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domingo, 22 de julho de 2018

A LEI ESTÁ CANCELADA NO TOCANTE À MALDIÇÃO, NÃO A SEU MAGISTÉRIO


Portanto, visto que agora a lei tem em relação aos fiéis o poder de exortação, não aquele poder que ate suas consciências na maldição, mas aquele que, com instar repetidamente, lhes sacode a indolência e lhes espicaça a imperfeição, enquanto querem significar sua libertação da maldição, muitos dizem que a lei (continuo falando da Lei Moral) foi suprimida aos fiéis, não significando que não mais lhes ordene o que é reto, mas somente que não mais lhes é o que lhes era antes, isto é, que não mais lhes condena e destrói a consciência, aterrando-as e confundindo-as. E, sem dúvida, Paulo não ensina obscuramente esse cancelamento da lei. Que esse cancelamento foi também pregado pelo Senhor, disso se evidencia o fato de que ele não refutou aquela opinião de que a lei teria sido abolida por ele, a não ser que essa idéia viesse a prevalecer entre os judeus. Como, porém, não poderia ela emergir ao acaso, sem qualquer pretexto, crê-se que ela se originou de uma falsa interpretação de sua doutrina, exatamente como quase todos os erros costumeiramente se arrimam na verdade. Nós, porém, para que não tropecemos na mesma pedra, distingamos acuradamente o que foi cancelado na lei e o que permanece firme até agora. Quando o Senhor testifica que não viera para abolir a lei, mas para cumpri-la, até que se passem o céu e a terra não deixaria fora da lei um til sem que tudo se cumpra [Mt 5.17, 18], confirma ele sobejamente que, por sua vinda, nada seria detraído da observância da lei. E com razão, uma vez que ele veio antes para este fim, a saber, para que lhe remediasse às transgressões. Por parte de Cristo, portanto, permanece inviolável o ensino da lei, a qual, instruindo, exortando, reprovando, corrigindo, nos plasma e prepara para toda obra boa.

João Calvino