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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

INSUFICIÊNCIA DA MANIFESTAÇÃO DE DEUS NA ORDEM NATURAL



Em vão, pois, nos resplendem na obra da criação do mundo tantas lâmpadas acesas para enaltecer a glória do Autor, as quais de todos os lados nos cercam de sua efulgência em moldes tais que, não obstante, de modo algum podem por si só conduzir ao reto caminho. Sem dúvida que emitem algumas centelhas, todavia elas são sufocadas antes que emitam mais pleno fulgor. Razão pela qual o Apóstolo, no mesmo lugar em que chamou aos mundos de sinais das coisas invisíveis [Hb 11.1-3], diz também que pela fé se entende que os mesmos foram formados pela Palavra de Deus, significando com isso que de fato em tais manifestações externas se representa
a divindade invisível, todavia que não temos olhos para contemplá-la, salvo se, mercê da revelação interior de Deus, mediante a fé, eles sejam iluminados.

Tampouco Paulo, onde ensina [Rm 1.19] que o que se deve conhecer de Deus se faz patente na criação do mundo, se refere a uma manifestação que se pode apreender pela perspicácia dos homens, senão que mostra, antes, que ela não está tão afastada,
que os torne indesculpáveis. O mesmo Apóstolo também, embora em outro lugar [At 17.27] negue que Deus deva ser buscado ao longe, visto que habita dentro de nós, no entanto ensina, em outra passagem [At 14.16, 17], algo que se aproxima disto: “O qual nos tempos passados deixou que todas as nações andassem em seus
próprios caminhos. E contudo não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando- vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo vossos corações de mantimento e de alegria.”
E assim, conquanto o Senhor não careça de testemunho, enquanto, mercê de sua imensa e variada benignidade, brandamente atrai os homens ao seu conhecimento, contudo, a despeito disso, não deixam de seguir seus próprios caminhos, ou, seja, seus erros fatais.

João Calvino