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sábado, 21 de abril de 2018

Evidências Veterotestamentárias quanto à Divindade de Cristo


Não obstante, embora ainda eu não vá abordar a pessoa do Mediador, contudo o adio para o ponto em que se haverá de tratar da Redenção; no entanto, uma vez que se deve entre todos admitir sem controvérsia que Cristo é essa Palavra revestida de carne, aqui virão mui a propósito todos e quaisquer testemunhos que prescrevem a divindade de Cristo.
Quando se diz no Salmo 45 [v. 6]: “Teu trono, ó Deus, é para todo sempre”, os judeus tergiversam, alegando que o nome Elohim cabe também aos anjos e às potestades superiores. Entretanto, em lugar nenhum na Escritura se acha uma passagem semelhante em que uma criatura seja elevada a um trono eterno. Ademais, ele não é chamado simplesmente Deus, mas também o Soberano Eterno. Além disso, a ninguém se confere este designativo, exceto com restrição qualificativa, como quando se diz que Moisés haveria de ser por Deus a faraó [Ex 7.1]. Outros o lêem no caso genitivo, teu trono é de Deus, o que é excesso de ignorância. Na verdade reconheço que freqüentemente se designa de divino o que é insigne por sua singular excelência.
Mas, pelo contexto, se faz sobejamente claro que essa interpretação é dura e forçada, sem dúvida de modo algum procedente.
Entretanto, se sua obstinação não cede, sem dúvida que o mesmo Cristo não é obscuramente apresentado por Isaías [9.6] como Deus, mas ainda adornado de poder supremo, o que é próprio de Deus somente: “Este é”, diz ele, “o nome com que o designarão: Deus Forte, Pai da Eternidade” etc. Aqui também os judeus vociferam
e assim invertem o teor: Este é o nome com que o chamará Deus forte, o Pai do porvir” etc., de sorte que deixam ao Filho apenas isto: ser chamado Príncipe da Paz.
Mas, a que propósito se haveriam de condensar nesta passagem tantos designativos para Deus o Pai, quando a intenção do Profeta é adornar a Cristo com marcas insignes que nos edifiquem a fé nele? Portanto, não há dúvida de que é ele agora chamado Deus forte pela mesma razão por que fora pouco antes designado de Imanuel.
Nada, porém, se pode buscar algo mais luminoso do que esta passagem de Jeremias [23.6]: “Este haverá de ser o nome com que se chamará o renovo de Davi: o Senhor, Justiça Nossa.” Ora, uma vez que os próprios judeus ensinam, mais ainda, que os outros designativos de Deus nada são senão títulos, que só este, [Jehôvah – Senhor], que dizem ser inefável, é um substantivo que expressa a essência, concluímos que o Filho único é o Deus Eterno, que declara, em outro lugar [Is 42.8], que não dará sua glória a outrem.
Na verdade, aqui os judeus buscam refúgio, dizendo que Moisés não só impôs este nome ao altar por ele construído, como também Ezequiel o deu à nova cidade de Jerusalém. Entretanto, quem não vê que esse altar foi construído como um testemunho de que Deus era “a exaltação de Moisés”, nem é Jerusalém estampada com
o nome de Deus senão para testificar de sua presença nela? Pois o Profeta assim fala: “Desde esse dia o nome da cidade será: o Senhor está ali” [Ez 48.35]; Moisés, na verdade, fala desta maneira: “Edificou um altar e lhe deu o nome: o Senhor, minha exaltação” [Ex 17.15], eponímias figurativas, não designações ontológicas.
Mas, de fato, resta ainda um debate maior em torno de outra passagem de Jeremias [33.16], onde Jerusalém é mencionada com esses mesmos títulos:65 “Este é o nome com que a chamarão: o Senhor, Justiça Nossa.” Esta referência, porém, está mui longe
de contrapor-se à verdade que estamos a defender; aliás, ainda mais, a confirma. Ora, como Jeremias havia já antes testificado que Cristo é o verdadeiro Jehovah de quem promana a justiça, declara agora que a Igreja de Deus haverá de sentir isto verdadeiramente, de tal modo que se haverá de se gloriar no próprio nome. Daí, na passagem anterior, refere-se a Cristo como a fonte e causa da justiça; nesta, adiciona-se o efeito disso.

João Calvino