Certamente
conheço muito bem este popular e vulgar refrão: As imagens são os livros
dos iletrados. Isso foi dito por Gregório. Entretanto, de maneira muito
diferente fala o Espírito de Deus, em cuja escola, se Gregório houvesse
sido instruído nesta matéria, jamais haveria de ter assim falado.
Portanto,
quando Jeremias [10.3] proclama que o lenho é o preceito da futilidade, quando
Habacuque [2.18] ensina que a imagem fundida é a mestra da mentira, por certo
que daqui se deve deduzir esta doutrina geral: que é ilusório e, mais
ainda, loucura tudo quanto os homens têm aprendido das imagens acerca de Deus.
Se alguém
objeta, dizendo que aqueles que abusavam das imagens para ímpia superstição
eram repreendidos pelos profetas, sem dúvida o admito. Acrescento, porém, o que
é notório a todos, que eles condenam plenamente o que os papistas assumem
como infalível axioma: que as imagens fazem as vezes de livros. Pois os
profetas opõem as imagens ao Deus verdadeiro, como coisas
contrárias e que jamais podem ser conciliadas.
Nestas
porções que há pouco citei, afirmo-o, infere-se esta conclusão: uma vez que
o Deus verdadeiro a quem os judeus adoravam é um e único, pervertida e enganosamente
se inventam figuras visíveis para que representem a Deus e miseravelmente
iludidos se
quedam todos os que daí buscam conhecimento.
Em
conclusão, se assim não fosse o caso, ou, seja, que todo e qualquer conhecimento
de Deus que se busca nas imagens é falaz e bastardo, os profetas não o haveriam
condenado de forma tão generalizada. Ao menos sustento isto: quando ensinamos ser
futilidade e engano o fato de que os homens tentem representar a Deus
por meio de imagens, outra coisa não estamos fazendo senão referindo, palavra
por palavra, o que os profetas transmitiram.
João
Calvino