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domingo, 2 de fevereiro de 2014

DEUS MELHOR VISUALIZADO EM SUAS OBRAS DO QUE EM ESPECULAÇÕES DA RAZÃO



Vemos não ser necessário longa nem laboriosa demonstração para descobrir evidências que servem para ilustrar e afirmar a divina majestade, uma vez que, das poucas que havemos ligeiramente experimentado, para onde quer que te voltes, claro se faz que são tão imediatamente óbvias, que podem facilmente ser com os
olhos divisadas e com os dedos apontadas.
E aqui, uma vez mais, deve observar-se que somos convidados ao conhecimento de Deus, não àquele que haverá de ser sólido e frutuoso, se é por nós retamente percebido e estabelecido no coração. Ora, o Senhor se manifesta por meio de seus poderes,
e uma vez que sentimos sua força dentro de nós, e usufruímos de seus benefícios, necessário é que sejamos muito mais vividamente afetados por esse conhecimento do que se imaginássemos um Deus de quem nenhum senso chegasse a nós.

Do que compreendemos ser esta a via mais direta de buscar a Deus e o processo mais apropriado de conhecê-lo: que não tentemos, através de ousada curiosidade, penetrar à investigação de sua essência, a qual é antes para ser adorada do que para ser meticulosamente inquirida; ao contrário, que o contemplemos em suas obras, em virtude das quais ele se nos torna próximo e familiar, e de algum modo se nos comunica. Ao que o Apóstolo contemplava quando dizia [At 17.27, 28] que ele não deve ser buscado ao longe, uma vez que, por seu poder bem presente, habita em cada um de nós. Por isso Davi [Sl 145], tendo antes confessado sua inenarrável
grandeza [v. 3] após descer à menção de suas obras, declara que fará menção dela [vs. 5, 6].
Portanto, também a nós se nos impõe que nos apliquemos a essa investigação de Deus, a qual de tal modo nos mantenha o espírito suspenso de admiração, e ao mesmo tempo nos deixemos ser profundamente tocados com eficaz sentimento.

E como, em certo lugar, ensina Agostinho,15 já que, como que a desfalecer sob sua grandeza, não o podemos apreender, convém que atentemos bem para suas obras, para que nos recreemos em sua bondade.
João Calvino