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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

CRISTO, E TÃO-SOMENTE CRISTO, É O CABEÇA DA IGREJA, E NÃO DELEGOU A OUTREM TAL SOBERANIA COMO SEU SUPOSTO VIGÁRIO NA TERRA

Mas, concedendo-lhes como querem, seja bom e útil que o orbe inteiro seja abarcado em uma única monarquia – o que no entanto é inteiramente absurdo; todavia, ainda quando é assim, não concederei que isso mesmo valha no governo da igreja. Ora, ela tem a Cristo por seu Cabeça único, sob cujo principado todos nos congregamos em harmonia, segundo esta ordem e esta forma de governo que ele mesmo prescreveu. Assim sendo, fazem a Cristo uma frontal injúria, quando com esse pretexto querem que um único homem presida à Igreja inteira, visto que esta não carece de um cabeça. “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação com amor” [Ef 4.15, 16]. Vês que a todos os mortais, sem exceção, ele coloca no corpo, a honra e o nome de cabeça deixa exclusivamente a Cristo? Vês que a cada membro atribui medida certa e função finita e limitada, para que tanto a perfeição da graça, quanto o supremo poder de governar, resida unicamente na mão de Cristo? Tampouco desconheço o que costumam tergiversar quando se lhes afirma que Cristo é apropriadamente denominado a Cabeça única porque, por sua autoridade e por seu nome, somente ele reina, mas nada impede que abaixo dele esteja outra, como dizem, cabeça ministerial, que lhe faça as vezes nas terras. No entanto, com esta cavilação não conseguem nenhuma vantagem, a menos que antes mostrem que este alegado ministério foi ordenado por Cristo. Ora, o Apóstolo ensina que toda a administração é difundida pelos membros, e que a virtude procede daquela Cabeça celestial única. Ou, se preferem algo mais taxativo: quando a Escritura atesta que Cristo é a Cabeça, e que ele reivindica esta honra somente para si, não se deve transferi-la a outro, a não ser a quem o próprio Cristo haja feito seu vigário. Com efeito, isto não só se lê em parte alguma da Escritura, mas também pode ser refutado sobejamente por muitas passagens [Ef 1.22; 4.15; 5.23; Cl 1.18; 2.10].

João Calvino