Por isso, o
mesmo Profeta, onde trouxe à lembrança que a glória de Deus é proclamada pelos
céus, que as obras de suas mãos são anunciadas pelo firmamento, que sua
majestade é apregoada pela seqüência regular dos dias e das noites [Sl 19.1,2],
em seguida desce à menção da Palavra: “A lei do Senhor” diz ele, “é sem
defeito, reanimando as almas; o testemunho do Senhor é fiel, dando
sabedoria aos pequeninos; os atos de justiça do Senhor são retos,
alegrando os corações; o preceito do Senhor é límpido, iluminando os
olhos” [Sl 19.7, 8]. Ora, embora ele inclua ainda outros usos da lei, contudo
assinala, de modo geral, porquanto em vão Deus convida a si a todos os povos
pela contemplação do céu e da terra, afirmando que esta é a escola especial dos
filhos de Deus: a Escritura.
Idêntica é
a perspectiva do Salmo 29, no qual o Profeta, após discursar a respeito da voz
terrível de Deus, a qual sacode a terra com trovões, ventanias, chuvas, furacões
e tempestades, faz tremer as montanhas, despedaça os cedros, contudo no final
acrescenta que seus louvores são entoados no santuário, porquanto os incrédulos
são surdos a todas as vozes de Deus que ressoam nos ares. De igual modo, assim ele
conclui em outro dos Salmos, onde descreveu as ondas espantosas do mar: “Mui
fiéis são teus testemunhos; a santidade convém a tua casa, para sempre” [Sl
93.5]
Daqui
também promana aquilo que Cristo dizia à mulher samaritana [Jo 4.22]: que seu
povo e todos os demais povos adoravam o que desconheciam; e que somente
os judeus exibiam o culto verdadeiro de Deus.
Ora, já que,
em razão de sua obtusidade, de modo algum a mente humana pode chegar a Deus,
salvo se for assistida e sustentada por sua Santa Palavra, então todos os
mortais – excetuados os judeus –visto que buscavam a Deus sem a Palavra, lhes foi
inevitável que vagassem na futilidade e no erro.