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domingo, 8 de abril de 2018

Os Atributos Divinos Atestados


De fato, em certas passagens, se nos apresentam descrições mui vívidas, nas quais se exibe sua face genuína, a ver-se como em imagem; imagisticamente]. Assim, quando Moisés a descrevia, obviamente parece ter dese jado compreender em forma sumária tudo quanto era próprio ser pelos homens conhecido a respeito dele, diz: “Senhor, Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente e de muita compaixão, e veraz, que guardas a misericórdia para com milhares, que removes a iniqüidade e as transgressões, diante de quem o inocente não será inocente, que aos filhos e netos atribuis a iniqüidade dos pais” [Ex 34.6, 7], onde notamos que se proclamam reiteradamente ser duas vezes magnífico aquele seu nome, a eternidade kaiv auvtousi,an [kaí autousían e existência própria], então evocam-se suas virtudes, mediante as quais nos é descrito não quem ele é em si, mas, antes, que ele é em relação a nós, de sorte que este conhecimento dele consista mais de viva experiência do que de vazia e leviana especulação. Na verdade, ouvimos enumerarem-se aqui suas mesmas virtudes que assinalamos luzirem no céu e na terra: clemência, bondade, misericórdia, justiça, juízo, verdade. Ora, virtude e poder estão contidos no designativo Elohim.
Aliás, com estes mesmos epítetos os profetas o caracterizam, quando querem exalçar plenamente seu santo nome. Para que não sejamos compelidos a compendiar muitas referências, baste-nos por ora apenas o Salmo 145, no qual se recenseia de modo tão preciso a suma de todas suas virtudes, que nada parece omitir-se. Logo,
com a experiência por mestra, sentimos Deus ser tal qual se declara na Palavra.
Em Jeremias, onde sentencia em que moldes ele quer ser conhecido por nós, Deus propõe uma descrição não tão completa como essa, entretanto tal que redunda claramente nisto mesmo: “Quem se gloria”, diz ele, “glorie-se nisto: que me conheça como o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça na terra” [Jr 9.24]. Certamente que nos é sobretudo necessário conhecer estas três coisas: a misericórdia, na qual repousa unicamente a salvação de todos; o juízo, o qual exerce quotidianamente contra os malfeitores, e, ainda mais severamente, lhes reserva a eterna ruína; a justiça, pela qual os fiéis são preservados e mui benignamente assistidos. Sendo
conhecidas estas três coisas, a profecia atesta que tens farta matéria pela qual te possas gloriar em Deus. Contudo, tampouco com isso se omite sua verdade, nem seu poder, nem sua santidade, nem sua bondade. Pois, como se poderia evidenciar o conhecimento que aqui se requer de sua justiça, misericórdia e juízo, a não ser que
se calcasse em sua verdade inflexível? E como se poderia crer que ele governa a terra em juízo e justiça, salvo se seu poder for compreendido? Donde, porém, a misericórdia, senão da bondade, se por fim todos os seus caminhos são misericórdia, juízo e justiça, neles também até sua santidade é evidente. Portanto, o conhecimento de Deus que na Escritura nos é proposto não visa a
outro escopo que aquele que refulge gravado nas criaturas, isto é, nos convida, em primeiro lugar, ao temor de Deus; em seguida, à confiança nele, para que, na verdade, aprendamos a cultuá-lo não só com perfeita inocência de vida, mas ainda com obediência não fingida, e então a dependermos totalmente de sua bondade.

João Calvino