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sexta-feira, 14 de março de 2014

O ser humano é evidência máxima da Sabedoria Divina

E por isso alguns dentre os filósofos, outrora, designaram o homem, não sem razão, de mikro,kosmon (<]:r(:(s<(n – microcosmos), porquanto é ele raro exemplo do poder, da bondade e da sabedoria de Deus, em si contém bastante de milagres para ocupar-nos a mente, desde que não nos enfademos de dar-lhes atenção.
Por essa razão, Paulo, onde advertiu [At 17.27] que Deus pode ser conhecido até dos cegos que tateiam, em seguida acrescenta que ele não deve ser buscado como se estivesse longe, pois na verdade, dentro de cada um, todos sentem, indubitavelmente, a celeste graça, da qual obtêm alento.
Ora, se para apreendermos a Deus não é necessário sairmos fora de nós mesmos, que para aquele que se fizer moroso em descer em seu íntimo para aí descobrir a Deus, sua negligência merecerá perdão? Essa também é a mesma razão por que Davi, onde sucintamente celebrou o admirável nome de Deus e sua glória, que por toda parte refulgem, imediatamente exclama: “Que é o homem para que dele te lembres?” [Sl 8.4]. E ainda: “Da boca dos pequeninos e dos que são amamentados estabeleceste a força” [Sl 8.2]. E assim não apenas postula que no gênero humano reside nítido espelho das obras de Deus, mas também que as criancinhas, ainda a penderem do seio materno, têm línguas bastante eloqüentes para proclamar sua glória, de tal modo que não se requer nenhum outro orador. Daí também não hesita em trazer-lhes à liça a palavra, como sendo cabalmente adestrada para refutar a demência daqueles que, em função de seu orgulho diabólico, desejariam que o nome de Deus fosse totalmente extinto. Do quê também vem à tona o que Paulo cita de Arato [At 18.28], ou, seja, que somos geração de Deus, visto que, exortando-nos sobre tão sublime excelência, atestou ser nosso Pai, assim como também, à base do senso
comum e segundo ditava sua experiência, os poetas profanos foram chamados pai dos homens. Aliás, tampouco alguém se renderá em sujeição a Deus, de vontade espontânea e decidida, a não ser que, provando seu amor de pai, tenha, por sua vez, de ser atraído a amá-lo e cultuá-lo.


João Calvino