Mentem
deslavadamente quantos negam que isso fosse feito no passado e esteja acontecendo
ainda em nossos dias. Ora, por que se ajoelham diante delas? Por que, ao se
prepararem para a prece, se voltam para elas como se falassem aos ouvidos de Deus?
Com efeito é veraz o que Agostinho diz: Ninguém ora ou adora com os
olhos assim
postos em uma imagem que não seja afetado a tal ponto que não pense ser por ela
ouvido ou não espere que dela lhe seja concedido aquilo que
deseja. Por que tão grande diferença entre as imagens de um mesmo Deus que,
preterida uma,
ou honrada
de forma vulgar, cerquem outra de toda solene honraria? Por que se afadigam com
peregrinações votivas para irem visitar imagens das quais têm semelhantes em
seu próprio lar? Por que em favor delas se batem hoje acirradamente até ao
ponto da carnificina e do massacre, como se fora por seus altares
e lareiras, de tal modo que é mais facilmente tolerável que lhes seja
arrebatado o Deus único que seus ídolos?
E contudo
ainda não estou a enumerar os crassos erros do vulgo, que são quase infinitos e
dominam o coração de quase todos; estou a indicar somente o que eles
próprios confessam quando querem especialmente justificar-se da alcunha de idolatria.
“Não as chamamos”,
dizem eles, “de nossos deuses.” Nem outrora aqueles as chamavam deuses,
quer judeus, quer gentios. E no entanto os profetas não cessavam de
reiteradamente exprobar-lhes as fornicações com a madeira e a pedra [Jr 2.27;
Ez 6.4-6; Is 40.19, 20; Hc 2.18, 19; Dt 32.37], por apenas estas coisas que
são
diariamente
praticadas por aqueles que desejam ser havidos por cristãos, isto é, que
veneravam a Deus carnalmente na madeira e na pedra.
João
Calvino