Total de visualizações de página

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A UNIDADE DE DEUS À LUZ DO BATISMO


Entretanto, uma vez que Deus se revelou mais claramente na vinda de Cristo, também se fez assim mais familiarmente conhecido em três pessoas. Contudo, dentre muitos testemunhos, nos é suficiente este único. Ora, Paulo [Ef 4.5] vincula este três: Deus, Fé e Batismo, de tal modo que de um arrazoa em relação ao outro, isto é,
visto que há uma só fé, daí demonstra que há um só Deus; visto que há um só batismo, daí também demonstra que existe uma só fé. Portanto, se mediante o batis mo somos iniciados na fé e religião de um só Deus, necessário nos é ter pelo Deus verdadeiro esse em cujo nome somos batizados.
Aliás, não resta dúvida que, ao dizer: “Batizai-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” [Mt 28.19], Cristo, mediante esta solene injunção, desejava testificar que a perfeita luz da fé já então se manifestara, visto que, na realidade, isto equivale exatamente a serem eles batizados no nome de um só e único Deus, o qual,
em plena evidência, se mostrou no Pai, no Filho e no Espírito. Do quê se faz meridianamente claro que na essência de Deus residem três pessoas, nas quais, todavia, se conhece um só e único Deus.
E, naturalmente, como a fé não deve lançar a vista à sua volta, a olhar para cá e para lá, nem correr a esmo em direções diversas, ao contrário, deve mirar unicamente a Deus, volver-se unicamente para ele, a ele apegar-se, disto se conclui facilmente que, caso haja variados gêneros de fé, necessário se faz que também haja muitos
deuses.
Ora, visto que o batismo é o sacramento da fé, ele nos confirma a unidade de Deus partindo do fato de que ele é um só e único. Daqui também se conclui que não é permissível batizar-se a não ser no Deus único, uma vez que abraçamos a fé própria daquele em cujo nome somos batizados. Portanto, quando ordenou que se batizasse
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, o que Cristo quer dizer senão que, mediante uma fé una e indizível, deve-se crer no Pai, e no Filho, e no Espírito?
Aliás, que outra coisa claramente se atesta aqui senão que Pai, Filho e Espírito são o Deus único? Dessa forma, como isto fica estabelecido, a saber, que há um único Deus, e não muitos, concluímos que o Verbo e o Espírito nada mais são do que a
própria essência de Deus.
E, com efeito, mui nesciamente os arianos parolavam em delírio, dizendo que, confessando a divindade do Filho, lhe recusavam a substância de Deus. Tampouco uma raiva diferente afligia os macedônios, os quais, pelo termo Espírito, queriam que se entendessem apenas os dons da graça derramados sobre os homens. Ora, como dele procedem a sabedoria, o entendimento, a prudência, o poder, o temor do Senhor, assim ele é o próprio Espírito de sabedoria, de prudência, de poder, de piedade. Tampouco está ele dividido em conformidade com a distribuição das graças;
antes, por mais variadamente que essas sejam distribuídas, contudo ele permanece “o mesmo e um só”, diz o Apóstolo [1Co 12.11].

João Calvino