finalmente, seria o pecado um mal tão horrendo? Então vejam que motivo temos para humilhar nossas almas diante de Deus neste dia devido termos pensamentos tão superficiais sobre o pecado, e desde que Deus tem classificado o pecado como o maior de todos os males. Que pensamentos levianos temos do pecado? Podemos engoli-lo sem medo, podemos viver nele sem percebê-lo, podemos cometê-lo sem remorso. Tudo isso mostra a superficialidade dos nossos pensamentos sobre o pecado. Não avaliamos o pecado como sendo um mal tão grave como realmente ele é.


Samuel Bolton

segunda-feira, 6 de maio de 2019

O que significa afetos?


Minha resposta é que afetos são os exercícios mais vigorosos e práticos da inclinação e da vontade da alma. Deus dotou a alma de duas habilidades.
Uma é a capacidade de percepção e especulação para discernir, ver e julgar. Isso se chama entendimento. A outra habilidade é que a alma não apenas percebe e vê, mas, de alguma forma, se inclina na direção do que vê ou avalia. Tanto pode se inclinar para aceitar quanto para rejeitar o que viu.

Devido a essa habilidade, a alma não quer permanecer como espectador indiferente e impassível. Gosta ou não gosta, se agrada ou não se agrada, aprova ou rejeita. Essa habilidade se chama inclinação. Quando determina e governa as ações, se chama vontade. Quando a mente entra no processo, a inclinação costuma ser chamada de coração.

Há duas formas de exercitar a inclinação. A alma vê alguma coisa com aprovação, prazer e aceitação, ou com oposição, desaprovação, desagrado e rejeição. Esses exercícios da inclinação e da vontade da alma variam de intensidade. Alguns chegam perto da indiferença, mas há graus onde aprovação ou desagrado, prazer ou aversão são mais fortes.

Quando a alma reage com vigor e força, o exercício é ainda mais intenso. Na verdade, o Criador ligou o corpo à alma, de modo que até a vida física pode ser afetada por tais emoções. Em todas as culturas e tempos essa habilidade tem sido chamada de coração. São os exercícios vigorosos e sensíveis dessa habilidade que chamamos de afetos. Assim, vontade e afetos da alma não são elementos distintos. Em sua essência, os afetos não são separados da vontade.

Diferem dela apenas na vivacidade e sensibilidade do exercício, não em sua expressão. Algumas vezes, a línguagem é inadequada, pois o signifi cado das palavras tende a se perder e se tornar vago, sem defi nição exata no uso comum. Em um sentido, afetos da alma não diferem da vontade e da inclinação.

Mas, em outros aspectos, o ato de vontade e inclinação não pode ser chamado de afeto, porque em tudo que atuamos, quando agimos voluntariamente, há um exercício da vontade e da inclinação. Nossa inclinação dirige nossos atos, mas nem todos os atos de inclinação e vontade são chamados de afetos. A diferença entre o que é afeto e o que não é reside apenas na intensidade e na forma da ação. Em cada ato a vontade gosta ou não gosta, aprova ou rejeita.

Isso, em essência, não é diferente dos afetos de amor e ódio. Na verdade, a apreciação ou inclinação da alma em direção a alguma coisa, caso seja intensa e vigorosa, é o que chamamos de afeto de amor, e o mesmo grau de rejeição e desaprovação é o que chamados de ódio. Assim, o que cria o afeto é o grau de atividade da vontade, seja a favor ou contra um determinado elemento.

Na unidade intrínseca entre nosso corpo e nossa alma, que faz parte de nossa natureza, uma inclinação vigorosa e intensa da vontade afeta também o corpo. Essas leis da união entre corpo e alma e sua constituição podem levar ao exercício dos afetos. Porém a mente, não o corpo, é o local adequado para os afetos. O corpo humano não tem capacidade, sozinho, de pensar e entender. Apenas a alma possui idéias, de modo que só ela se agrada das idéias ou as rejeita.

Já que apenas a alma pensa, apenas ela ama ou odeia, se regozija, ou sofre com o que pensa, os efeitos dessas emoções no corpo não são os afetos, e não são, de forma alguma, essenciais para a existência deles. Portanto, um espírito sem corpo é capaz de amar e odiar, se alegrar ou se entristecer, ter esperança ou temer, ou outros afetos.

Embora freqüentemente se confunda afetos com paixões, trata-se de coisas diferentes. Afeto é uma palavra com importância muito mais ampla que paixão e é usada para referir atos fortes da vontade ou inclinações. Paixão se refere a atos súbitos com efeitos mais violentos sobre o corpo. A mente é mais subjugada e tem menos controle. Como no exercício da inclinação e da vontade, os afetos motivarão a alma a buscar e se apegar ao que vê, ou a afastar a alma e se opor ao que viu.

Amor, desejo, esperança, alegria, gratidão e satisfação motivam a alma. Ódio, medo, raiva e sofrimento a afastam. Alguns afetos são a mistura de duas reações. Por exemplo, o afeto da piedade motiva a alma na direção da pessoa que sofre ao mesmo tempo que a afasta do sofrimento. O zelo contém tanto apreciação elevada de algo pessoal quanto um antagonismo vigoroso quanto ao que se opõe ao que é valorizado. Poderia mencionar outros afetos combinados, mas quero passar logo ao próximo tópico.

Jonathan Edwards 

Os afetos como evidência da verdadeira religião


“Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e apesar de não o verem agora, crêem nele e exultam com alegria indizível e gloriosa” (I Pedro 1:8).

Com essas palavras o apóstolo descreveu o estado mental dos cristãos a quem escrevia, que sofriam perseguição. Nos dois versículos anteriores ele trata da perseguição, falando de “provações” e “entristecidos por todo tipo de provação”.

Tais provações acarretam três benefícios para a verdadeira religião. Em primeiro lugar, mostram o que é a verdadeira religião, pois as difi culdades tendem a fazer distinção entre o falso e o verdadeiro. As provações testam a autenticidade da fé, assim como o ouro é testado pelo fogo.

A fé dos verdadeiros cristãos, que é testada e se mostra verdadeira, “resultará em louvor, glória e honra”, como o versículo 7 afi rma. As provações, então, são um benefício a mais para a verdadeira religião não apenas porque manifestam a verdade, mas também porque destacam sua beleza e atração. A virtude fi ca mais atraente quando é oprimida. A excelência divina do cristianismo genuíno se apresenta melhor sob as maiores provações. Então, ela resulta “em louvor, glória e honra”.

O terceiro benefício para a verdadeira religião é que as provações a purifi cam e intensifi cam. Não se limitam a mostrar que ela é verdadeira, também a libertam de infl uências falsas.
Fica apenas o que é real. As provações aumentam a atração da verdadeira religião. São esses, então, os benefícios das perseguições religiosas em que o apóstolo pensava, quando escreveu o versículo acima.
No próprio texto, o apóstolo observa como a verdadeira religião operava nos cristãos a quem escrevia e como eles viam esses benefícios de perseguição. Ele sentia que o sofrimento deles revelava dois exercícios da verdadeira religião.

1. Amor a Cristo

 “Mesmo não o tendo visto, vocês o amam”. O mundo queria saber que princípio estranho infl uenciava aqueles cristãos e os levava a se exporem a tanto sofrimento e a renunciarem a tudo de que gostavam e era agradável aos sentidos.

O mundo que os cercava os considerava loucos, já que agiam como se odiassem a si mesmos. O mundo não conseguia ver nada que os levasse a sofrer tanto ou a sustentá-los durante as provações. Eles sentiam amor sobrenatural por alguma coisa invisível. Amavam Jesus Cristo, a quem viam espiritualmente, mas o mundo não O via.

2. Alegria em Cristo

Os sofrimentos visíveis eram intensos, mas os cristãos possuíam alegria espiritual interior maior do que o sofrimento. Isso os sustentava e os capacitava a sofrer com alegria. O apóstolo comenta dois aspectos sobre a alegria. Primeiro, fala sobre o modo como ela aparece.

Cristo, pela fé, é o fundamento de toda alegria. Isso é a evidência de algo invisível: “apesar de não o verem agora, crêem nele e exultam”. Segundo, fala sobre a natureza da alegria: ela é “indizível e gloriosa”. Indizível porque é muito diferente da alegria mundana e dos prazeres carnais.

Sua natureza é mais pura e sublime, é celestial porque é sobrenatural, divina, excelente, acima de qualquer descrição. Não há palavras para descrever a sublimidade e a rica doçura da alegria em Cristo. É indizível também porque Deus distribui aos cristãos essa Sua alegria santa com liberalidade e, em grande medida, quando se encontram sob a ameaça da perseguição. A alegria deles era repleta de glória. Pode-se dizer isso.

Não há palavras mais adequadas para representar a excelência da alegria. Enquanto eles se regozijavam, um brilho glorioso tomava conta das mentes, e a natureza deles era exaltada e aperfeiçoada. Era um regozijo digno e nobre, porque não corrompia nem pervertia a mente, como as coisas carnais costumam fazer. Em vez disso, a mente recebia beleza e dignidade.

A antecipação da alegria do Céu elevava a mente deles a um êxtase celestial e os enchia da luz da glória de Deus, fazendo-os brilhar com a manifestação dessa glória. Com esse pensamento em mente, proponho o seguinte princípio: “A verdadeira religião consiste, em grande parte, de afetos santos”.

O apóstolo, observando e comentando os efeitos das provações sobre a verdadeira religião, indicou o amor e a alegria como os dois afetos religiosos a serem exercitados. Esses afetos demonstram que a religião deles é verdadeira e pura em sua glória característica. Em primeiro lugar quero explicar o que significa afetos e depois mostrar como grande parte da verdadeira religião reside neles.

 Jonathan Edwards