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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

É MUITO INCERTO SE PEDRO DE FATO ESTEVE EM ROMA, MENOS AINDA QUE FOI SEU BISPO

Não vejo, porém, se deva dar algum crédito a sua alegação de que Pedro ocupou a sé romana. Certamente que, o que está em Eusébio – que ele aí presidira vinte e cinco anos –, isso se refuta com nenhuma dificuldade. Pois à luz do primeiro e segundo capítulo da Epístola aos Gálatas se faz evidente que ele esteve em Jerusalém cerca de vinte anos, desde a morte de Cristo; em seguida, que foi para Antioquia, onde por quanto tempo permaneceu é incerto. Gregório conta sete; Eusébio, porém, vinte e cinco anos. Mas, desde a morte de Cristo até o fim do império de Nero, sob quem afirmam haver ele sido morto, se acharão apenas trinta e sete anos. Ora, o Senhor padeceu sob Tibério, no décimo oitavo ano de seu império. Se forem deduzidos vinte anos, durante os quais Paulo é testemunha de que Pedro habitava em Jerusalém, restarão dezessete no máximo, os quais têm de ser agora repartidos entre os dois episcopados. Se ele morou em Antioquia por longo tempo, então não pôde ter sé em Roma, senão por bem pouco tempo. Isto mesmo é possível demonstrar ainda mais claramente. Paulo escreveu aos romanos de caminho [Rm 15.25], quando estaria de viagem para Jerusalém, onde foi aprisionado e conduzido a Roma. Portanto, é verossímel que esta Epístola fosse escrita no quadriênio antes que o Apóstolo viesse a Roma. Aí não se faz nenhuma menção de Pedro, a qual de modo algum poderia ser omitida, caso houvesse ele regido essa igreja. Além disso, no final da Epístola [Rm 16.3-16], enquanto recita longo catálogo dos piedosos a quem solicita sejam enviadas saudações, de fato onde cataloga todos os seus conhecidos, ele mantém total silêncio a respeito de Pedro. Nem aqui se faz necessário uma longa ou sutil demonstração entre os homens de juízo mais íntegro, pois o próprio fato, e todo o argumento da Epístola, argumentam que ele não poderia preterir a Pedro, caso estivesse em Roma.

João Calvino