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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O EXTREMO DOS ABSURDOS: PLURALIDADE DE BENEFÍCIOS ACUMULADOS POR UM MESMO BENEFICIÁRIO

Porventura, até esse ponto haveria jamais avançado o desbragamento do povo, por mais corrupto e fora de lei? Mas este é um portento ainda maior: que um só homem, não digo de que espécie, certamente um que a si próprio não se pode dirigir, é designado a governar a cinco ou seis igrejas! Hoje se pode ver nas cortes dos príncipes adolescentes três vezes abades, duas vezes bispos, uma vez arcebispos. De fato, a cada passo há membros do cabido encarregados de cinco, seis, sete sacerdócios, dos quais não têm absolutamente nenhum cuidado, a não ser em receber seu provento. Não objetarei que a Palavra de Deus por toda parte brada em contrário, pois desde muito entre eles ela já deixou de ter um mínimo sequer de importância; não objetarei que contra esta improbidade muitas sanções severíssimas foram feitas em muitos concílios, uma vez que também desprezam estas vigorosamente, quantas vezes lhes apraz. Afirmo, porém, que uma e outra dessas duas coisas é monstruosa abominação, que se contraponha totalmente a Deus, à natureza e ao regime eclesiástico: que um só usurpador se aproprie, a um só tempo, de muitas igrejas; que seja chamado pastor quem não possa estar presente a seu rebanho, ainda que o queira – e contudo quão tremenda é sua impudência! –, tão abominadas torpezas acobertam com o nome da Igreja, para que o eximam de toda repreensão! Mais ainda, se apraz a Deus, nestas iniqüidades se contém aquela sacrossanta sucessão por cujo mérito alardeiam ter-se feito com que a Igreja não pereça!

João Calvino