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domingo, 8 de abril de 2018

A Doutrina Bíblica de Deus como Criador


Mas, uma vez que ensinamos que o conhecimento de Deus, sob outro aspecto, não se evidencia obscuramente na estrutura do universo e em todas as criaturas, contudo se desdobra ainda mais íntima e vividamente na Palavra, compensa agora ponderar se o Senhor nos é representado na Escritura tal qual anteriormente se viu delinear-se em suas obras.
A matéria é certamente extensa, se alguém quiser demorar-se em tratá-la mais diligentemente. Eu, porém, dar-me-ei por satisfeito com haver proposto um como que índice, assistidas pelo qual as mentes piedosas saibam que se deve acima de tudo investigar nas Escrituras sobre Deus e dirigir-se ao escopo preciso de sua perquirição.
Não toco ainda no pacto especial através do qual Deus distinguiu dos demais povos a raça de Abraão [Gn 17.4]. Ora, recebendo como filho, em graciosa adoção, àqueles que eram inimigos, então se revelou como seu redentor. Nós, porém, até aqui nos movemos nesse conhecimento que subsiste na criação do mundo, nem ascende a Cristo, o Mediador. Mas, ainda que pouco adiante seja necessário citar algumas passagens do Novo Testamento, uma vez que também daí se prova não só o poder de Deus, o Criador, mas ainda sua providência na preservação da natureza primária, quero, contudo, que meus leitores sejam avisados quanto ao que me proponho fazer agora, para que não vão além dos limites que lhes foram prescritos. Em suma, baste no presente apreender como Deus o Criador do céu e da terra governa o mundo por ele fundado.
Na verdade, reiteradamente se celebra através das Escrituras não só sua paternal bondade, mas ainda a vontade inclinada à beneficência, e se oferecem nelas exemplos de sua severidade, a qual o evidenciam ser justo vingador dos feitos iníquos, especialmente onde de nada aproveita sua tolerância para com os obstinados.

João Calvino