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segunda-feira, 6 de maio de 2019

O que significa afetos?


Minha resposta é que afetos são os exercícios mais vigorosos e práticos da inclinação e da vontade da alma. Deus dotou a alma de duas habilidades.
Uma é a capacidade de percepção e especulação para discernir, ver e julgar. Isso se chama entendimento. A outra habilidade é que a alma não apenas percebe e vê, mas, de alguma forma, se inclina na direção do que vê ou avalia. Tanto pode se inclinar para aceitar quanto para rejeitar o que viu.

Devido a essa habilidade, a alma não quer permanecer como espectador indiferente e impassível. Gosta ou não gosta, se agrada ou não se agrada, aprova ou rejeita. Essa habilidade se chama inclinação. Quando determina e governa as ações, se chama vontade. Quando a mente entra no processo, a inclinação costuma ser chamada de coração.

Há duas formas de exercitar a inclinação. A alma vê alguma coisa com aprovação, prazer e aceitação, ou com oposição, desaprovação, desagrado e rejeição. Esses exercícios da inclinação e da vontade da alma variam de intensidade. Alguns chegam perto da indiferença, mas há graus onde aprovação ou desagrado, prazer ou aversão são mais fortes.

Quando a alma reage com vigor e força, o exercício é ainda mais intenso. Na verdade, o Criador ligou o corpo à alma, de modo que até a vida física pode ser afetada por tais emoções. Em todas as culturas e tempos essa habilidade tem sido chamada de coração. São os exercícios vigorosos e sensíveis dessa habilidade que chamamos de afetos. Assim, vontade e afetos da alma não são elementos distintos. Em sua essência, os afetos não são separados da vontade.

Diferem dela apenas na vivacidade e sensibilidade do exercício, não em sua expressão. Algumas vezes, a línguagem é inadequada, pois o signifi cado das palavras tende a se perder e se tornar vago, sem defi nição exata no uso comum. Em um sentido, afetos da alma não diferem da vontade e da inclinação.

Mas, em outros aspectos, o ato de vontade e inclinação não pode ser chamado de afeto, porque em tudo que atuamos, quando agimos voluntariamente, há um exercício da vontade e da inclinação. Nossa inclinação dirige nossos atos, mas nem todos os atos de inclinação e vontade são chamados de afetos. A diferença entre o que é afeto e o que não é reside apenas na intensidade e na forma da ação. Em cada ato a vontade gosta ou não gosta, aprova ou rejeita.

Isso, em essência, não é diferente dos afetos de amor e ódio. Na verdade, a apreciação ou inclinação da alma em direção a alguma coisa, caso seja intensa e vigorosa, é o que chamamos de afeto de amor, e o mesmo grau de rejeição e desaprovação é o que chamados de ódio. Assim, o que cria o afeto é o grau de atividade da vontade, seja a favor ou contra um determinado elemento.

Na unidade intrínseca entre nosso corpo e nossa alma, que faz parte de nossa natureza, uma inclinação vigorosa e intensa da vontade afeta também o corpo. Essas leis da união entre corpo e alma e sua constituição podem levar ao exercício dos afetos. Porém a mente, não o corpo, é o local adequado para os afetos. O corpo humano não tem capacidade, sozinho, de pensar e entender. Apenas a alma possui idéias, de modo que só ela se agrada das idéias ou as rejeita.

Já que apenas a alma pensa, apenas ela ama ou odeia, se regozija, ou sofre com o que pensa, os efeitos dessas emoções no corpo não são os afetos, e não são, de forma alguma, essenciais para a existência deles. Portanto, um espírito sem corpo é capaz de amar e odiar, se alegrar ou se entristecer, ter esperança ou temer, ou outros afetos.

Embora freqüentemente se confunda afetos com paixões, trata-se de coisas diferentes. Afeto é uma palavra com importância muito mais ampla que paixão e é usada para referir atos fortes da vontade ou inclinações. Paixão se refere a atos súbitos com efeitos mais violentos sobre o corpo. A mente é mais subjugada e tem menos controle. Como no exercício da inclinação e da vontade, os afetos motivarão a alma a buscar e se apegar ao que vê, ou a afastar a alma e se opor ao que viu.

Amor, desejo, esperança, alegria, gratidão e satisfação motivam a alma. Ódio, medo, raiva e sofrimento a afastam. Alguns afetos são a mistura de duas reações. Por exemplo, o afeto da piedade motiva a alma na direção da pessoa que sofre ao mesmo tempo que a afasta do sofrimento. O zelo contém tanto apreciação elevada de algo pessoal quanto um antagonismo vigoroso quanto ao que se opõe ao que é valorizado. Poderia mencionar outros afetos combinados, mas quero passar logo ao próximo tópico.

Jonathan Edwards