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terça-feira, 27 de novembro de 2018

LIMITAÇÕES JURISDICIONAIS EXPRESSAS DE GREGÓRIO COMO PONTÍFICE ROMANO; MAS, AINDA ASSIM, DEPLORA O ÔNUS ADMINISTRATIVO QUE O SOBRECARREGA

Este, pois, foi então todo o poder do bispo romano: opor-se às cabeças obstinadas e refratárias, onde se fazia necessário algum remédio extraordinário, e isto para que ajudasse a outros bispos, não para que lhes criasse estorvo. Assim sendo, não assume para si nada mais, em relação aos outros do que a todos; em outro lugar, concede em relação a si mesmo, quando confessa estar preparado para ser por todos corrigido, para ser por todos emendado. Assim, em outro lugar, de fato ordena ao bispo de Aquiléia que venha a Roma para pleitear sua causa em uma controvérsia de fé que surgira entre ele e outros. Entretanto não ordena, de seu próprio poder, mas porque isso determinara o Imperador. Nem se proclama haver de ser o único juiz; ao contrário, promete haver de congregar um sínodo pelo qual fosse julgada toda a questão. Se bem que, no entanto, esta era ainda a moderação: que o poder da sé romana tivesse seus limites determinados; que não seria lícito exceder, e o próprio bispo romano não presidia sobre os outros mais do que ele mesmo está sujeito a eles. No entanto é patente o quanto situação dessa natureza desagradou a Gregório. De fato ele se queixa reiteradamente que, sob a condição do episcopado, fora reconduzido ao mundo e está mais envolvido em cuidados terrenos do que jamais esteve na vida leiga; que nessa honorificência está premido pelo tumulto de negócios seculares. Em outro lugar: “Tão grandes cargas de ocupações”, diz ele, “me forçam para baixo, que o ânimo de maneira nenhuma me arrebata às coisas supernas; me vejo sacudido por muitas ondas de causas; e depois daqueles ócios de quietude sou afligido pelas tempestades de uma vida tumultuosa; de sorte que, para o expressar corretamente, vim à profundeza do mar e a tempestade me submergiu.”87 Daqui ele colige o que haveria de ter dito se houvesse vivido nestes tempos atuais! O ofício de pastor, se não o preenchia, contudo o desempenhava. Abstinha-se do governo do império civil e se confessava sujeito ao Imperador, juntamente com os outros. Não se ingeria no cuidado de outras igrejas, exceto se coagido pela necessidade. E todavia sente como se estivesse em um labirinto, porque não pode entregar-se total e simplesmente ao ofício de bispo.

João Calvino