Sei o que
certos biltres vociferam pelas esquinas, com o fito de ostentar a capacidade de
sua genialidade em investir contra a verdade de Deus. Perguntam, pois, quem nos
terá dado certeza de que essas coisas que sob seus nomes se lêem foram escritas
por Moisés e pelos profetas? Ademais, ousam até levantar a questão, se
porventura
algum Moisés teria realmente existido. Mas, se alguém puser em dúvida que
jamais existiu um Platão, ou um Aristóteles, ou um Cícero, quem
não haverá de dizer que tal insânia deve ser castigada com bofetadas ou com
açoites?
A lei de
Moisés foi maravilhosamente preservada, mais pela providência celestial do que
pelo cuidado de homens. E, embora por negligência dos sacerdotes ela jazera
sepultada por breve período, desde que o piedoso rei Josias a encontrou [2Rs 22.8;
2Cr 34.15] tem sido compulsada entre os homens, através das contínuas sucessões
dos tempos. Na verdade Josias não a levou a público como coisa
desconhecida ou nova; ao contrário, como algo que havia sido sempre de
comum conhecimento e cuja lembrança então era notória. O volume original fora
dedicado ao templo; aos arquivos reais se destinara um exemplar daí copiado.
Tinha acontecido
apenas
isto: que os sacerdotes haviam cessado de proclamar a própria lei, segundo o
solene costume, e o próprio povo também lhe havia negligenciado a
leitura costumeira.
Por que
quase não se passou nenhuma era em que não lhe fora confirmada e renovada a
autoridade? Porventura era Moisés desconhecido àqueles que estavam familiarizados
com Davi? Para falar de todos a um só tempo, porém, é mais do que certo que os
escritos chegaram a seus descendentes não de outra maneira que de mão em mão,
transmitidos pelos pais, por assim dizer, em contínua seqüência de anos, os
quais em parte ouviam falar deles, em parte aprendiam que foram assim falado
por aqueles que, de memória recente, os haviam ouvido.
As
Institutas de João Calvino