Eis a preclara vocação em função da qual os bispos se gabam de ser sucessores
dos apóstolos. E dizem que compete somente a eles o direito de criar presbíteros.
Mas nisto corrompem mui perversamente a instituição antiga, porque mediante sua
ordenação criam não presbíteros, que rejam e alimentem o povo, mas sacerdotes,
que realizem sacrifícios. De igual modo, quando consagram diáconos, nada tratam
de seu ofício verdadeiro e próprio; antes, os ordenam apenas para determinadas
cerimônias referentes ao cálice e à patena.
No Concílio de Calcedônia, no entanto, foi sancionado em contrário que não se
façam ordenações “absolutas”, isto é, que aos ordenados se designe ao mesmo tempo
um lugar onde exerçam seu ofício. Este decreto é assaz útil por dupla razão:
primeiro, para que não se onere as igrejas com gasto supérfluo, e com homens ociosos
não se gaste o que deve ser distribuído aos pobres; segundo, que aqueles que
são ordenados ponderem que não estão sendo promovidos a uma honra, mas estão
recebendo um ofício a desempenhar, ao qual são obrigados por solene testificação.
Mas, os mestres romanistas, que pensam não dever cuidar de religião, senão do
ventre, primeiramente interpretam o título como uma renda que seja suficiente para
o sustento, quer seja de patrimônio próprio, quer do sacerdócio. Assim sendo, quando
ordenam a um diácono ou presbítero, não se preocupam onde devam ministrar;
conferem-lhes a ordem, contanto que sejam bastante ricos para sustentar a si próprios.
Quem dos homens, porém, aceite que o título que o decreto do concílio requer
seja o provento anual para sustento?
Dessa forma, como os cânones que foram feitos depois condenavam aos bispos
a manter aos que fossem ordenados sem título suficiente, para corrigir a excessiva
facilidade em receber a todos os que se apresentavam, inventaram um novo subterfúgio
para evitar o perigo; pois aquele que é ordenado, não importa com que título
é nomeado, promete haver-se de contentar com esse. Mediante esse acordo, ele é
barrado do direito de mover ação contra o bispo em matéria de sustento.
Omito infinidades de fraudes que aqui ocorrem, como quando uns mentem com
títulos fúteis de sacerdócios, dos quais não podem auferir cinco asses por ano; outros,
sob ajuste secreto, recebem sacerdócios por empréstimo, que prometem haver
de devolver de pronto, mas por vezes não devolvem. E outros mistérios desse gênero.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32