Mais tarde Paulo é conduzido preso a Roma [At 28.16]. Lucas narra [At 28.15]
que ele foi recebido pelos irmãos; quanto a Pedro, nada se menciona. Dali escreve a
muitas igrejas. Em alguma parte das epístolas daí escritas também envia saudações
em nome de outras pessoas; não diz uma palavra sequer que indique que Pedro
então esteve ali. Pergunto, pois, quem acreditará que podia guardar silêncio, se Pedro
estivesse ali presente? Mais ainda, na Epístola aos Filipenses, onde disse que
ninguém cuida tão fielmente da obra do Senhor como o faz Timóteo, se queixa de
que todos buscam o que é seu [Fp 2.19-21]. E ao próprio Timóteo ele expressa a
queixa com mais gravidade: que ninguém esteve presente em sua primeira defesa;
ao contrário, todos o desampararam inteiramente [2Tm 4.16]. Portanto, onde Pedro
estava então? Ora, se dizem que ele estava em Roma, quão terrível ignomínia Paulo
lhe imprime: que ele foi desertor do evangelho! Certamente que ele está falando de
fiéis, porque acrescenta: “que Deus não lhes impute isso” [2Tm 4.16].
Por quanto tempo, pois, e em que época ocupou Pedro essa sé? Dirão, porém,
que é constante a opinião dos escritores de haver ele governado essa igreja até a
morte. Entretanto, entre esses mesmos escritores não está solidamente estabelecido
quem foi seu sucessor, pois alguns afirmam ter sido Lino, e outros que foi Clemente.
E narram muitas estórias absurdas acerca da disputa havida entre ele e Simão
Mago. Tampouco dissimula Agostinho, disputando a respeito das superstições, de
uma opinião inconsideradamente concebida de que se implantara em Roma o costume
de que não jejuassem nesse dia em que Pedro vencera Simão Mago. Afinal, as
coisas desse tempo são a tal ponto enredilhadas em uma variedade de opiniões, que
não se deve dar fé inconsideradamente, quando lemos algo escrito. E no entanto, em
razão deste consenso dos escritores, não discordo que ele tenha morrido aí; mas que
ele foi bispo, especialmente por longo tempo, não há como me persuadir. Tampouco
me preocupo muito com o fato de Paulo haver atestado que o apostolado de Pedro
pertenceu peculiarmente aos judeus, enquanto que o seu pertenceu a nós [Gl 2.7, 8].
Conseqüentemente, para que aquele pacto que foi firmado entre eles [Gl 2.9] se cumprisse em relação a nós, aliás, para que a ordenança do Espírito Santo se firmasse
entre nós, nos convém atentar mais para o apostolado de Paulo que de Pedro,
porquanto de tal modo o Espírito Santo dividiu entre eles as províncias, que Pedro
se destinasse aos judeus, e Paulo, a nós. Agora, pois, que os romanistas busquem
seu primado em outra parte além da Palavra de Deus, na qual não encontrarão nenhum
fundamento.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32