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segunda-feira, 30 de julho de 2018

O TERCEIRO MANDAMENTO

“NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR, TEU DEUS, EM VÃO” [EX 20.7]

TEOR E APLICAÇÃO DO TERCEIRO MANDAMENTO


A finalidade do mandamento é que Deus quer que a majestade de seu nome nos seja sacrossanta. Logo, a suma será que não a profanemos tratando-o com menosprezo e irreverentemente. A esta injunção restritiva corresponde, em paralelo, o preceito positivo de que nos empenhemos e preocupemos em buscá-la com religiosa reverência. Dessa forma, assim nos convém estar dispostos no pensar e no falar que nada pensemos ou falemos acerca do próprio Deus e de seus mistérios, a não ser reverentemente e com muita sobriedade, de sorte que, em estimando-lhe as obras, nada concebamos a não ser o que lhe é honroso. Estes três pontos, insisto, importa observar não negligentemente: primeiro, que tudo quanto a mente concebe a seu respeito, tudo quanto a língua profere, saiba sua excelência e corresponda à sagrada sublimidade de seu nome, afinal, seja adequado a enaltecer-lhe a magnificência. Segundo, não abusemos, temerária e pervertidamente, de sua santa Palavra e de seus venerandos mistérios, seja a serviço da ambição, seja a serviço da avareza, seja a serviço de nossos divertimentos. Pelo contrário, uma vez que trazem impressa em si a dignidade de seu nome, tenham sempre entre nós sua honra e apreço. Finalmente, não lhe difamemos ou desacreditemos as obras, como contra ele costumam injuriosamente vociferar homens miseráveis; ao contrário, tudo quanto rememoramos como feito por ele, celebremo-lo com os louvores de sabedoria, de justiça e de bondade. Nisto consiste santificar o nome de Deus. Quando se procede de outra maneira, de vão e ímpio abuso se polui ele, porque é subtraído do uso legítimo a que unicamente fora consagrado, e, ainda que em nada mais seja despojado, entretanto de sua dignidade se torna desprezível aos poucos. Ora, se tanto há de mal nesta temerária propensão de abusar improcedentemente do nome divino, muito mais nisto, se a nefários usos se confere, como aqueles que o fazem servir às superstições da necromancia, às imprecações execráveis, aos exorcismos ilícitos e a outros ímpios encantamentos. Mas, neste mandamento se tem em conta, acima de tudo, o juramento, em que é sobremodo detestável o uso pervertido do nome divino, para que daí melhor nos atemorizemos de toda profanação dele, sob qualquer forma. Entretanto, aqui se trata antes do culto de Deus e da reverência de seu nome, contudo não da eqüidade que se deve cultivar entre os homens, daí se evidencia que, em seguida, condenará na segunda tábua o perjúrio e o falso testemunho, com que é agravada a sociedade humana. Ora, seria supérflua repetição se este mandamento tratasse do dever da caridade. Já a própria divisão dos mandamentos também postula isto, porque, como já se disse, não sem razão Deus atribui duas tábuas à sua lei. Donde se conclui que Deus está aqui reivindicando para si este seu direito e preservando a santidade de seu nome, não, porém, a ensinar o que os homens devam aos homens.

João Calvino