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terça-feira, 6 de novembro de 2018

A CENTRALIDADE DO BISPO DE ROMA PARA A QUAL CONVERGE TODA A UNIDADE, AUTORIDADE E APOSTOLICIDADE DA IGREJA, SEGUNDO O ROMANISMO

DO PRIMADO DA SÉ ROMANA

Até aqui passamos em revista essas ordens da Igreja que existiram no governo da Igreja antiga, mas que depois foram corrompidas pelos tempos; a seguir, mais e mais viciadas, na Igreja papal retêm agora apenas o título, de fato não passam de máscaras, de sorte que o leitor piedoso perceba da comparação que sorte de Igreja os romanistas têm, em abono da qual nos fazem réus de cisma, porquanto nos separamos dela. Mas, a cabeça e fastígio de toda a ordem eclesiástica, isto é, o primado da sé romana, do quê porfiam por provar que tão-somente na posse deles está a Igreja Católica, nem mesmo tocamos, porque não teve origem nem da instituição de Cristo, nem do uso da Igreja antiga, como o tiveram aqueles elementos supracitados, os quais já mostramos terem surgido da antigüidade e que já se degeneraram inteiramente pela corrupção dos tempos; aliás, se revestiram de forma completamente nova. E no entanto tentam persuadir ao mundo que este é o principal e quase que vínculo único de unidade eclesiástica: que nos apeguemos à sé romana e perseveremos em sua obediência. Reitero que neste sustentáculo, mais do que tudo, se apóiam quando nos querem arrebatar a Igreja e reivindicá-la para si: que retêm a cabeça da qual depende a unidade da Igreja e sem a qual necessariamente ela se desintegra e se faz em pedaços. Pois pensam que a Igreja é um corpo de certo modo mutilado e truncado, a menos que ela se sujeite à sé romana como a sua cabeça. Assim sendo, quando disputam a respeito de sua hierarquia, sempre tomam o ponto de partida deste axioma: o pontífice romano, como vigário de Cristo, que é a Cabeça da Igreja, preside em seu lugar sobre a Igreja Universal; de outra sorte a Igreja não seria bem constituída, a não ser que aquela sé tenha o primado sobre todas as demais. Por esta razão, é preciso examinar também qual é a natureza deste primado, para que não omitamos algo que diga respeito ao justo governo da Igreja.

João Calvino