Mas,
palradores desse gênero se refutam sobejamente com apenas uma palavra do
Apóstolo. Categoriza ele [Ef 2.20] que a Igreja se sustém no fundamento dos profetas
e dos apóstolos. Se o fundamento da Igreja é a doutrina profética e apostólica,
é
necessário que esta doutrina tenha sua inteira infalibilidade antes que a
Igreja começasse a existir.25 Nem procede o que sofisticamente arrazoam,
a saber, ainda que daqui derive a Igreja sua origem e começo, a não ser
que se interponha o arbítrio da
própria
Igreja, permanece em dúvida quais coisas se devam atribuir aos profetas
e aos apóstolos. Ora, se de início a Igreja Cristã foi fundada nos escritos dos
profetas e na pregação dos apóstolos, onde quer que esta doutrina se encontre,
sua aceitação, sem a
qual a
própria Igreja jamais teria existido, indubitavelmente precedeu à Igreja.
Portanto,
mui fútil é a ficção de que o poder de julgar a Escritura está na alçada da
Igreja, de sorte que se deva entender que do arbítrio desta, a Igreja,
depende a certeza daquela, a Escritura. Conseqüentemente,
enquanto a recebe e com sua aprovação
a sela, a
Igreja não a converte de duvidosa em autêntica, ou de outro modo seria
controvertida; ao contrário, visto que a reconhece como sendo a verdade
de seu Deus, por injunção da piedade, a venera sem qualquer restrição.
Quanto, porém, ao que perguntam: Como seremos persuadidos
de que as Escrituras provieram de Deus, a não ser que nos refugiemos no
decreto da Igreja? É exatamente como se alguém perguntasse: de onde
aprenderemos a distinguir a luz das trevas, o branco do preto, o doce do
amargo? Pois a Escritura manifesta plenamente
evidência
não menos diáfana de sua veracidade, que de sua cor as coisas brancas e pretas,
de seu sabor, as doces e amargas.