Mas ainda que a respeito de Pedro eu lhes conceda o que defendem, isto é, haver
ele sido o príncipe dos apóstolos, e que foi superior em dignidade aos demais, contudo
não é motivo para que, de um exemplo singular, façam uma regra universal, e
o que foi feito uma vez transponham à perpetuidade, quando a situação é bem diversa.
Um foi supremo entre os apóstolos, seguramente porque eram poucos em número.
Se um presidiu a doze homens, em razão disso porventura se seguirá que um
deva ser o guia de cem mil homens? Que doze tivessem entre si um que liderasse a
todos, que surpreende nisso? Ora, a natureza admite tal coisa, o engenho dos homens
exige que em qualquer assembléia, ainda que sejam todos iguais em poder,
contudo um seja como que o moderador, em relação ao qual os outros voltem sua
atenção. Nenhuma reunião senatorial existe sem o cônsul; nenhuma sessão de juízes,
sem o pretor, ou questor; corporação nenhuma, sem seu presidente; nenhuma
sociedade, sem seu chefe. Assim sendo, não haveria absurdo algum se confessássemos
que os apóstolos deferiram a Pedro tal primado. Mas o que tem lugar respectivo
a um número pequeno não pode tornar-se extensivo a todo o mundo, ao qual é
impossível que um só homem governe. Com efeito, dizem eles, isso tem lugar não menos na totalidade da natureza, do
que em suas partes, uma a uma: que haja um cabeça supremo de todas as coisas. E
em confirmação trazem o exemplo do grou e das abelhas, que para si sempre escolhem
um único chefe, não muitos. Certamente que admito os exemplos que trazem
a lume; mas porventura as abelhas se congregam de todo o orbe para eleger um só
rei? Cada rei está contente com sua colméia. Assim se dá também com os grous:
cada bando tem seu próprio rei. Que outra coisa daí conseguirão senão que a cada
igreja se deve atribuir seu bispo?
A seguir nos conclamam a exemplos civis: citam aquele verso homérico: – Não é bom o governo de muitos]
e o que, no mesmo sentido, em enaltecimento da monarquia se diz em escritores
profanos. A resposta é fácil, pois não é neste sentido, quer por Ulisses homérico, ou
pelos outros, que a monarquia é louvada, como se um só deva reger em soberania a
todo o orbe; antes, querem indicar que dois não podem assumir um reino, e que o
poder, como diz aquele, não pode suportar parceria.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32