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terça-feira, 27 de novembro de 2018

O IMPERADOR FOCAS, FINALMENTE, CONFERE O PRIMADO À SÉ ROMANA, NO TEMPO DO PAPA BONIFÁCIO III, PEPINO, O BREVE, E CARLOS MAGNO, SELANDO-LHE, POR FIM, A COBIÇADA SUPREMACIA

Finalmente Focas, que assassinou a Maurício e usurpou seu lugar (não sei por que se fez mais amigo dos romanos, talvez porque aí fora coroado sem disputa), concedeu a Bonifácio III o que Gregório de modo algum reivindicava: que Roma fosse a cabeça de todas as igrejas. E assim a controvérsia foi dirimida. Todavia, este benefício do imperador não teria sido tão proveitoso à sé romana, não fora que depois lhe fossem acrescentadas outras coisas. Pois a Grécia e toda a Ásia foram pouco depois apartadas de sua comunhão. A Gália de tal modo a reverenciava, que não lhe obedecia se não lhe fosse conveniente. Quando Pepino ocupou o trono, então, antes de tudo, ela foi reduzida à servidão. Ora, como Zacarias, o pontífice romano, ao associar-se a ele em sua perfídia e latrocínio, destronado o legítimo rei, arrebatasse o reino como se fora algo abandonado à presa, em recompensa de seu serviço obteve que as igrejas da Franca se submetessem à romana. Da mesma forma como costumam os salteadores, quando dividem o despojo comum, assim estes bons varões dispuseram entre si que de fato a Pepino coubesse o domínio terreno e civil; uma vez espoliado o verdadeiro rei, Zacarias, porém, se fizesse o cabeça de todos os bispos e tivesse o poder espiritual, poder que, embora fosse fraco de início, como costuma acontecer em coisas novas, a seguir foi reforçado pela autoridade de Carlos Magno, por uma causa quase semelhante, pois também ele próprio estava em obrigação para com o pontífice romano, porque havia chegado à honra do Império por esforço deste. Mas ainda que seja possível que as igrejas estivessem já, em todas as partes, bem debilitadas, por certo que se sabe, não obstante, que então se perdeu definitivamente na França e Alemanha a antiga forma da Igreja. Ainda hoje existe nos arquivos do Parlamento de Paris uma breve história daqueles tempos, que ao tratar dos assuntos eclesiásticos faz menção dos acordos que Pepino e Carlos Magno fizeram com o pontífice romano. Disto se pode deduzir que então se mudou a antiga forma da Igreja.

João Calvino