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quarta-feira, 30 de maio de 2018

IMPROCEDÊNCIA DA ANGELOLATRIA


Resta irmos de encontro à superstição que costuma mui freqüentemente insinuar-se sorrateira, quando se diz que os anjos são ministros e provedores de todo bem em relação a nós. Porque de repente nossa razão humana se inclina a pensar que se deve dar-lhes toda honra possível. Dessa forma ocorre que transferem para eles prerrogativas que são exclusivas de Deus e de Cristo. Assim, vemos que, em algumas épocas passadas, a glória de Cristo foi de muitas maneiras obscurecida, quando, contrariamente à Palavra de Deus, os anjos foram cumulados de honras imoderadas. Dificilmente há algum outro erro mais antigo que este dentre os que hoje combatemos.
Pois é também evidente que Paulo teve grande luta com alguns que exaltavam os anjos a tal ponto que reduziam a Cristo quase ao nível deles. Daqui, com tão grande solicitude insiste ele na Epístola aos Colossenses [1.16, 20] que não só se deve distinguir Cristo de todos os anjos, mas ainda que ele é o autor de tudo o que eles têm de bom, para que não aconteça que, deixando-o de parte nos volvamos para aqueles que não podem nem a si próprios bastar, ao contrário, tudo recebem da mesma fonte da qual nós mesmos recebemos.
Realmente, quando neles refulge o esplendor da majestade divina, nada nos é mais propenso do que, tomados de certo deslumbramento, nos prostrarmos em adoração, e conseqüentemente atribuir-lhes todas as coisas que só a Deus são devidas, o que até João, no Apocalipse, confessa haver-lhe acontecido. Mas, ao mesmo tempo, acrescenta que lhe foi respondido: “Vê, não o faças. Sou teu conservo. Adora a Deus”             [Ap 19.10; 22.8, 9].

João Calvino