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segunda-feira, 23 de abril de 2018

AS OBRAS DE CRISTO ATESTAM SUA DIVINDADE


Ora, se julgarmos sua divindade em função das obras que nas Escrituras lhe são atribuídas, daí ela refulgirá ainda mais claramente. Pois, quando Cristo afirmava que, desde o princípio até então, vinha atuando juntamente com o Pai [Jo 5.17], os judeus, tardíssimos de entendimento para com seus demais ditos, no entanto compreenderam que ele estava reivindicando para si poder divino. E, em decorrência disso, como o menciona João [5.18], “mais o buscavam matar, porque não só violava o sábado, mas ainda dizia que Deus era seu Pai, fazendo-se igual a Deus.” Portanto, quão terrível nos será a obtusidade, se não sentirmos que aqui se afirma claramente sua divindade! E realmente, governar o orbe por sua providência e poder e regular todas as coisas pelo arbítrio de seu próprio querer, prerrogativa que o Apóstolo lhe outorga [Hb 1.3], não é senão atribuição do Criador.
Ele partilha com o Pai não só da autoridade de governar o orbe, mas ainda de outras funções individuais que não podem ser comunicadas às criaturas. Brada o Senhor através do Profeta [Is 43.25]: “Sou eu, sou eu, aquele que apaga tuas iniquidades por amor de mim.” Como, à luz desta reiteração, os judeus pensassem que a
Deus se infligia ofensa por Cristo perdoar pecados, Cristo afirmou não só com palavras que esse poder lhe competia, mas até o comprovou mediante milagre [Mt 9.6]. Vemos assim que ele possui não apenas o exercício, mas ainda o poder de remissão de pecados, o qual o Senhor nega que se pode transferir a outrem.
E então? Porventura não pertence somente a Deus a faculdade de perscrutar e penetrar os silentes pensamentos dos corações? Mas Cristo também teve este poder [Mt 9.4; Jo 2.25], do quê se pode inferir sua Deidade.

João Calvino