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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

TÍTULOS COM QUE SE DESIGNA O ESPÍRITO SANTO NA BÍBLIA

E aqui convirá notar com que títulos a Escritura adorna o Espírito, onde se trata do inicio e de todo o curso de implantação de nossa salvação. Ele é, em primeiro lugar, chamado o Espírito de Adoção, porque nos é testemunha da benevolência gratuita de Deus, com que o Pai nos tem abraçado no dileto Unigênito, para que nos fosse por Pai, e nos anima à confiança de orar, até mesmo dita as palavras, para que clamemos sem temor: “Abba, Pai” [Rm 8.15; Gl 4.6]. Pela mesma razão, é chamado Penhor e Selo de Nossa Herança [2Co 1.22; Ef 1.13, 14], porque a nós, peregrinos no mundo e semelhantes a mortos, assim do céu nos vivifica, para que estejamos certos de que sob a fiel custódia de Deus em segurança nos está a salvação. Donde também lermos que vida é por causa da justiça [Rm 8.10]. Uma vez que, porém, por sua secreta aspersão nos fecunda para que despontem os renovos da Justiça, é freqüentemente chamado água, como em Isaías: “Vinde às águas, todos os que estais sedentos” [Is 55.1]. Igualmente: “Derramarei meu Espírito sobre o que está sedento e correntes de água sobre a terra seca” [Is 44.3]. Palavras com as quais concorda a afirmação de Cristo que mencionei pouco antes: “Se alguém tem sede, venha a mim” [Jo 7.37]. Contudo, por vezes é assim designado em virtude do poder de purificar e de limpar, como Ezequiel, quando o Senhor promete águas limpas com as quais lave a seu povo de sua sordidez [Ez 38.25]. Visto, porém, ele restaurar e nutrir o vigor da vida aos banhados pelo eflúvio de sua graça, daí o nome de óleo e de unção [1Jo 2.20, 27]. Por outro lado, visto que persistentemente coze e queima as depravações de nossa concupiscência, nos incendeia o coração do amor de Deus e do zelo da piedade, também deste efeito com razão se chama fogo [Lc 3.16]. Finalmente, ele nos é descrito como que a fonte [Jo 4.14] donde nos emanam todas as riquezas celestes; ou a mão de Deus [At 11.21] pela qual exerce sua soberania; porquanto, pela inspiração de seu poder, assim nos instila a vida divina, para que não mais sejamos guiados por nós mesmos, porém regidos por sua ação e impulso; de maneira que, se em nós há algum bem, seja o mesmo fruto de sua graça; sem ele, porém, nossas capacidades serão trevas de entendimento e perversidade de coração. Isto, na verdade, já foi claramente exposto: até que nossas mentes tenham sido polarizadas no Espírito, pode-se dizer que Cristo jaz ocioso, por isso que o miramos friamente fora de nós, até mesmo longe de nós. Sabemos, porém, que Cristo é de nenhum proveito para outros, senão somente para aqueles dos quais é ele “a cabeça” [Ef.4.15] e o “primogênito entre irmãos” [Rm 8.29], aos que, afinal, “dele se vestiram” [Gl 3.27]. Somente esta união faz com que, até onde nos concerne, não tenha ele vindo inutilmente com o nome de Salvador. A isso confirma esse sagrado matrimônio pelo qual somos feitos carne de sua carne e ossos de seus ossos, de fato, um com ele. Mas Cristo conosco se une somente pelo Espírito. Pela graça e poder do mesmo Espírito somos feitos membros seus [Ef 5.30], para que nos mantenha sob sua direção e, de nossa parte, o possuamos.


João Calvino