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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

GREGÓRIO I E BERNARDO DE CLAREVAL DENUNCIAM ESTA CRESCENTE ALIENAÇÃO AOS DEVERES DO OFÍCIO PASTORAL, PRINCIPALMENTE À PRÉDICA E AO ENSINO

Já na época de Gregório se faz evidente a existência de certas sementes deste mal, a saber, os dirigentes que começaram a negligenciar mais o ensino nas igrejas, pois em certo lugar se queixa severamente disto: “O mundo”, diz ele, “está repleto de sacerdotes; mas, no entanto, na seara raro se acha um trabalhador, porquanto de fato assumimos o ofício sacerdotal, mas a função do ofício não exercemos.” De igual maneira: “Visto que não têm entranhas de caridade, querem parecer senhores; porquanto longe estão de reconhecer-se pais. Colocam no lugar da humildade a soberba da dominação.” Igualmente: “Mas nós, ó pastores, que fazemos, que recebemos paga e não somos trabalhadores?” Ainda: “Descambamos para os negócios externos. Empreendemos uma coisa, porém fazemos outra; abandonamos o ministério da pregação; e para castigo nosso, como o vejo, somos chamados bispos, porque temos o título de honra, porém não de virtude.” Quando Gregório usa de tão grande aspereza de palavras contra aqueles que eram apenas menos diligentes ou zelosos no dever, pergunto: o que ele haveria de dizer, se visse dentre os bispos quase nenhum, ou certamente dos demais clérigos pouquíssimos, mal um em cem, subir ao púlpito uma única vez em toda a vida? Ora, quando se chega a esse grau de insanidade, julgando ser algo vulgar pregar ao povo, a conclusão é que isso está muito abaixo da dignidade episcopal. No tempo de Bernardo, as coisas haviam decaído um pouco mais; e vemos com que amargas repreensões se dirige ao estado eclesiástico, ainda que seja possível que não estivesse tão perdido e corrompido como na atualidade.

João Calvino