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terça-feira, 17 de abril de 2018

O Sofisma do culto de Latria e Dulia


Ainda que não ignore, nem se pode dissimular, que eles se evadem, lançando mão de distinção mais engenhosa, de cuja menção se fará outra vez e mais plenamente um pouco mais adiante. Pois o culto que alegam render às suas imagens é – serviço à imagem], negando ser  adoração de imagem]. Ora, assim falam quando ensinam que se pode, sem ofensa a Deus, atribuir às representações esculturais e pictóricas o culto a que denominam dulia. Logo se julgam inculpáveis se apenas são servos das imagens, não também adoradores. Como se na verdade adorar não fosse em nada mais
atenuado que servir. E contudo, enquanto acham refúgio em um termo grego, infantilmente se contradizem sobremodo consigo próprios. Ora, uma vez que aos gregos latreu,ein [latreúein] nada mais significava senão adorar, o que dizem equivale exatamente a
uma confissão de que cultuam suas imagens, porém sem dar-lhes culto! Nem razão há por que objetem que estou lançando-lhes armadilhas em palavras; ao contrário, eles próprios, ao tentarem espalhar trevas diante dos olhos dos simplórios, põem à mostra sua própria ignorância. Todavia, por mais eloqüentes que sejam, jamais
conseguirão, com sua eloqüência, provar-nos que uma e a mesma coisa são duas.
Insisto que mostrem de forma objetiva a diferença para que sejam diferentes dos idólatras antigos. Ora, assim como um adúltero ou um homicida não se evadirá à incriminação, se com dissimulação sutilmente inventarem outro nome para um termo, se na prática nada diferem dos idólatras, aos quais até eles mesmos são obrigados
a condenar. Na verdade, eles estão tão longe de separar a sua da prática desses idólatras, de que, antes, a fonte de todo mal é a confusa emulação em que porfiam com eles, enquanto para si concebem não só em sua imaginação, mas até com suas mãos confeccionam, símbolos através dos quais representam a Deus para si.

João Calvino