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terça-feira, 27 de março de 2018

Cumprimento de predições de outros Profetas


Nos demais profetas, porém, isto se vê ainda muito mais claramente. Respigarei apenas uns poucos exemplos, porquanto seria excessivo o labor de coligir a todos.
No tempo de Isaías, quando o reino de Judá estava em paz, quando até pensava que nos caldeus algo de proteção lhe havia depositado, Isaías pregava publicamente acerca da queda da cidade e do exílio do povo [Is 39.6, 7]. Concedamos que predizer, com muita antecedência, fatos que pareciam inacreditáveis então, mas por fim vieram a mostrar-se verdadeiros, ainda não fosse evidência bastante clara de inspiração divina. Entretanto, os vaticínios que, ao mesmo tempo, emite acerca do livramento do povo, diremos que procederam de outra fonte, e não de Deus?
Chama Ciro pelo nome [Is 45.1], através de quem os caldeus haveriam de ser subjugados e o povo restaurado à liberdade. Decorridos foram mais de cem anos desde que o Profeta assim vaticinou antes de Ciro nascer, pois que este afinal nasceu
no centésimo ano, ou por volta disso, após a morte daquele. Ninguém podia, então, adivinhar que algum Ciro viesse a existir, que haveria de entrar em guerra com os babilônios, que, submetida a seu poder tão poderosa monarquia, poria fim ao exílio do povo de Israel. Não evidencia, porventura, claramente esta desataviada
narrativa, sem qualquer ornato de palavras, que as coisas que Isaías profere são oráculos inconfundíveis de Deus, não conjeturas de homem?
Outra vez, quando Jeremias [25.11, 12], certo tempo antes de o povo ter sido levado embora, fixava em setenta anos o tempo do cativeiro e anunciava o retorno e a liberdade, porventura não se impõe que a língua lhe fora governada pelo Espírito de Deus?
Não seria grande descaramento negar que a autoridade dos profetas foi confirmada com tais testemunhos, e que de fato se cumpriu o que eles afirmam, para que se desse crédito às suas palavras, a saber:32 “Eis que as primeiras coisas já se cumpriram, e as novas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir” [Is
42.9]? Deixo de considerar o fato de que Jeremias e Ezequiel, embora estivessem separados por tão grande distância, contudo profetizando na mesma época, em tudo que diziam concordavam exatamente, como se, mutuamente, um houvesse ditado as
palavras ao outro!
Que dizer de Daniel? Porventura não tece assim profecias quanto às coisas futuras, coisas que se estendiam quase por seiscentos anos, como se estivesse a escrever uma história acerca de fatos passados e por toda parte conhecidos? Se os homens piedosos meditarem devidamente essas coisas, estarão sobejamente equipados para conter os ladridos dos homens ímpios, pois esta demonstração
é clara demais para que seja suscetível a quaisquer cavilações.

As Institutas de João Calvino