Ademais,
também isto é digno de ser levado em conta: sempre que Moisés trata de
milagres, unem-se ao mesmo tempo, detestavelmente, coisas que poderiam
excitar todo o povo a vociferar em contrário, caso tivesse sequer a mínima
ocasião. Do
quê
transparece que foram levados a subscrevê-los não de outra forma, senão
porque estavam mais do que suficientemente convencidos pela própria
experiência.
Contudo,
uma vez que a matéria era mais notória do que teria sido possível aos escritores
profanos negar, isto é, que milagres haviam sido operados por Moisés, o pai
da mentira sugeriu-lhes a calúnia, atribuindo-os a artes mágicas. Mas, em que pressuposto
acusam de haver sido mágico aquele a quem tanto abomina a esta
superstição,
que ordena
que fosse apedrejado até a morte quem simplesmente consultasse a mágicos
e adivinhos? Certamente que, com suas ilusionices, nenhum impostor engana
caso não se esforce por extasiar o espírito do povo rude no empenho de granjear
fama. No entanto, que faz Moisés? Proclamando que ele próprio e
seu
irmão Arão
nada eram, ao contrário, que apenas executavam o que Deus lhes havia prescrito
[Ex 16.7], suficientemente expurga todo e qualquer ar de suspeita.
Daí, se os
próprios fatos forem levados em conta, que espécie de encantamento pode fazer
com que o maná, a chover do céu cada dia, fosse em quantidade suficiente
para alimentar o povo; e, se alguém o recolhesse mais do que a justa
medida, aprendia do próprio apodrecimento que sua incredulidade fora
divinamente castigada [Ex 16.19, 20]? Acresce que Deus permitiu que seu servo
fosse de tal forma testado por muitas e sérias provas, e que agora, alterando contra
ele a voz, os réprobos nada alcançam. Pois, como lhes pode escapar ao furor
mediante artifícios mágicos, toda vez, arrogante e petulantemente, ora se
insurgiu o povo, ora alguns, a
conspirar
entre si, tentaram prostrar o santo servo de Deus? Em suma, o fato em si nos
mostra claramente que, por determinados meios, sua doutrina ficou confirmada para
sempre.