Leia-se,
ademais, o que acerca desta matéria escreveram Lactâncio e Eusébio, que
não hesitaram em tomar axiomaticamente que todos esses de quem se veem imagens
foram seres mortais. O que Agostinho expressou não foi outra coisa, o
qual declara taxativamente que é abominável não só adorar imagens, mas também o
erigilas a Deus. Contudo, tampouco ele está dizendo outra coisa
senão o que havia sido decretado, muitos anos antes, no Concílio de
Elvira, do qual este é o cânon trinta e seis: “Resolveu-se que não se tenham
nos templos representações pictoriais, como
também não
se pinte em suas paredes o que se cultua ou adora.”
Mas é
preciso lembrar especialmente do que o mesmo Agostinho, em outro lugar, cita de
Varrão e confirma com sua chancela: “Os primeiros a introduzirem imagens dos
deuses, esses, de um lado, removeram o temor; de outro, acrescenta ram o erro.”
Se Varrão dissesse apenas isso, talvez pouco tivesse de autoridade;
contudo,
com razão nos deveria causar vergonha que um pagão, como que a tatear nas
trevas, tenha chegado a esta luz, isto é, que as imagens corpóreas são indignas
da majestade de Deus porque diminuem nos homens o temor e aumentam o erro.
Incontestavelmente
o atestam os próprios fatos que isso foi dito não menos veraz que
sabiamente, mas Agostinho, tendo-o tomado de empréstimo a Varrão, o profere
em conformidade com seu próprio sentimento. E de início reitera, em
verdade, que os primeiros erros a respeito de Deus em que os homens se
enredilharam não começaram com as imagens, porém aviltaram, uma vez introduzido
esse novo elemento.
Em seguida,
expõe que, com isso, diminuiu-se, ou até mesmo extinguiu-se o temor de Deus,
pois na estultícia das imagens e em sua inepta e absurda invenção
facilmente pode menosprezar-se sua divina majestade. Este segundo ponto,
prouvera não experimentássemos ser tão verdadeiro.
Portanto,
quem quer que deseje ser corretamente ensinado, aprenda de outra fonte, a
saber, o que de Deus se pode conhecer não deve ser através de imagens.
João
Calvino