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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O GOVERNO E O JUÍZO DE DEUS

Também na segunda classe de suas obras, isto é, aquelas que ocorrem além do curso ordinário da natureza, as evidências de seus poderes são, em muitos aspectos, muitíssimo claras.11 Ora, ao dirigir a sociedade humana, de tal modo regula sua providência que, embora seja, de inúmeras maneiras, benigno e benévolo para com
todos, declara ainda, mediante provas manifestas e diárias, que sua clemência para com os piedosos e sua severidade para com os iníquos não são dúbias, de modo que não se demonstra obscuramente ser protetor, e até mesmo vingador da inocência,
enquanto, em virtude de sua bênção, faz próspera a vida dos bons, os socorre em suas necessidades, os alivia e os mitiga em suas dores, os atenua em suas adversidades e em tudo os encaminha à salvação.

Sem dúvida, tampouco deve toldar-lhe a perpétua norma da justiça o fato de que, mui freqüentemente, permite por certo tempo que os iníquos e malfeitores exultem impunes, além de tolerar que os probos e inocentes sejam abalados por muitas coisas adversas, até mesmo oprimidos pela maldade e iniqüidade dos ímpios.
Antes, pelo contrário, deve acudir-nos à mente pensamento muito diverso: quan do, contra um só ato mau, sua ira se volta em evidente manifestação, é que a todos aborrece; quando a muitos deixa passar sem castigo, é que outro juízo haverá para os atos maus que devem ser punidos.

Igualmente, nos fornece farta matéria para que consideremos sua misericórdia, quando muitas vezes não deixa de outorgar por tanto tempo sua misericórdia a pobres e miseráveis pecadores, até que, vencendo sua maldade com sua doçura e brandura mais que paternal, os atrai a si!

João Calvino