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quinta-feira, 19 de julho de 2018

EM CRISTO, O MEDIADOR, SÃO POLARIZADAS AS PROMESSAS DE LIVRAMENTO DA ANTIGA DISPENSAÇÃO


Ademais, onde em circunstâncias aflitivas se promete consolação, de modo especial onde se descreve o livramento da Igreja, em Cristo mesmo se firma o estandarte da confiança e da esperança. Com seu Messias, saiu Deus para o livramento de seu povo, diz Habacuque [3.13]. E quantas vezes se fazem menções nos profetas acerca da restauração da igreja, conclamam eles o povo à promessa feita a Davi referente à perpetuidade do reino. Nem é de admirar, porque, de outro modo, não teria havido nenhuma estabilidade do Pacto! Ao que é pertinente aquela insigne predição de Isaías, pois como visse que era repudiado pelo incrédulo rei Acaz o que testificara sobre o levantamento do cerco de Jerusalém e seu presente livramento, como que abruptamente passa para o Messias: “Eis a virgem conceberá e dará à luz um filho” [Is 7.14], indicando indiretamente que, embora, por sua depravação, o rei e o povo rejeitassem a promessa que lhes era oferecida, como se de propósito se lançassem a abalar a fidedignidade de Deus, no entanto o Pacto não haveria de vir a ser nulo, assim que não viesse, a seu tempo, o Redentor. Após tudo, para que mostrassem um Deus compassivo, todos os profetas tiveram cuidadoem sempre projetar à vista aquele reino de Davi de que dependia não só a redenção, mas também a salvação eterna. Assim Isaías: “Estabelecerei convosco um pacto, as fiéis misericórdias de Davi; eis que o dei por testemunha aos povos” [Is 55.3, 4]. Isto é, mesmo nas circunstâncias desesperadas, os fiéis não podiam de outro modo ter esperança de que Deus lhes haveria de ser propício, a não ser que fosse interposta essa testemunha. Da mesma forma, Jeremias, a fim de levantar o ânimo aos desesperados: “Eis”, diz ele, “vêm dias nos quais suscitarei um renovo justo de Davi, e então Judá será salvo e Israel habitará em segurança” [Jr 23.5, 6]. Também Ezequiel: “Suscitarei sobre minhas ovelhas um pastor, a saber, Davi, meu servo. eu, o Senhor, lhes serei por Deus e meu servo Davi, por pastor, e firmarei com eles uma aliança de paz” [Ez 34.23-25]. De igual modo, em outro lugar, depois de dissertar acerca de sua incrível renovação: “Meu servo Davi”, diz ele, “lhes será rei e sobre todos será o pastor único, e firmarei com eles um pacto eterno de paz” [Ez 34.24, 26]. Estou a respigar umas poucas dentre muitas passagens, porque apenas desejo que os leitores sejam avisados de que a esperança de todos os piedosos não foi jamais depositada em outra parte fora de Crisro. Fazem coro também todos os outros profetas. Assim se diz em Oséias: “Congregar-se-ão, à uma, os filhos de Judá e os filhos de Israel, e porão sobre si um cabeça único” [Os 1.1], o que depois explica, mais claramente: “Retornarão os filhos de Israel e buscarão ao Senhor, seu Deus, e a Davi, seu rei” [Os 3.5]. Também Miquéias, discorrendo acerca do retorno do povo, exprime-o claramente: “Passará diante deles o rei, e à cabeça deles, o Senhor” [Mq 2.13]. Assim Amós, visando à promessa de restauração do povo: “Reerguerei”, diz ele, “naquele dia a tenda de Davi, que está caída, e repararei as brechas, e lhe soerguirei as ruínas” [Am 9.11], sem dúvida porque era aquele o estandarte único da salvação: erguer ao alto outra vez a glória real na família de Davi, o que se cumpriu em Cristo. Também Zacarias, assim como estava mais próximo do tempo da manifestação de Cristo, mais incisivamente proclama: “Alegra-te, ó filha de Sião; jubila, ó filha de Jerusalém; eis teu rei vem a ti, justo e vestido de salvação” [Zc 9.9]. Isto está em conformidade com a passagem do Salmo citada anteriormente: “O Senhor é o poder das salvações de seu Cristo; salva, ó Senhor” [Sl 28.8-9], onde a salvação se estende da Cabeça a todo o corpo.


João Calvino