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terça-feira, 27 de março de 2018

Preservação e transmissão da Lei


Sei o que certos biltres vociferam pelas esquinas, com o fito de ostentar a capacidade de sua genialidade em investir contra a verdade de Deus. Perguntam, pois, quem nos terá dado certeza de que essas coisas que sob seus nomes se lêem foram escritas por Moisés e pelos profetas? Ademais, ousam até levantar a questão, se
porventura algum Moisés teria realmente existido. Mas, se alguém puser em dúvida que jamais existiu um Platão, ou um Aristóteles, ou um Cícero, quem não haverá de dizer que tal insânia deve ser castigada com bofetadas ou com açoites?
A lei de Moisés foi maravilhosamente preservada, mais pela providência celestial do que pelo cuidado de homens. E, embora por negligência dos sacerdotes ela jazera sepultada por breve período, desde que o piedoso rei Josias a encontrou [2Rs 22.8; 2Cr 34.15] tem sido compulsada entre os homens, através das contínuas sucessões dos tempos. Na verdade Josias não a levou a público como coisa desconhecida ou nova; ao contrário, como algo que havia sido sempre de comum conhecimento e cuja lembrança então era notória. O volume original fora dedicado ao templo; aos arquivos reais se destinara um exemplar daí copiado. Tinha acontecido
apenas isto: que os sacerdotes haviam cessado de proclamar a própria lei, segundo o solene costume, e o próprio povo também lhe havia negligenciado a leitura costumeira.
Por que quase não se passou nenhuma era em que não lhe fora confirmada e renovada a autoridade? Porventura era Moisés desconhecido àqueles que estavam familiarizados com Davi? Para falar de todos a um só tempo, porém, é mais do que certo que os escritos chegaram a seus descendentes não de outra maneira que de mão em mão, transmitidos pelos pais, por assim dizer, em contínua seqüência de anos, os quais em parte ouviam falar deles, em parte aprendiam que foram assim falado por aqueles que, de memória recente, os haviam ouvido.

As Institutas de João Calvino