Além de
tudo, isto nos deve incitar à perpetua luta contra o Diabo: que por toda parte
lemos ser ele o adversário de Deus e nosso. Ora, se temos a glória de
Deus no coração, como devêramos, então se nos impõe lutar com todas as
forças contra esse que se empenha por sua extinção. Se formos animados a reter
o reino de Cristo,
como se faz
necessário, é preciso que travemos inconciliável luta com esse que conspira sua
ruína. Por outro lado, se nos tange algum cuidado de nossa salvação, nem paz,
nem tréguas devemos ter com esse que está continuamente a armar ciladas à sua
destruição. Aliás, ele é descrito de tal forma em Gênesis, capítulo 3, onde afasta
o homem da obediência que devia a Deus, para que, a um tempo, não só despoje a
Deus da justa honra, mas ainda precipita o próprio homem na ruína. Também nos
evangelistas, onde é designado de inimigo e se diz semear joio
para corromper a semente da vida eterna [Mt 13.25, 28].
Em suma, em
todos os seus feitos experimentamos o que dele testifica Cristo: foi homicida
e mentiroso desde o início [Jo 8.44]. Pois combate a verdade de Deus com
mentiras, obscurece a luz com trevas, enredilha a mente dos homens em erros, suscita
ódios, contendas e incita lutas, tudo com este propósito: para que subverta o reino
de Deus e submerja consigo os homens na perdição eterna. Donde se faz patente
que ele é, por natureza, perverso, maligno e malévolo. Ora, suma impiedade deve
haver neste espírito que está afeito a contrapor-se à glória de Deus e à
salvação dos homens. João também dá a entender isso mesmo em sua Epístola [1Jo
3.8],
quando
escreve que ele peca desde o princípio. Pois na verdade ele o entende como sendo
o autor, guia e arquiteto de toda maleficência e iniqüidade.
João
Calvino