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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A POSIÇÃO REAL DE PEDRO NO COLÉGIO APOSTÓLICO, DE IGUALDADE E NÃO DE SUPERIORIDADE; TAMPOUCO USUFRUIU NA IGREJA PRIMITIVA AUTORIDADE ESPECIAL

E no entanto ninguém, deveras, pode melhor resolver esta questão do que a própria Escritura, caso confiramos todas suas passagens onde ela ensina qual o ofício e o poder que Pedro exerceu entre os apóstolos, como ele se comportou, como também foi por eles recebido. Que se percorra nela tudo quanto se possa, e outra coisa não se achará senão que ele foi um do número dos Doze, igual aos demais e seu companheiro, não seu senhor. É verdade que ele propõe na assembléia o que se deve fazer e admoesta aos demais; mas também os ouve; e não lhes permite emitir sua opinião, mas que ordenem e determinem o que bem lhes parecesse [At 15.6-22]. E quando eles determinaram alguma coisa, ele obedece e a segue. Quando escreve aos pastores, não ordena por mando, como um superior; antes, os toma como seus colegas e os exorta amavelmente, como costuma acontecer entre iguais [1Pe 5.1]. Quando é acusado de ir ter com gentios, ainda que isto se faça sem razão, no entanto responde e se justifica [At 11.2-18]. Mandado pelos colegas que fosse com João a Samaria, não se recusa [At 8.14]. O fato de os apóstolos o mandarem, nisto declaram que estão muito longe de o terem por superior; o fato de que obedece e empreende a missão a si ordenada, nisto confessa ter com eles associação, não domínio sobre eles. Ora, se nada dessas coisas subsistisse, entretanto bastaria a Epístola aos Gálatas para facilmente dirimir-nos toda dúvida, quando, em quase dois capítulos, outra coisa não trata Paulo senão de ser igual a Pedro na honra do apostolado. Daqui nos lembra que veio a Pedro, não para que lhe professasse sujeição, mas apenas para que a todos testificasse o consenso doutrinal; que também o próprio Pedro não exigiu nada desse gênero; ao contrário, deu-lhe a destra de comunhão para que trabalhassem em comum na vinha do Senhor; que a ele foi conferida graça não inferior entre os gentios que a Pedro entre os judeus; finalmente, que, visto que Pedro agiu menos fielmente, foi por ele corrigido e acatou sua repreensão [Gl 2.11-14]. Todas estas coisas tornam evidente que ou houve igualdade entre Paulo e Pedro, ou certamente Pedro não teve em nada mais poder sobre os outros apóstolos do que eles mesmos tiveram sobre ele. Com efeito, como já o disse, Paulo afirma expressamente que em seu apostolado não teve por inferior nem a Pedro nem a João, porque todos são iguais a ele e seus companheiros, e não seus senhores.


João Calvino