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quinta-feira, 26 de abril de 2018

A OBRA DO ESPÍRITO SANTO ATESTA SUA DIVINDADE


Pelo que também dessas mesmas fontes, especialmente, se deve buscar comprovação para afirmar-se a Deidade do Espírito Santo.
Mui longe de obscuro na verdade é aquele testemunho de Moisés na história da criação [Gn 1.2], de que o Espírito de Deus pairava por sobre os abismos, ou matéria informe, porque mostra não só que a beleza do mundo, que ora se contempla, vigora preservada pelo poder do Espírito, mas ainda que, antes que se adicionasse esse adereço, já então o Espírito havia operado na conservação daquela massa caótica. Ademais, a nenhuma sutileza está exposto o que se diz em Isaías [48.16]: “E agora o Senhor me enviou seu Espírito”, visto que Deus compartilha com o Espírito Santo o supremo poder no envio dos profetas, fato do qual lhe fulge a divina majestade.
A melhor comprovação, porém, como o disse, nos será da experiência comum.                                                                                       Pois mui distanciado está das criaturas o que as Escrituras lhe atribuem e nós mesmos aprendemos da segura experiência da piedade. Ora, ele é aquele que, difuso por toda parte, a tudo sustém, alenta e vivifica, no céu e na terra. Já do número de criaturas se exclui por isto mesmo, a saber, que ele não é circunscrito por quaisquer limites. Ao contrário, isto é mui evidentemente divino: ao transmitir-lhes sua energia, infunde essência, vida e movimento a todas as coisas.
Ademais, se superior e muito mais excelente que qualquer expressão do viver atual é a regeneração para uma vida incorruptível, que se deve julgar desse de cujo
poder ela procede? Ora, a Escritura ensina em muitos lugares que, não por energia tomada de empréstimo, ao contrário, por energia própria, é ele o autor dessa regeneração, e não só dela, mas também da imortalidade futura.
Enfim, ao Espírito se confere, como ao Filho, todas as funções que são particularmente privativas da Deidade. Porquanto perscruta até mesmo as coisas profundas de Deus [1Co 2.10]; conselheiro nenhum há para ele entre as criaturas [Rm 11.34; 1Co 2.16]; concede a sabedoria e o dom de falar, quando, no entanto, o
Senhor declara a Moisés que só a ele pertence fazê-lo [Ex 4.11]; através dele de tal modo entramos em comunhão com Deus, que de alguma forma sentimos o poder vivificante para conosco. Nossa justificação é obra sua. Dele procede o poder, a santificação, a verdade, a graça e tudo que de bom se possa imaginar, visto que um só é o Espírito, de quem promana toda espécie de dons. Ora, especialmente digna de nota é esta afirmação de Paulo: “Embora os dons sejam diversos e múltipla e variada a distribuição deles, contudo ele é um mesmo Espírito” [1Co 12.4], pois não só o estatui por seu princípio ou origem, mas ainda por seu autor, o que, aliás mais claramente, se expressa pouco depois nestas palavras: “Um e o mesmo Espírito distribui todas as coisas como lhe apraz” [1Co 12.11]. Pois, a não ser que o Espírito fosse algo subsistente em Deus, de modo nenhum lhe seria outorgados arbítrio e vontade.
De maneira a mais clara possível, Paulo distingue, pois, o Espírito com poder divino e mostra que ele reside hipostaticamente em Deus.

João Calvino