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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Nossos olhos não devem desviar-se de Deus para os Anjos


Conseqüentemente, seja o que for que se diga do ministério dos anjos, dirijamos a este fim: que, levada de vencida toda falta de confiança, mais solidamente se firme nossa esperança em Deus. Pois estes meios de proteção nos foram preparados pelo Senhor para que não sejamos aterrorizados pela multidão de inimigos, como se sobre sua assistência houvesse ela de prevalecer. Ao contrário, refugiemo-nos nessa afirmação de Eliseu: “São mais os que são por nós do que os que são contra nós” [2Rs 6.16].
Portanto, quão lamentável é que sejamos alienados de Deus pelos anjos, os quais foram comissionados para isto: atestar-nos que sua assistência está bem presente conosco! Mas de Deus nos alienam, se não nos conduzem pela mão diretamente a ele, para que o contemplemos, invoquemos e proclamemos como nosso único ajudador; se não são por nós considerados como suas mãos, que não se movem a nenhuma ação salvo se ele os estiver a dirigir; se não nos conservam no único Mediador, Cristo, para que dependamos inteiramente dele, nele nos reclinemos, sejamos levados a ele e nele descansemos. Deve, pois, fixar-se e profundamente gravar-se em nossa mente o que se acha descrito na visão de Jacó [Gn 28.12]: que os anjos descem à terra aos homens, e dos homens sobem aos céus, por uma escada, sobre a qual se posiciona o Senhor dos Exércitos; com o quê se indica que, unicamente pela intercessão de Cristo, resulta que nos advenham as ministrações dos anjos, como ele próprio o afirma: “Vereis doravante os céus abertos e os anjos descendo ao Filho do Homem” [Jo 1.51]. Assim é que o servo de Abraão [Gn 24.7], confiando-se inteiramente à guarda de um anjo, nem por isso o invoca a fim de que o assista; ao contrário, firmado nessa injunção, derrama suas preces diante do Senhor e lhe roga que manifeste sua misericórdia para com Abraão. Ora, visto que Deus não os faz ministros de seu poder e bondade em tais moldes que partilhe com eles sua glória, assim também não nos promete sua assistência na ministração deles em relação a
nós em termos tais que dividamos nossa confiança entre eles e ele. Por isso devemos repelir essa filosofia platônica de buscar acesso em Deus por intermédio de anjos e de cultuá-los para este fim: que nos tornem Deus mais favorável, o que homens supersticiosos e curiosos desde o início tentaram impingir-nos à religião, e até hoje continuam agir assim.

João Calvino