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terça-feira, 27 de novembro de 2018

GREGÓRIO, O GRANDE, CONTRAPONDO-SE A JOÃO, ARCEBISPO DE CONSTANTENOPLA, REPUDIA A IDÉIA DE UM BISPO UNIVERSAL COMO PROFANA, SACRÍLEGA, PRÓPRIA DOS TEMPOS DO ANTICRISTO

Quanto ao título de bispo universal, afinal a contenda surgiu no tempo de Gregório, a qual deu ocasião à ambição de João de Constantinopla. Ora, ele queria fazer-se bispo universal, o que nenhum outro jamais havia tentado. Nessa disputa Gregório não alega que se estava a detrair-lhe um direito que lhe competisse; ao contrário, protesta veementemente que essa designação era profana, mais ainda, sacrílega, até mesmo prenúncio do Anticristo. “De seu estado esboroa-se a Igreja inteira”, diz ele, “se cai aquele que se diz universal.” Em outro lugar: “Muito triste é suportar pacientemente que, desprezados todos, um nosso irmão e colega de episcopado se denomine o único bispo. Mas, neste orgulho seu, que outra coisa se assinala, senão que já estão próximos os tempos do Anticristo? Porquanto ele está obviamente a imitar aquele que, desprezada a sociedade dos anjos, tentou ascender à culminância da singularidade.” Em outro lugar, a Eulógio, bispo de Alexandria, e a Anastácio, bispo de Antioquia: “Nenhum de meus predecessores jamais quis usar este vocábulo profano, porquanto, evidentemente, se um é chamado patriarca universal, derroga-se aos demais o nome de patriarcas. Longe, porém, esteja isto da mente cristã: querer alguém arrogar isso para si, do quê diminua a honra de seus irmãos; por mínimo que ele seja.” Mais: “Consentir nesta expressão celerada outra coisa não é senão destruir a fé.” “Uma coisa é o que devemos fazer para conservar se a unidade da fé; outra, o que devemos fazer para reprimir-se a altivez dos soberbos. Eu, contudo, digo resolutamente que quem quer que se chame, ou deseje chamar-se sacerdote universal, em sua soberba, faz-se precursor do Anticristo, porque, ao dar rédeas à sua soberba, se põe adiante dos demais.” Da mesma forma, de novo, a Anastácio de Antioquia: “Eu disse que ele não pode ter paz conosco, a não ser que corrija a altivez de um vocávulo supersticioso e soberbo, que o primeiro apóstata inventou; e – ainda que eu me cale quanto à injúria contra a honra –, se um bispo é chamado universal, desmorona-se a Igreja universa, quando cai aquele bispo universo.” O que, porém, escreve quanto a haver esta honra sido oferecida a Leão no Concílio de Calcedônea, não contém qualquer aparência de verdadeiro, pois não se lê nada parecido nas atas daquele Concílio. E o próprio Leão, que em muitas epístolas impugna o decreto ali passado em honra da sé constantinopolitana, sem qualquer sombra de dúvida não teria deixado passar este argumento, que era de todos muitíssimo plausível, se fosse verdade que ele repudiou o que lhe era dado; e, homem de outra sorte mais do que bastante ávido de honra, não teria deliberadamente omitido o que lhe redundaria em louvor. Gregório, pois, está enganado nisto, porque pensou ser esse título conferido à sé romana pelo Concílio de Calcedônea (preferindo calar me quanto a ser ridículo o que testifica oriundo de um concílio santo e, ao mesmo tempo, o pronuncia celerado, profano, nefando, soberbo e sacrílego, na verdade engendrado pelo Diabo e publicado pelo arauto do Anticristo). E, todavia, ele adiciona que seu predecessor o havia recusado, para que, enquanto algo se desse a um, particularmente, privados da devida honra não fossem todos os demais sacerdotes. Em outro lugar: “Nenhum bispo jamais quis ser chamado por expressão tal; nenhum para si arrebatou este nome temerário, para que, se em grau de pontificado arrebatasse para si a glória da singularidade, não parecesse haver negado esta a todos os irmãos.”

João Calvino