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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A FÉ IMPLÍCITA É A CERTEZA DA PERSEVERANÇA FINAL DOS SANTOS

E para que não tentem demolir a firmeza da fé apenas de uma só posição estabelecida, atacam-na de outra parte, isto é, embora, segundo o presente estado de nossa justiça, seja possível ajuizar da graça de Deus, no entanto permanece em suspenso o conhecimento da perseverança final. Admirável segurança, de fato, nos é deixada se, no presente momento, só pudéssemos julgar à base de conjetura moral de que estamos na graça, porém não soubéssemos como estaremos amanhã! O Apóstolo afirma algo muito diferente: “Estou profundamente persuadido”, diz ele, “de que nem os anjos, nem as potestades, nem os principados, nem a morte, nem a vida, nem as coisas presentes, nem as futuras nos separarão do amor com que o Senhor nos abraça em Cristo” [Rm 8.38, 39]. Tentam safar-se com uma solução frívola, tagarelando que o Apóstolo teve isso por meio de revelação especial. No entanto, estão demasiadamente premidos para que possam escapar. Porque na verdade ele está tratando ali das bênçãos que provêm da fé a todos os fiéis em comum, não das que pessoalmente experimenta em particular. Com efeito, insistem que o mesmo Paulo, em outro lugar, nos atemoriza com a menção de nossa fraqueza e inconstância: “Quem está de pé”, diz ele, “veja que não caia” [1Co 10.12]. Isto é verdadeiro, todavia aqui não se trata de um temor que nos deixa consternados, mas para que aprendamos a humilhar-nos sob a poderosa mão de Deus, como Pedro o sentencia [1Pe 5.6]. Além disso, quão temerário é limitar a certeza da fé a determinado ponto do tempo, quando é qualidade própria dela superar a presente vida e chegar à imortalidade! Portanto, quando os fiéis levam isto em favor da graça de Deus, que, iluminados por seu Espírito, mediante a fé, desfrutam da contemplação da vida celestial, tão longe está desse gênero de arrogância gloriar-se que, se alguém se envergonha de confessá-lo, nisto mais revela extrema ingratidão, suprimindo impiamente a bondade de Deus, do que comprove modéstia ou submissão.

João Calvino