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quarta-feira, 18 de julho de 2018

A EVIDÊNCIA QUANTO À OPERAÇÃO DA GRAÇA PATENTEADA NAS TRÊS CATEGORIAS DE PASSAGENS RETRO REFERIDAS


Haver-se-á de visualizar isto mais claramente quando forem examinadas as três classes de preceitos que abordamos acima. O Senhor ordena com freqüência, tanto na lei como nos profetas, que a ele nos convertamos [Ez 18.30-32; Os 14.2; Jl 2.12]. O Profeta, porém, acompanha em contraposição: “Converte-me, Senhor, e estarei convertido, pois, depois que me converteste, eu me arrependi” etc. [Jr 31.18, 19]. Ordena que circuncidemos os prepúcios de nosso coração [Dt 10.16; Jr 4.4]. Faz saber, porém, por intermédio de Moisés, que esta circuncisão é operada por sua mão [Dt 30.6]: a cada passo requer um coração novo [Ez 18.31], mas que o mesmo é dado por ele [Deus], testifica-o em outro lugar [Ez 11.19; 36.26]. “Mas, o que Deus promete”, como diz Agostinho, “não o fazemos nós mesmos pelo arbítrio ou pela natureza; ao contrário, ele próprio o faz pela graça.” E esta é a observação que o mesmo Agostinho enumera em quinto lugar entre as regras de Ticônio: que distingamos bem entre a lei e as promessas, ou entre os mandamentos e a graça. Desapareçam agora os que à luz dos preceitos concluem que o homem tem capacidade para obedecer-lhes, de sorte que assim aniquilam a graça de Deus, mercê da qual os próprios preceitos se cumprem. Os preceitos da segunda categoria são simples, pelos quais se nos manda honrar a Deus, servir-lhe à vontade e a ela apegar-nos; observar-lhe as ordenanças, seguirlhe a doutrina. Inúmeras, porém, são aquelas passagens que atestam ser dádiva sua tudo quanto se pode ter de justiça, de santidade, de piedade, de pureza. Da terceira categoria era aquela exortação de Paulo e Barnabé aos fiéis, que de Lucas se refere [At 13.43], a que permanecessem na graça de Deus. Donde, porém, se deva buscar essa virtude da constância, o mesmo Paulo ensina em outro lugar: “Pois que resta, irmãos”, diz ele, “que sejais fortalecidos pelo Senhor” [Ef 6.10]. Em outro lugar [Ef 4.30], se nos proíbe a que entristeçamos o Espírito de Deus pelo qual fomos selados para o dia de nossa redenção. Mas, já que pelos homens não se podia cumprir o que aí exige, do Senhor roga em favor dos tessalonicenses “que, na verdade, dignos os tenha de sua santa vocação e neles realize todo bom propósito de sua bondade e a obra da fé” [2Ts 1.11]. De igual modo, na Segunda Epístola aos Coríntios, tratando das esmolas, amiúde lhes recomenda a boa e pia vontade [2Co 8.11]; pouco depois, entretanto, rende graças a Deus, “que pôs no coração de Tito que mantivesse exortação nesse sentido” [2Co 8.16]. Com efeito, se nem pôde Tito exercer o uso da boca em exortar aos outros, senão até onde Deus lho proporcionou, como haveriam outros de estar afeitos a agir a não que o próprio Deus lhes dirigisse o coração?

João Calvino