Total de visualizações de página

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

CRISTO, PROFETA E CULMINÂNCIA DAS PROFECIAS


Com efeito é preciso notar que o título Cristo diz respeito a estes três ofícios, pois sabemos que, sob a lei, foram ungidos com o óleo sagrado os profetas, os sacerdotes e os reis, respectivamente. Do que também foi imposto ao Mediador prometido o ilustre nome de “Messias”. Mas, embora eu reconheça haver Cristo sido chamado Messias com especial consideração e em razão do reino, entretanto, como também mostrei em outro lugar, a unção profética e a unção sacerdotal conservam sua importância, e nem devem ser desprezadas. Da primeira dessas unções se faz menção expressa em Isaías [61.1, 2], nestas palavras: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim; por isso ungiu-me o Senhor, para que pregue aos mansos, traga remédio aos contritos de coração, proclame libertação aos cativos, publique o ano do beneplácito” etc. Vemo-lo sendo ungido pelo Espírito para que fosse arauto e testemunha da graça do Pai. Nem foi isso de maneira comum, visto que ele se distingue dos demais mestres, cujo ofício era semelhante. E aqui, por outro lado, deve notar-se que ele recebeu a unção não só para si, para que desempenhasse as funções de ensinar, mas para todo o seu corpo, de sorte que na contínua pregação do evangelho se patenteie o poder do Espírito. Entretanto, isto permanece estabelecido: com esta perfeição da doutrina, que Cristo trouxe, pôs-se um fim a todas as profecias, de tal sorte que violam sua autoridade quantos, não contentes com o evangelho, o remendam de algo estranho. Ora, além da dignidade de todos, o adornou de singular privilégio aquela voz que estrondejou do céu: “Este é o meu Filho amado, ouvi-o” [Mt 17.5]. Ademais, esta unção se difundiu da própria Cabeça aos membros, como fora predito por Joel [2.28]: “Vossos filhos profetizarão e vossas filhas verão visões” etc. No entanto, o que diz Paulo, que ele nos foi dado por sabedoria [1Co 1.30], e em outro lugar que nele estiveram escondidos todos os tesouros do conhecimento e do saber [Cl 2.3], tem sentido um pouco diferente, isto é, fora dele nada há proveitoso de se conhecer, e todos quantos pela fé percebem o que ele é têm abraçado toda a imensidade das bênçãos celestiais. Razão por que escreve, em outro lugar: “Nada considerei valioso conhecer, exceto Jesus Cristo, e este crucificado” [1Co 2.2]. O que é muitíssimo verdadeiro, porquanto não é lícito ir além da simplicidade do evangelho. E a isto conduz a dignidade profética em Cristo: que saibamos estarem incluídos na suma de doutrina que ele ensinou todos os elementos da perfeita sabedoria.

João Calvino